Com os cotovelos flexionados, junto ao tronco, seguro você entre as duas
mãos, próximo ao peito, estendo os braços, rodo as palmas
das mãos para fora, e te impulsiono em direção ao peito
de alguém, que se cobre com as mesmas cores que eu, vestindo na alma
a mesma paixão que incendeia a minha.
O meu adeus é mais um até breve, pois corro para a frente, esgueirando-me
por entre a vigilância de olhares ávidos em te possuir, e com os
braços estendidos acima da cabeça, interrompo o teu voo,
recebendo-te com firmeza entre as mãos. Com os dedos afastadas, fletindo
e estendendo a mão, dirijo a tua trajetória ao chão, quicando-te
várias vezes numa área ao redor dos meus pés, sem ultrapassar
a altura da cintura. Não te olho, mas posso sentir e antever cada movimento
teu, orientado por mim, e fixo o olhar no adversário que se aproxima.
As minhas pernas fletem-se, restrinjo a altura da bola à dos meus joelhos,
e inclino levemente o corpo para a frente, colocando-o entre ti e quem te quer
roubar de mim. Perante a inevitável separação, estendo
as pernas num pulo, estendo os braços num impulso, e ao contato da palma
das mãos com as tuas formas arredondadas, mergulhadas no laranja que
te colore, te arremesso ao aconchego e cumplicidade de outras mãos. A
corrida se repete rumo ao campo do adversário. Após receber-te
de volta, respiro fundo, embebedo minha alma na intenção da mudança
do placar, flexiono as pernas e avanço ligeiramente o pé direito.
Mantenho-te junto ao peito, apoiada lateralmente pela mão esquerda, enquanto
a direita te toca na parte traseira inferior. Estendo sucessivamente as pernas
e o braço direito, e te arremesso, observando entre a expectativa e o
êxtase, o teu voo triunfal, até que atravessas o aro, e deslizas
majestosa por entre a rede.
É em momentos assim, no confronto corpo a corpo de corpos suados, na
busca de caminhos por entre passos largos e velozes, no ziguezague dos movimentos
que te transportam, na tentativa de te salvar dos braços e mãos
que se estendem para cortar a linha de passe... que se exacerba toda a minha
paixão, e me torno um tímido e modesto cúmplice de Oscar,
Magic Jonhson ou de Jordan, reverenciando James Naismith, o criador do enredo
em que o teu diálogo flui maravilhosamente, e Augusto Shaw, aquele que
te trouxe na bagagem, colocando a tua bandeira em solo brasileiro, ainda no
século retrasado, quando em 1896 criou o primeiro time masculino de basquete.
É em momentos assim, mesmo quando sentado no banco de reservas, quando
apenas os meus olhos e a camisa que visto tomam parte do balé em que
tu, com certeza, és as estrela, que o meu coração se entrega
a delírios de emoção, e a minha alma te abraça num
pacto de amor eterno.