A Garganta da Serpente
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Iom Kippur, o Conto

(Sarah D.A. Lynch)

Gunter estava quase sempre sozinho na lanchonete da faculdade, sentado num canto perto da janela. Ele abria um livro e ficava lá, tomando suco de laranja de canudinho. Às vezes conversava com amigos. Era uma rotina que nós, garotas, nunca perdíamos, porque Gunter era um espetáculo.

Aos 13 anos, Gunter havia feito vestibular de Engenharia na UFRGS, só para se divertir - e passou em primeiro lugar entre quase 2000 alunos. Como a lei brasileira não permitia que ele entrasse para a faculdade (afinal, ele nem terminara o ginásio, muito menos o colegial), apelou direto ao presidente da república, que lhe fez uma exceção. Agora com 16 anos, Gunter estava no terceiro ano de Engenharia, e era o chefe do departamento de computação da faculdade.

Ainda por cima, Gunter era lindo. Gunter, o Bonitão, a gente o chamava. Pálido, com pele branca como leite, enormes olhos azuis acinzentados e longos cílios, ele parecia estar sempre olhando através das pessoas, como se a gente fosse invisível ou completamente sem importância. Seu cabelo loiro pálido lhe caía até os ombros, rodeando seu rosto em ondas macias, como um halo de fios de luz. Gunter era um magnífico espécime.

"Ele nunca namorou ninguém" - afirmou Marisa, minha amiga da Faculdade de Direito. Ela sempre sabia da vida de todo mundo.

"É porque não encontrou a garota certa. Aposto que ele é bom de cama."

"Esqueça, Sara. Dizem que ele é gay."

"Bom - eu gosto dele. Aposto 50 pratas que ele vai pra cama comigo em uma semana."

"Nem morta!" - Ela riu, examinando-me da cabeça aos pés.

Aos 19 anos de idade, eu era magrinha e sem curvas, com um cabelo liso castanho-cor-de-rato caindo pelas costas até a cintura. Meu rosto era coberto de sardas, e, na maioria das vezes, eu usava uns óculos pequeninos, redondos, de armação prateada - muito mais práticos que as lentes de contato. Isto tudo, junto com meus jeans folgados e umas pesadas botas militares, definitivamente não me colocavam na categoria de glamorosa sedutora.

"Quanto tempo você disse que levava mesmo?"

"Uma semana."

"Fechado."

Apertamos as mãos para selar o pacto. Peguei minhas coisas e me dirigi à mesa de Gunter.

"Oi, Gunter, meu nome é Sara."

"Oi, Sara. Meu nome é Gunter. Muito prazer." Daí ele meteu a cara no livro outra vez. Estendi o braço, peguei o livro e o coloquei em cima da mesa.

"Gunter" - disse eu, puxando uma cadeira e sentando na frente dele - "Eu gosto de você. Penso em cavalgadas em meio às silenciosas árvores da Bavária, quando você passa. Você é belo como Siegfried."

Os olhos dele sorriram. Dobrou as mãos sobre a mesa - ele tinha mãos grandes e fortes, com dedos quadrados e unhas bem cuidadas.

"Você é uma guria estranha, Sara. Já foi à Bavária?"

"Sim, fui, em meus sonhos da noite, quando Siegfried me pega pela mão e seguimos juntos os sons da floresta e dos rios. Ele é parecido com você, e fazemos amor sob os pinheirais. Você faria amor comigo, Gunter?

Ele estendeu a mão sobre a mesa e pegou a minha. Sua mão era cálida e seca.
"Nunca fiz amor com ninguém, Sara."

"Por que? Você é gay?"

"Quer que lhe mostre?" - Ele sorriu. Tinha perfeitos dentes brancos.

"Quero."

Ele se levantou e me puxou pela mão. Caminhamos para a saída, e fiz o sinal de OK quando passei por Marisa.

O apartamento que Gunter dividia com mais dois estudantes era uma bagunça total. Só havia um quarto. Fizemos amor no chão do armário, deitados sobre o casaco dele. Gunter estava atrapalhado e ansioso, como o menino que era. E nós nos apaixonamos loucamente desde aquele momento.

No Brasil dos anos 60-70, computadores eram enormes monstros que tomavam um monte de espaço. Havia muito poucos, e ainda menos técnicos em computação. Mesmo num campo assim tão limitado, Gunter era um fenômeno e um gênio. Ele estava sempre dando palestras e seminários para professores, engenheiros e gente assim. Mas à noite, quando estávamos sozinhos, ele era só um garotinho de olhos arregalados que trepava como louco. Nos fins de semana, ele me levava nos seus seminários e palestras, ou eu o levava a concertos e ao teatro. Estávamos juntos há 6 meses quando a carta do pai dele chegou.

"Meu pai quer conhecer você" - anunciou ele no café da manhã.

"Por que? O que você contou pra ele?"

Eu não estava acostumada a que adultos quisessem me conhecer, a não ser na minha capacidade de fashion designer. Eu não gostava nem confiava neles. Minha boca grande e minhas roupas não conformistas invariavelmente resultavam em rechaça e desdém - mas elas eram meu escudo contra um mundo que me havia rejeitado. Elas me davam algo concreto pelo qual ser rejeitada, ao invés de minha hereditariedade e minha solidão.

"Claro que falei de você pra ele! Eu disse que ia me casar com você."

"Ficou biruta, cara. A gente é jovem demais!"

"E daí? Eu ganho mais do que ele, e você também não ganha lá muito pouco, não."

"Mas Gunter, eu não quero me casar agora, pelamordedeus!"

"Bom, a gente não pode continuar a viver deste jeito. Além disto, meu pai parece aprovar. A gente tá viajando sábado logo depois do café."

Ainda que estivesse irritada com o machismo dele, eu estava curiosa sobre o negócio todo, então concordei. O almoço de sábado nos encontrou sentados à mesa alegre da família, na pequena cidade de Guaíba, às margens do rio do mesmo nome.

O pai de Gunter era dono de uma casa mortuária. Ele era um cara grande, com um cacoete no olho direito, cabelo loiro grisalho e enormes mãos quadradas. Sua esposa e suas diversas filhas estavam sentadas nos dois lados da mesa, e Gunter e eu ficamos na outra ponta.

"Quer dizer que você é a namorada do meu filho, é? E qual é seu nome, guria?"

Eu disse.

"Como se chama a sua mãe?"

Eu disse.

"E seu pai?"

Também disse.

Daí ele deu uma palmada na sua perna gorda com aquela enorme mão carnuda, e riu alto.

"Uma guria alemã! Uma linda guria alemã! (Ele pronunciava "uma linta curia aleman".) "Estou orgulhoso do meu filho se casar com uma linda guria alemã!"

Eu me mexi desconfortavelmente na cadeira. Depois do almoço e da lavagem de pratos, o pai se levantou para ir no bar tomar cerveja.

"Vamos, Gunter. Deixe as mulheres jogar conversa fora."

"Nem morta" - disse a Gunter, entre os dentes. "Você me deixa aqui sozinha e eu juro que mato você."

"Olha, pai," - ele respondeu em voz alta - "acho que a gente vai ficar por aqui numa boa."

"Faça o que bem entender, guri, mas não vá se agarrar em saia, tá me ouvindo? A gente precisa se afirmar desde o início, enquanto há esperança. Doma a mulher enquanto é cedo, é o que digo. Hahahahaha!"

Ele saiu, e nós fomos para o quarto de dormir dos pais de Gunter. Ele era o segundo homem da casa: a mãe e as irmãs nem pensariam em questionar qualquer coisa que ele fizesse - mesmo que fosse se trancar no quarto dos pais com uma garota. Eu me sentei na cama enquanto ele tirava a roupa.

"Gunter, há quanto tempo seus pais moram no Brasil?"

"Eles saíram da Alemanha logo depois da guerra."

"Por que? Era tão ruim assim?"

"Bom… além do fato de que o país estava caindo aos pedaços, meu pai tinha outros problemas. Eles tinham que sair para sobreviver."

"E me diz só, por que cargas d´água eles tinham que sair?"

"Bom, a coisa é a seguinte: meu pai era oficial do exército, sabe, e se não saísse, ia ser morto."

"Ele estava na SS, Gunter? Ele por acaso é um daqueles caras que estão sendo caçados lá na Argentina agora mesmo?"

"Bom... É, mas olhe, não vá sair por aí falando sobre isso! Ele precisou mudar de nome e tudo, e todo mundo pensa que ele era um operário por lá."

"E ele queria saber o nome da minha mãe e do meu pai?!"

"Ele só queria se certificar que você é ariana, que droga! E daí?"

"E daí? Gunter, a gente não vive na Alemanha, meu. Isto aqui é o Brasil dos anos 70! Não me venha com essa porcaria de 'pureza racial' a esta altura dos acontecimentos!"

"Sara, não interessa onde a gente está. Ainda somos a classe dominante,viu? Você mesma disse, esqueceu? Sobre Siegfried e os filhos dos deuses?"

Ele estava parado no meio do quarto, com as mãos na cintura, sem camisa. Ao levantar o queixo, o sol brilhou em seu lindo cabelo, descendo pelos seus ombros largos, cintilando nos seus lindos olhos cinzentos, tão orgulhosos. Um filho dos deuses! E de repente eu fiquei com medo - e com raiva, porque estava com medo. Outra vez, nunca!"

"Aquilo era mitologia, cara. Não tem essa de raça dominante. Essa era a porcaria do Hitler."

Ele pegou nos meus ombros e me sacudiu.

"Cale a boca! Você nem sabe do que está falando!" Ele saiu do quarto com raiva. Eu peguei minha mochila e corri. Cheguei na estação de trem sem fôlego e apavorada. Sentei em cima da mochila e esperei pelo trem.

"Por que você fugiu?" Gunter me assustou e quase caí.

"Vá embora, Gunter."

"Por que? Eu amo você. Escute, esqueça meu pai, tá bom?" - implorou ele, grandes olhos cinzentos cheios de lágrimas. Virei-lhe as costas. Não queria que suas lágrimas me dobrassem.

"Gunter, eu sou judia."

"O que?"

Eu me voltei para encará-lo. Respirei fundo e exalei o ar vagarosamente.

"Eu disse, eu sou judia."

"Mas... mas e o seu nome?"

"Muitos membros da minha família mudaram de nome, como o seu pai. E muitas mulheres se casaram com goys, não judeus."

"Mas e esse seu rosto? Olhe a sua cara! Parece ariana!"

"Tenho um monte de sangue alemão, Gunter."

"Então não importa, tá vendo? Ninguém precisa saber. Venha, vamos voltar - por favor!"

Fiquei parada onde estava.

"O que você quer dizer com isso, que ninguém precisa saber?"

"Bom, não precisa contar pra ninguém. A gente continua como antes..."

"Gunter, não tem nada pra esconder, cara. Eu não tenho doença venérea, ou algo assim - eu sou judia."

Ele fez uma careta.

"Para de dizer isso!"

Voltei as costas e corri. Corri direto para a estrada, com Gunter me chamando. Peguei carona com um caminhão e voltei para Porto Alegre.

Na segunda feira de manhã, encontrei meus amigos na lanchonete da escola. Gunter entrou com uma garota alta, e os dois se sentaram na mesa dos amigos dele. Ele me lançou um olhar gelado e meu coração se afundou. Eles ficaram lá, conversando e rindo. Quando passei por eles na saída, ouvi uma voz perguntar:
"E a Sara, Gunter?"

"Ela é sweinerein."

Sujeira de porco. Meu sangue ferveu. Alguém mais disse sei lá o que e todos riram. Eu dei meia volta e parei bem na frente da cadeira de Gunter. Ele levantou os olhos e olhou através de mim. Dei uma bofetada na cara dele. Uma gota de sangue escorreu do canto de sua boca. Ele se levantou, olhos entrefechados de raiva.

"Judenswein!" - cuspiu ele entre os dentes.

Saí de cabeça levantada.

Porca judia. É, ele tinha toda razão. Porca judia. Mas não porque eu era judia - mas porque havia chafurdado no lodo - com ele.

Estás vendo, Adonai? Estás aí? Existe alguma saída, Adonai?

Mas os Céus não me responderam.
Quando escureceu, fui ao bar dos estudantes para tomar um porre. Uma voz me deu um susto:

"Qual é, guria? Você parece um cadáver."

Daniel estava no último ano da minha faculdade de Direito, e era o comentarista esportivo de um dos tablóides de Porto Alegre. Ele era alto e magro, com um maço despenteado de cachos ruivos em cima da cabeça. Usava uma barba desgrenhada e óculos na frente de penetrantes olhos escuros.

"Nem pergunte, Danny. Você não vai nem começar a entender"

"Experimente."

"Esqueça."

"Tudo bem, pô. Cadê o bonitão?"

"Ele me deu o fora."

"Bom, você deve ter merecido, guria. Seu gênio é fogo!"

"Vá pro inferno, Danny. Tô de porre."

"É, estou vendo." Ele se sentou à minha frente, atravessado na cadeira. Atrás dos óculos, seus penetrantes olhos pareciam divertidos. "Vamos lá, guria. Confie em mim."

"Foi aquele filho da mãe, Danny. Ele me chamou de porca judia."

"O que?"

"Ele me chamou de porca judia. Judenswein. Daí eu dei um tapão na cara dele. Ele ficou lá, com a boca sangrando."

"O filho da mãe!"

"Foi o que eu disse."

"E você é?"

"Sou o que? Uma porca?"

"Não, shmuck. Judia."

"É."

"Mmm… Pois é. Venha cá, guria."

Ele se levantou, e segui-o pela porta, para a rua escura, nossos passos ressoando alto no silêncio da noite. Ele parou na frente de um edifício caindo aos pedaços, que havia tido dias melhores há muito tempo atrás - há muitos e muitos anos atrás.

"Chegamos. Este é meu reino, guria."

"O que é aqui, então?"

"Meu jornal. Trabalhamos à noite, dormimos de dia"

Entramos. O editor estava sentado em uma escrivaninha, datilografando e aparentemente fumando um cigarro atrás do outro, pela maneira como o cinzeiro estava cheio.

"Oi, Danny, e aí, cara?"

"Oi, Seu Jonatan. Esta aqui é uma amiga minha. Ela é fashion designer na Casa das Sedas. Achei que o senhor ia se interessar."

"Mmmm."

"Ela namorava aquele gênio, Gunter Muller. Sabe - o guri que entrou na faculdade aos 13 anos há alguns anos atrás."

"Mmmmm."

"Ela terminou com ele hoje. Ele a chamou de Judenswein."

"O filho da mãe!"

"Foi o que eu disse" - murmurei. Ele se voltou em minha direção.

"E você fez o que, guria?"

"Dei um tapão na cara dele. Ele ficou com a boca sangrando."

"Bem feito! Dê as cartas a ela, Danny. Os desenhos precisam ficar prontos na sexta feira."

Ele voltou à máquina de escrever. Danny pegou um monte de cartas de dentro de uma gaveta e jogou nos meus braços.

"Tchau, Seu Jonatan."

"Tchau, Danny. Prazer em conhecê-la... Mmmm… qual é seu nome mesmo?"

"Sara."

"Bom, prazer em conhecê-la, Sara. Na sexta, viu?"

Caminhamos de volta aos dormitórios.

"Mas Danny, qual é essa? "

"Você acaba de ser contratada, guria. Coluna feminina, Jornal da Semana. Nossa desenhista e repórter saiu para se casar. Pensei que um pouco de grana ia cair bem. Sem falar no ânimo."

"Pô, obrigada, cara. Mas o sujeito realmente me contratou?"

"Claro."

"Mas ele não sabe nada sobre mim. Ele não sabe se sei escrever, não sabe nem mesmo se eu sei ler! Ele nem sabia meu nome!"

"Ele sabia o suficiente, guria."

"O que?"

"Você é Judenswein. Bem vinda a bordo, Sara."

Ele caminhou em direção ao dormitório masculino com seu passo solto. Eu segurei a pilha de cartas e fiquei ponderando.

O que queres comigo, Adonai?

Trabalhei no jornal pelo resto da minha estadia em Porto Alegre. Com o tempo, comecei a fazer não apenas a coluna feminina, mas a página toda. Graças ao apoio de Danny, depois de um ano e meio estava assinando artigos, o que me deu direito a um cartão de jornalista. Gunter e Siegfried viraram coisas do passado.

Mas era bem difícil ser escritora durante a ditadura militar. Nossos artigos precisavam estar prontos na noite de sexta feira, para passarem pela censura do DOPS. Muitas vezes o material voltava aleijado e irreconhecível, com palavras adicionadas que mudavam o significado do texto. Na maioria das vezes, a gente tinha vergonha de assinar um lixo daqueles. Os reacionários estavam em fúria - mas nada se podia fazer. Prisões e torturas, estupros e ameaças eram as únicas respostas que recebíamos. Um grande número de intelectuais, músicos e cientistas estavam saindo do país, tentando manter a liberdade, a vida e a sanidade. Alguns foram para os States, outros para a Argentina, outros para a Europa. Os poucos de nós que restaram - os muito jovens, como eu, e os que não tinham dinheiro - estavam lutando uma guerra perdida.

No começo de outubro, no meu segundo ano na equipe do jornal, cheguei na redação tarde da noite, e encontrei Danny sentado num canto, bebendo.

"Danny, você tá bêbado."

"Me conte outra, irmã. Sabe que dia é hoje?"

"Cara, não tenho a mínimo ideia. Com tanta prova na faculdade eu misturei tudo o que é data."

"Hoje é Iom Kippur, Sara. Você está arrependida de seus pecados?"

Sentei-me no chão ao seu lado.

"Me passe a garrafa, cara."

Bebemos em silêncio por algum tempo.

"Danny, por que não vai pra casa?"

"E você?"

"Eu não tenho casa, meu."

"Bom. Lá em casa todo mundo está batendo no peito e clamando por salvação... Eis-me aqui, Sara. Eis a minha salvação." Ele levantou o copo e deu um gole.

"Você acredita em D´us, Danny?"

"Tá brincando? Ou Ele nos esqueceu, ou está dormindo. Dê uma olhada em nós! É no que dá ser Povo Escolhido."

"E Jesus, Danny?"

"Jesus o que? Paz na terra aos homens de boa vontade? Você vê alguma paz? Eles tratam você com algum tipo de boa vontade?"

Bebemos até cairmos adormecidos no chão de madeira. Acordamos com o som do fax cuspindo notícias.

Durante a noite, enquanto dormíamos nosso sono de bêbados, os árabes haviam atacado Israel. O povo, bem no meio dos Feriados Santos, foi pego de surpresa. Era o maior derramamento de sangue dos 20 anos de História que Israel tinha. Eu me senti enojada.

Senhor, será que terias lutado por nós, se tivéssemos prestado atenção? Shemmah Israel...Ouve, Ò Israel. Nós não ouvimos, não é mesmo? Estávamos ocupados demais sentindo pena de nós mesmos...

Estávamos sentados no chão da sala de redação, com fax espalhado por todo lado. Quadros de horrores. Palavras impensáveis.

"Eu vou pra lá, Danny."

"O que?"

"Eu vou pra lá, Danny. Para Eretz Israel."

"Isso é meshugas, meu! É loucura!" Ele deu risada.

Durante os próximos três meses, entretanto, trabalhei feito louca me livrando das minhas poucas posses. No meio do mês de fevereiro, peguei carona com um avião da FAB e fui para o Rio de Janeiro. Minha primeira parada antes da Terra Prometida.

Pelo menos era o que eu pensava.

(Este texto recebeu primeiro lugar em um concurso de contos sobre Iom Kippur no jornal Jewish News em Sydney, Austrália, em 1997, na sua versão original em inglês, tendo sido enviado ao periódico por meu amigo australiano Paul Reti. Note-se que as regras do concurso exigiam textos de no máximo 20 linhas. O meu tinha 13 páginas. Sua publicação ocupou toda a edição de Iom Kippur do jornal, deixando espaço apenas para as propagandas. Acho que você perceberá, com a leitura, o que provocou tal atitude inusitada por parte dos editores.)

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