Rodolfo, sedutor inveterado, fascinado por moças bem mais jovens - muito,
muito jovenzinhas mesmo - inexplicavelmente, conquistou e deixou-se conquistar
por aquela mulher, digamos, mais experiente. A princípio, sentiu-se um
peixe de água doce. Logo ele, o Rodolfo, acostumado a gargantear, entre
amigos, as suas penúltimas conquistas. E a falar coisas desagradáveis,
do tipo: "Passou dos trinta, para mim é coroa!". Os invejosos,
sem limites, numa mistura de ódio e desdém, pensam, mas guardam
para si, sem lançar sobre Rodolfo a décima primeira praga do Egito:
" Pagarás com a língua a própria idade!"
Dito e feito. Mas este mundo tão sábio dá voltas mais sábias
ainda. E, meio injuriado com uma das mocinhas que roubara do berçário
da adolescência, deu de cara com Dália: uma mulher estonteante.
De pronto, ela lhe revelou seu tempo. Espanto! Quase teve um piripaque. Vontade
de xingar não lhe faltou. Se conteve. Dália era estonteantemente
envolvente. Aos poucos, foi convencendo-o a deixar aqueles amigos tolos e passou
a convidá-lo sempre para ouvir o último disco do Frank Sinatra
em seu apartamento. Rodolfo, incontinente, foi.
Ainda hoje, os amigos de Rodolfo estranham porque ele não repete com
a mesma insistência seu velho bordão: " Passou dos trinta,
para mim é coroa!" Não volta mais para sua casa, como antigamente,
e não bebe mais além do que uma segunda cerveja. Quase sempre
apressado, corre contra o tempo para chegar mais cedo aos braços de Dália.
O ritual é idílico: deita cúmplice, anoitece amante, acorda
guerreiro. A ninguém Rodolfo segredará o que existe entre ele
e Dália, principalmente quando as cortinas do apartamento, com o mesmo
ódio e desdém, se fecham para os curiosos da rua.