(Da série histórias adaptadas a realidade atual)
Era uma vez uma princesa encantada que vivia a beijar os sapos do brejo. Não
escolhia, achava, era sapo, tascava um beijo e esperava, esperava... Como sapos
são sapos e sempre serão, e esta história de virar principe
é mentira das histórias da infância, ela ficou marcando
passo e perdendo tempo à toa.
Até que um dia se aborreceu, caiu a ficha, pegou um sapo e levou pra
casa. Guardou bem guardadinho na banheira e reservou. Desceu as escadarias do
palácio, essa história é do tempo que palácios existiam,
foi pra saleta de costura, pegou uma linha vermelha - cor da paixão,
uma agulha bem grossa, uma tirinha de papel, um lápis, sentou a mesa,
escreveu o nome do lacaio mais bonito do rei, seu pai. Subiu as escadarias novamente.
Aí a coitada já estava arfante! Era uma princesa desacostumada
de exercícios físicos. Não fazia nem Pilates.
Pegou o sapo pelos colarinhos, era um sapo de vestimenta nobre, um verdadeiro
cavalheiro nos trajes, abriu a boca do bicho, jogou a tirinha de papel com o
nome do escolhido dentro da goela do pobre. E, sem dó e nem piedade,
costurou a boca do sapo para que ele não contasse o seu segredo e nem
mostrasse a tirinha pra ninguém. Toda a corte daqui destas bandas sabe
o quanto os sapos são fofoqueiros e falastrões.
Saiu, pé ante pé, sem fazer barulho, e jogou o sapo no brejo
novamente. Virou e nem olhou pra tras. Retornou ao palácio e a sua vidinha
triste de princesa sem namorado.
Agora ela possuia uma esperança. Quem sabe o feitiço, passado
de rainha a princesa por longos séculos, não funcionasse? Quem
sabe o lacaio, formoso, ombros largos, apetitoso aos olhos de todas as moças
casadouras do reino, não se apaixonasse por ela?
Não era nenhum principe, verdade, mas pra quem estava quase que fadada
a casar com um sapo, qualquer melhora era lucro grande.
Parece que depois disso a coitada ensandeceu de vez.
Uns dizem que foi rebaixada de princesa a bruxa oficial do reino, perdeu os
dentes, ganhou verrugas e uma vassoura última geração,
com um motor de fazer inveja a fórmula um.
Outros dizem que, como o lacaio não se mancou e continuou ignorando
solenemente a coitada, a mesma mandou que lhe decepassem a cabeça sem
anestesia nem nada.
Há ainda uma corrente que diz que a pobre ficou solteirona e começou
a se meter na vida de todo o mundo ao redor. Falava da vida alheia que era uma
beleza. Cascudava sobrinhos, implicava com todos os sapos do reino, e vivia
a vociferar contra tudo e todos.
Mas a verdade, a verdade mesmo, verdadeira, é que ela desistiu de ser
princesa, fugiu do reino encantado, veio morar em Copacabana e, todas as noites
é vista no calçadão com a sua bolsinha amarela e sua mini
saia, e escolhe o principe que bem entender pra lhe contar histórias
pela noite a dentro.
Depois que mudou de vida descobriu que a gente pode ser feliz pra sempre, é
só mudar o rumo da história.
E quem quizer que conte outra...