Dona Alzira morava naquela rua havia muitos anos. Era uma doce senhora, contanto
que não pisassem nas margaridas que plantara rente à muretinha
antiga; uma cerquinha modesta, mas condizente com as noites tranquilas
do lugar. A paixão da velhinha era um gato gordo de muitos anos de casa.
Um bichano cinzento de olhos amarelos que, como Dona Alzira, dormia a tarde
inteira.
As coisas seguiam assim, adequadas às vidinhas simples dela e do bicho,
ambos desobrigados de possuir algum propósito.
Mas um dia apareceram uns ratos na casa e dona Alzira pôs veneno nos cantos
mais prováveis e os camundongos passaram a passear pelo quintal durante
o dia, cambaleantes, à morte. Com a facilidade de quem apanha frutas
caídas do pé, a velhinha pegava os ratos pelo rabo e dava ao gato,
que não perdoava. Três dias depois foi a vez do bichano andar cambaleante
pela casa. Morreu. Dona Alzira sentiu muito e, não se sabe bem por quê,
passou a pensar no filho, cujo destino não colaborou e a vida tinha se
tornado um fardo. Pensou nas vezes que esteve dando a ele pequenos prazeres
perigosos, como os ratinhos estufados de chumbinho. Pensou, pensou e foi se
deitar amuada para sempre.
No outro dia, pediu ao vizinho que enterrasse o animal. Arrancou depois todas
as suas margaridas e as depositou sobre a cova, mas não acreditou que
aquilo pudesse reverter o quadro e mudar o rumo das coisas.