A Garganta da Serpente

Elisa Mel

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Minha história de amor

(Elisa Mel)

Numa bela tarde, treze de setembro, início da primavera, lá pelas treze horas, meus dedos dedilhavam o teclado do micro. Bastaram alguns segundos, lá estava eu numa sala de bate-papos, hesitei por alguns minutos, mas um nick chamou minha atenção, Sil. Pedi para conversar em particular e nunca imaginei que naquele momento estava começando a mais bela, complicada e proibida história de amor.

Após alguns minutos de conversa percebi que a partir daquele momento nunca mais minha vida seria a mesma, nem me preocupei com os obstáculos que viriam. Começamos a trocar e-mail e do contato on-line para o telefone foi simultâneo, e a proximidade ficava cada vez mais forte. Era uma descoberta absoluta, estava apaixonada, meu coração batia mais forte cada vez que pensava no meu amor distante.

Passaram dias, meses e a paixão avassaladora começou a se transformar em amor. Eu, que me julgava tão forte em relação ao amor, me sentia frágil. Absorta em pensamentos transportava-me no mais lindo devaneio, devaneio tão forte que tinha a impressão de sentir o toque e o cheiro real do amado distante. Nas minhas noites de insônia, bastava chamá-lo ao telefone, sua voz suave e terna me acalmava e em seguida eu adormecia.

De repente, vi meu segredo ser revelado; comecei então a sentir o peso da cobrança e da discriminação. Comecei a negar a existência desse amor, mas a consistência dos meus sentimentos era incompatível com a negativa.

Decidi que falaria a verdade, mas só fui capaz de balbuciar meias-verdades e a situação cada vez se complicava mais. Aproximava-se o período de férias, quatro anos esperando a tão sonhada viagem, a esperança de ver meu amor era grande, iria para a cidade dele, mais tudo isso era bom demais para ser verdade.

Aparentemente todos tinham esquecido do meu caso de amor: estava enganada, repentinamente mudaram a rota da minha vida sem perguntar minha opinião. A única justificativa que me deram, era que tudo que estavam fazendo era para minha felicidade.

Que felicidade? Separando-me do meu amor? Que amor era esse que sentiam por mim, se não me davam opção de escolher o meu destino, eu não conseguia entender. Minha mãe, mulher sábia, perguntou se eu a amava, respondi que sim, pude perceber um sorriso naquele rosto tão querido, mas que demonstrava preocupação. A notícia final chegou num sussurro, nossa viagem foi transferida do Rio de Janeiro para Recife, naquele momento senti o chão faltar sob meus pés, não consegui falar nada, soluços abafados saiam do fundo da minha alma, sentia dor física, pois via meus sonhos serem transformados no mais cruel pesadelo. Minha mãe percebia toda minha angústia, e não sabia como aliviar o meu sofrimento segurou meu rosto entre as mãos, olhou dentro dos meus olhos e falou pausadamente "filha, eu te amo tanto, sei o que estás sentindo, a tua dor está doendo em mim". Naquele momento fiz comparação do amor que sentia por Sil, com o amor que minha mãe sentia por mim. Será que tinha alguma diferença? Seria certo pedir que ela entendesse meu amor, se eu não era capaz de entender o amor dela?

Várias imagens começaram se delinear e confundir meus pensamentos, ora meu amor distante, ora minha mãe presente. Percebi que essas duas pessoas eram fundamentais para a minha existência, que minha vida não tinha nenhum valor se elas não existissem.

Os dias em Recife foram longos e tristes, geralmente ficava deitada, não tinha prazer em observar a beleza do lugar tão deslumbrante para meus pais.

O regresso foi antecipado, finalmente iria poder me comunicar com o meu amor. Voltei, estava em casa, meu primeiro ato foi correr para o telefone, com os dedos trêmulos, coração aos saltos disquei o número, fiquei muda por alguns segundos, era vinte e três horas na minha cidade, mas quando ouvi o sonoro "oi" do outro lado da linha senti que meu coração ganhava vida nova, finalmente um sorriso verdadeiro saiu dos meus lábios. Meu coração escolheu Sil para amar eternamente, mesmo sabendo que este amor é condenado pelos meus pais, não sei até quando ele vai me esperar, mas tenho certeza que meu amor é eterno e mais forte que a morte.

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