A Garganta da Serpente
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A flor indecisa

(Esther Torinho)

No topo da escada, indecisa diante da descida, que faria sozinha, para o apartamento dos filhos, ela que pensara viver a alegria da chegada, agora hesitava: desejava mesmo era voltar para a cidadezinha de onde agora pensava: Será que devia ter saído? Ninguém a esperá-la no ponto do ônibus, nem o telefone atendia. Também quem mandou não confirmar antes a sua vinda? O filho provavelmente estivesse trabalhando, talvez a nora tivesse saído, os netos estivessem na escola. Mas eles sempre lhe disseram que viesse, quando quisesse, a casa estaria às ordens. No entanto, da última vez que ligou, falou que viria, só não deu dia certo, nem horário. E de repente, uma aflição começara a bater-lhe no peito, uma saudade, um desejo de não ser mais sozinha, colocara as coisas na maleta, fora para a rodoviária da pequena cidade e embarcara logo em seguida. Bem que tinha tentado telefonar, mas na rodoviária o barulho era muito, ela não ouvia quase nada e desligou. Lembrou-se agora da mala, que pensara guardar na rodoviária, para que o filho a buscasse mais tarde. Onde a deixara, que não se lembrava? Ainda bem que se lembrava do caminho para o apartamento, mas a indecisão volta a invadir sua mente e já não consegue pensar, decidir.

Fica ali imóvel, a poucos metros do apartamento deles, indecisa entre a descida e o desejo da volta, esquecida do tempo, uma flor ressecada, murchando ao sol e esperando, talvez, ser colhida pela mão negra da noite ou pela foice da vida. Virá a mão do carinho resgatá-la para uma nova vida, pelo pouco tempo que ainda lhe resta? Ou será mais um cão vadio, abandonado pelo dono, colhido pela carrocinha?

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