No topo da escada, indecisa diante da descida, que faria sozinha, para o apartamento
dos filhos, ela que pensara viver a alegria da chegada, agora hesitava: desejava
mesmo era voltar para a cidadezinha de onde agora pensava: Será que devia
ter saído? Ninguém a esperá-la no ponto do ônibus,
nem o telefone atendia. Também quem mandou não confirmar antes
a sua vinda? O filho provavelmente estivesse trabalhando, talvez a nora tivesse
saído, os netos estivessem na escola. Mas eles sempre lhe disseram que
viesse, quando quisesse, a casa estaria às ordens. No entanto, da última
vez que ligou, falou que viria, só não deu dia certo, nem horário.
E de repente, uma aflição começara a bater-lhe no peito,
uma saudade, um desejo de não ser mais sozinha, colocara as coisas na
maleta, fora para a rodoviária da pequena cidade e embarcara logo em
seguida. Bem que tinha tentado telefonar, mas na rodoviária o barulho
era muito, ela não ouvia quase nada e desligou. Lembrou-se agora da mala,
que pensara guardar na rodoviária, para que o filho a buscasse mais tarde.
Onde a deixara, que não se lembrava? Ainda bem que se lembrava do caminho
para o apartamento, mas a indecisão volta a invadir sua mente e já
não consegue pensar, decidir.
Fica ali imóvel, a poucos metros do apartamento deles, indecisa entre
a descida e o desejo da volta, esquecida do tempo, uma flor ressecada, murchando
ao sol e esperando, talvez, ser colhida pela mão negra da noite ou pela
foice da vida. Virá a mão do carinho resgatá-la para uma
nova vida, pelo pouco tempo que ainda lhe resta? Ou será mais um cão
vadio, abandonado pelo dono, colhido pela carrocinha?