A Garganta da Serpente
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Esmeraldo em estado interessante

(Eurico de Andrade)

Esmeraldo vivia à cata de emprego. Situação braba. Filhos passando fome, comendo do pão que o diabo amassou. Mas não desistia. Entre uma canjebrina e outra, recebia uma negativa de trabalho e ia em frente.

Até que um dia Esmeraldo faz concurso para merendeira na escola do Estado e é aprovado. Mesmo com os poucos conhecimentos que tinha. Só faltavam os exames médicos. Embora um pouco avariado, mal das pernas e meio perrengue, achava que conseguiria enganar o médico. Mas e os exames de laboratório? No Laboratório Cademicróbio deram-lhe uns vidrinhos para colocar as necessidades durante três dias seguidos.

Esmeraldo pensou... pensou... chamou a mulher:

- Ô muié, manda a Ritinha fazê as necessidade dela nos vidrinho! Ela tá fortona, já é grandona e sem doença... Aí eu passo nos exame, né?

Assim falou, assim foi feito. Urina e fezes da Ritinha foram levadas para exames de laboratório como se fossem do Esmeraldo.

No dia da entrega dos resultados, todos os que tinham passado nos exames estavam lá. Satisfeitos. Cada um rindo mais arreganhado do que o outro. Esmeraldo também foi. Agoniado, estranhando porque não chamavam logo seu nome. Foi aí que apareceu a enfermeira.

- Sô Esmeraldo, o dotô tá lhe chamano!

- Ahn?!... Ieu?... É pra já, dona moça!

Esmeraldo, cismado, carente, suando frio, fedendo bafo e com sovaqueira, entra na salinha do médico. Preocupação qui só. Olha cabreiro e perguntativo pro médico, doido pra saber o motivo de ter sido o único honrado com o chamamento doutoral.

- Estou espantado, seu Esmeraldo! Muito espantado! Já fiz e refiz seus exames, com vários testes, e dá sempre a mesma coisa!...

- Já sei, sô dotô! Carece cerimonha não! Levei pau, né?

- Acho que sim, meu amigo. Pelo menos o senhor está grávido!

Esmeraldo só teve tempo de levar as mãos à cabeça e exclamar antes do desmaio:

- Ai, meu Deus do céu!... Minha Ritinha!...

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