A Garganta da Serpente
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História Popular Contada em Círculo

(Firmino Bernardo)

Instruções: Antes de ler, atribuir um número a X. De cada vez que encontrar "X" no texto, substituir por esse número. Ler a história várias vezes.

"O senhor sobe aquela rua, vira na última à esquerda, e depois é a primeira à direita".

Quando estava a varrer a cozinha, a Carochinha encontrou um cheque ao portador. Era uma quantia elevada. O dinheiro não traz a felicidade, mas ajuda, e ela decidiu que estava na altura de deixar de sentir pena de si própria e de lutar.

Correu ao banco depositar o cheque. No dia seguinte, foi para uma clínica de desintoxicação. Ao fim de alguns meses, parecia outra pessoa, tinha abandonado a droga, recuperado a autoestima, estava disposta a lutar pelo amor. Investiu em vestidos e joias para se pôr bonita, voltou ao ginásio, reduziu a quantidade diária de calorias, começou a ir a festas da alta sociedade. Conheceu vários homens, mas nenhum lhe agradava. Ou era o tom de voz, ou era a aparência, ou eram as conversas, havia sempre algum defeito que a afastava.

Até que conheceu o João. O João tinha os defeitos dos outros, mas fazia-lhe lembrar alguém que amara. Saíram algumas vezes, o amor nasceu e solidificou-se. Começaram a usar o anel de compromisso, o pedido de casamento foi feito de joelhos numa festa pública, toda a gente aplaudiu quando ela disse "sim". Seguiu-se o anel de noivado, depois o vestido, os preparativos da boda, a aliança.

Viviam felizes, mas havia um segredo. Como eram de um círculo social elevado, só comiam o que era recomendado pela etiqueta. Farto da comida insípida dos ricos, o João ia, sem que ela soubesse, de vez em quando a um restaurante "de pobres", comer petiscos ou feijoada. Ela nunca desconfiou, porque tinha problemas de olfacto.

Um dia, o João estava tão cansado de esperar pelo seu feijão-frade com bacalhau, que foi à cozinha do restaurante ver o que se passava. Entrou, e como não viu ninguém, espreitou para dentro do caldeirão. O resto é previsível. Caiu no caldeirão, cozeu mais depressa que o feijão. X=X+1.

Pobre viúva. Era o Xº marido que perdia. Mandou cremar o corpo, guardou as cinzas num armário feito de propósito para guardar as cinzas dos maridos. Chorou durante meses, pensou que nunca mais seria feliz. Vendeu tudo o que era do marido, mas não conseguiu esquecê-lo. Como num melodrama americano, meteu-se no álcool e nas drogas, perdeu tudo o que tinha, ficou sem dinheiro, hipotecou a casa.

A sua história atraiu a imprensa cor-de-rosa e chegou ao conhecimento de um milionário viúvo, que se comoveu muito. Passou um cheque com uma quantia elevada, ao portador, chamou o criado mais fiel e mandou-o levar o cheque à casa daquela pobre mulher. Pela Xº vez, o criado sentiu-se tentado a roubar o cheque. E pela Xº vez, não foi capaz de trair a confiança do patrão. Procurou a morada dela na lista e pôs-se caminho. Não lhe foi fácil encontrar a casa, teve de seguir as instruções dos transeuntes que interpelou pelo caminho.

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