Ao me situar no campo subjetivo, explorando o emocional, o fictício,
sempre deparo com prazerosa excitação, quando o jogo com as palavras
vem dar no papel!
Quem, diante de uma bela paisagem, diante de um pôr-do-sol, da noite enluarada,
não se enche de ideias e pensamentos? A naturalidade com que isso
ocorre, a dimensão sentida, a sua extensão, exigem uma substância
sutil para traduzir tudo isso para o mundo: a sensibilidade apurada, para que
essas ideias e pensamentos, quando passados para
vocábulos, orações, transmitam a intensidade do nosso senso
estético, lógico e, por que não, da nossa cadência,
musicalidade, possibilidade poética, enfim. Temos arte quando conseguimos
dar sentido a tudo quanto vemos ou imaginamos, seja através da pintura,
da música, da linguagem. Claro sinal de que esse vestígio de tudo
o que se acha espalhado pelo mundo é reunido, muito caracteristicamente,
pelo artista, vamos encontrar se, exemplificando, escolhido por tema uma floresta,
um bosque, ou o infinito, deixamos que a nossa alma traduza, numa descrição
maravilhada, toda a felicidade de estarmos separados do mundo, como nas montanhas,
bem assim a alegria de se estender sobre ele, como à beira-mar, onde
divisamos o
infinito, lá onde o céu se junta com o mar. E para dizer da lua,
do amor, das horas, do silêncio que fala, do isolamento que entristece
e que enche nossos sonhos de poesia, e do firmamento, há que ser artista,
porque somente ele é que consegue captar através da imaginação
o invisível, o imaginário e indizível, para mostrar ao
mundo de forma clara o que o impossível representa, pelo sentido que
lhe é conferido, provando, assim, suas verdades.
Esta minha aparição inaugural, assim como a imensa satisfação
de que certamente serei acometido pelas futuras, dão-me a grata sensação
da felicidade que ora encontro na presença de todos os navegantes.
O poder que faz o sentido das palavras é que me levou, modestamente,
a pretender dar-lhes um caráter puro, brincalhão e infantil no
versinho seguinte, para, depois de decorado, ser recitado teatralmente:
O PASSARALHO PIOPARDO
E CHOVIA...CHOVIA...CHOVIA...,
A FLORESTA ENCHIA...ENCHIA...ENCHIA.
A ONÇALINA TINHA ROMISETA,
A ÁGUAFONTE JÁ NA CAMISETA
RODOU, DOBROU, SUBIU, DESCEU;
NADA, ESTAVA SEM SABER O QUE FAZER.
FOI QUANDO CHEGOU NA SUA ÁRVORE
COM PORTINHOLA E ELEVADOR,
ENTROU DE ROMISETA E SUBIU
SUBIU, SUBIU TÉTÉLÁ NO PICOMONTE,
BRINCALHANTE ONÇA FELINOLHETA,
BISTROCO DE CARACOCONHA
DE NHANHA COM CREME DE BIJULHETA
DE CARÁ CARÁ JARARACEROMA
DE PIRA PIRA MANGARÁ TROMBETA,
E DE LÁ VISTOVISOU OS PASSARALHOS,
RODAVOTRENTES ASSUADOS,
AFASTANDO AZIAGOLOUCO TRESLOUCADOS,
INDO E VINDO ÀS REBATINHAS.
GRILAFANGOS ABELHUDOS
BICUDAVAM QUAL CHELEME,
PICUDEJAVAM CARRANCUDOS
FLORESTIANDO MALFERIDOS,
TATIANDO SUGISMUNDOS
TRELELECO TREMETREME .
UM, DOIS, TRÊS
COMEÇAR OUTRA VEZ
MANDINGA NEGROFANTE
SETATENSA TREBUNDÊ
ZUNZUNFIDANTE QUERROMPANTE
FRETEMULAM PASSARALHOS
NO REINO DO PIOPARDO.