Eu, Cooper, retorno às origens.
E eu estava naquela situação tão usual, mas que não
vivia há algum tempo: ele à minha frente, conversando, mas deixando
a tensão sexual gritar por todos os poros. Falando amenidades e pensando
em todos os toques do mundo. Permaneci solícita, conversando sutilmente,
mas sabia que era a situação mais adequada para manipular os brinquedos
com os quais tanto me diverti. Ele era perfeito. Certo. Bem encaixado. Continuamos
trocando palavras até o momento em que sua consciência finalmente
desfaleceu e cedeu a tudo que eu sabia que aconteceria.
Ele se aproximou sutilmente, tremeu os lábios diante dos meus e ensaiou
o beijo mais sôfrego que poderia dar em uma mulher. Eu continuei estática,
aguardando sua ação. Ele o fez, decidido, aproximando-se mais
e mais. Aquele foi o momento em que toda a fúria sádica da sedução
que empreguei durante cada segundo de meus dias retornou, impetuosa e única!
Afastei-me antes que ele pudesse esboçar um mínimo toque. Tudo
que podia ouvir era minha respiração, que soava conscientemente
ofegante para mim e excitantemente provocativa para ele.
Prosseguimos a conversa, mas com todas as insinuações do mundo,
todas as excentricidades que uma conversa sobre sexo pode permitir... Ele esticou
os dedos pelos caminhos de minhas coxas, desvencilhando a ponta do vestido e
repetindo o quanto minha pele era macia, delicada... E, na ausência de
carícias físicas ele buscava um modo de confortar a mente, beijando
filosofias, lambendo o sistema límbico, estimulando o hipocampo... Uma
masturbação puramente cerebral, uma compensação
que ele mesmo não cansava de repetir, dizendo que o simples fato de estar
ao meu lado justificava tudo, mesmo sem poder encostar qualquer ponto de seu
corpo no meu.
Ele frisou minha sensualidade, ignorando até mesmo os dotes daquela que
o esperava em casa, fazendo comparações quase injustas (quase)
não fosse o fato de qualquer criatura ficar sob meu hour-concour.
Constatação do óbvio.
Falamos, falamos, falamos, insistindo até que sua mente gozasse e seu
corpo implorasse por algo, como a abdicação do amor platônico
pelo sexo real e afetivo.
Ele se aproximou, tentou beijar-me, insinuou-se; e senti o espírito alvorecer
numa risada mais do que satisfatória, forte, cheia da confiança
sacana que há tanto eu não exercia. E então decidi que
nunca o tocaria porque, aquilo sim - como ele mesmo fez questão de afirmar
-, me fazia Cooper!
Não aguentou... Esqueceu a ética, a classe; a cessão
ao prazer unicamente mental deu lugar ao deleite mais primário de todos!
Aproximou-se de meu ouvido esquerdo e expeliu (num gozo oral) a frase que eu
mais queria ouvir: "Posso me masturbar para você? Não preciso
te tocar, não preciso de nada. Quero apenas me masturbar te olhando,
mesmo sabendo que você não arredará uma única peça
de roupa!"
Não disse nada. Nem uma única palavra. Seu sofrimento manipulava
meu clitóris. Torcia apenas para que meu silêncio soasse como um
consentimento.
Ele era inteligente, apesar de contido, e entendeu perfeitamente que não
me excitava por causa de seus lábios carnudos, mas por seu desejo reprimido.
Erguendo um pênis (dolorido por aquela curta abstinência) tocou-se
como nunca e eu sabia que era algo totalmente sincero, podia sentir, aspirar
cada feromônio que flutuava no ambiente.
Antes que ele pudesse gozar, achei que era o suficiente e aleguei ser tarde.
Ele não se incomodou. Considerava-se um privilegiado que taxaria aquela
situação como pouquíssimo caso ocorresse na presença
de qualquer mulher, mas sempre muito diante de mim.
É bom voltar às origens.