Da minha casa vejo o sol que se debruça sobre o pico do Frade. Tenho
sempre vontade de acompanhá-lo, só para ver onde se esconde. A
brisa da tarde me deixa melancólico. Encho uma taça de vinho e
fico pensando nas maluquices que a vida oferece. Penso num universo paralelo,
onde eu pudesse ter um sol eternamente meu. Egoísmo de poeta.
Ainda ontem, Sara me falava de um sol, um encanto, que se fitar, pode-se ver
a própria alma. Sara!... Eu não acredito nisso! Acredito no desejo,
nos pecados que cometemos. No encanto de poetizar e criar fantasias para os
nossos corpos e nossos olhos. Como somos ainda ingênuos.
Pensamos em coisas tão bonitas e sabemos a dura realidade de viver
o amor em sua plenitude. Talvez eu não tenha tempo de concluir o sonho.
Talvez eu não tenha tempo de tear a nossa realidade. Talvez eu não
tenha coragem de segui-la numa jornada infinda, apenas para ver este sol, seu
encanto.
Talvez eu deixe tantas coisas pela metade (eu sempre deixo coisas pela metade).
Talvez o seu coração fique pela metade. Talvez, pobre Sara, eu
não veja a minha alma! Mesmo assim eu vou seguir o meu horizonte de primaveras
e mesmo que não seja possível, poderei colher a flor que desde
tenro amor foi promessa minha.
Nas minhas caminhadas tenho visto as cactáceas do P. Jurubatiba e na
infinita promessa de respeito e zelo pela natureza, quase a infrinjo, pensando
em te ofertar a mais bela das espécies que brotam no coração
das nossas restingas. Brigo com os cavalos que por lá passeiam, pisando
as espécies que amo e aprendi a tocá-las com o mais sublime carinho,
assim como a sua face de deusa.
Terei em minhas mãos, possivelmente, um dia talvez, a juventude em
flocos e não se iluda, rejuvenesceremos com as mais espetaculares plantas
que brotam nestas paragens. Abram-se as cortinas da ciência e todos virão
brotar o néctar da existência. Toda sabedoria e prazer de vivenciar
a gloria estará em nossas mãos. Ainda posso me iludir, pensando
na maravilha de estar contigo e no seu colo amanhecer, saboreando o sol de minha
Macaé´.
A ti deixarei lembrança em fotos que guardarei das paisagens espetaculares
do Parque Jurubatiba, da serra do Sana, do pico do Frade, da Serra da Cruz,
Glicério, Trapiche e outras paragens que amo e maltratam para que a melancolia
tome conta de minha alma e eu me volte para os seus braços sempre dispostos
a me acolher nestes momentos de extrema decepção. Guarde, como
um beijo, todo o meu vislumbre por uma natureza espetacular e que nos relegará
a proeza do conhecimento, como gotas de orvalho que nos chegam todos os dias,
quando o sol nos oferece o espetáculo de um novo dia.