Não é de toda bela. Mas não é feia. De forma sublime,
majestosa e irredutível, me espreita. Não sei o que nos aproxima.
Não tenho muito a oferecer. Ela apenas me encanta.
A cada outono, ela parece estar junto a mim. Meus olhos marejados pelo orvalho
da noite, a fita. Ela parece esquecer que existo. Mas não há como.
Acho que finge. Aproximo-me e Retiro a maresia dos olhos cansados e a convido a venerar a manhã ensolarada.
Ela parece sorrir, mas penso que à noite a fez promíscua. Tenho
ciúmes, mas a sua singeleza me encanta e quase que levito. Aproximo-me
um pouco, mas sei o ela me reservou. Uma forma de carinho diferente, a sombra
ao meu cansaço e fico vazio como quem parte esperando um beijo. Digo
palavras a esmo e temo que alguém as ouça.
Minha loucura esta apenas reduzida em protegê-la, pois ela será
eternamente a canção da minha vida. A deusa da minha historia.
Paixão eterna e ai de que o toque. A cada brilhar do sol estarei a cuidar
das suas flores. A cada outono. A cada dia, minha companheira, amiga, irredutível.
Estarei qualquer dia deitado à sua sombra e caso seja noite me cubra
com orvalhos.
Ela me encanta tanto quanto o sorriso de uma criança ou o beijo da
fêmea que nos conforta e nos expande. Nossa parca evolução
ainda nos leva ao gesto de arrancar uma folha pura e simplesmente por arrancar,
gesto que Darwin já classificaria na teoria da evolução
das espécies: somos todos primatas.
O trajeto anímico da flor que cai, deixa no ar o perfume da deusa que
nos vê, observa e que tão pouco apreciamos, indolentes, seguimos.
Acho que nos falta tempo. Talvez nos falte sensibilidade e destreza para lidar
com o puro. O fardo da vida nos impede de voar, sonhar e até enlouquecer
um pouco. Posso ver o deserto dentro de um oásis. O universo é
logo ali... "O uirapuru não pousa nas estrelas". Dizia meu
amigo índio Tibuá.
O relatório é feio. A desgraça está feita. A morte
é prenunciada. A capa da revista traz uma incerteza estonteante. O que
se queima e o que se mata, mutilam e devastam impressiona. O mundo pára.
Muitos nem entendem. Alguns choram. Uns são indiferentes e apenas passam.
Milhões de árvores são destruídas no planeta. Iremos
pagar muito caro por isso. O desenvolvimento sustentável na Amazônia
é ainda suspeito. Estão cultivando soja para alimentar animais.
O chamado inferno verde não poderá ser chamado de paraíso
vermelho. Não posso perceber e imaginar um paraíso sem árvores.
Ainda prefiro o inferno...