A Garganta da Serpente
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Mariana

(Geraldo Crespo)

Iluminada por uma luz tênue e melancólica , a sua fotografia me consome as horas. Fitá-la é pouco. Pareço atravessar o tempo e me expor ao quase ridículo de querer ainda reviver o passado. Como brincávamos. Ainda lembro você a correr na chuva. Eu chutando as poças d'água. A juventude não se perde, não se apaga e não se evita. Fica escondida, louca e querendo aflorar...

Não sei em que mundo você vive, em que cidade mora. Sei apenas que ainda habita num pedaço de mim. Nossas promessas ainda perduram? Por mais que eu tente não deixo de lembrar nossos primeiros tombos de "camela" na ladeira de Sant´Ana . Você nervosa com as ondas na praia "dos cavalos". Hoje só para você saber, chamam de "píer" e lá tem navios estranhos, pessoas estranhas... A Imbetiba, dizem que parece a praça Mauá.

O tempo me dilacera. A moldura do seu retrato já envelhecida, carcomida pelo tempo, guarda o seu sorriso e o brilho da nossa quase infância. A nossa extrema felicidade assustava. Por que a vida teve que nos pregar uma peça? Acho que foi uma traição do destino. Como esquecer você dançando no hi-fi do Americano, na discoteca do Tênis? Lembro das chanchadas do Santa Isabel, aonde só íamos pra jogar amendoim nas filas da frente e deixar o "lanterninha" zonzo.

Aquele menino vez em quando insiste em voltar só pra ver se ainda lhe encontra. Onde você estiver saiba que as estrelas que contamos brilham na minha escuridão. Quando a melancolia me acerta em cheio, a primavera parece ficar distante. Mas não devo esmorecer e deixo uma réstia de sol entrar pela janela e quando seu rosto se ilumina eu vejo o quanto fomos felizes, pois descobrimos que no deserto também nascem as rosas...

Talvez este horizonte que vejo agora, não fosse o nosso limite. A vida nos expande, nos faz crescer e nos apronta, deixando vácuos intangíveis em nossa alma. Mesmo assim, eu insisto em ser o menino que brincava na chuva, que desenhava o sol para nascer o arco-íris. Que todas as estrelas dos seus olhos iluminem meu caminho de volta... aquele menino ainda não morreu. É possível que viverá enquanto um sonho houver e esta lembrança existir.

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