Tomando como ponto de partida a problemática que girou em torno da ocorrência
de posturas descriminatórias assumidas por alguns professores e alunos
de uma escola tradicionalista, cuja tendência manifestou-se através
das relações educativas estabelecidas durante a convivência
em sala de aula, diante deste fato o professor-jurista entra em cena, comprometendo-se
a realizar um evento jurítico conjuntamente com os estudantes deste educandário,
objetivando levar esse público escolar a encontrar possíveis soluções
através da análise crítico-reflexiva de tal problema.
Movido pelo desejo de mudança comportamental, o referido professor-historiador
se propôs a estimular na escola, a conservação de conduta
mais humana e solidária, para tanto, sugeriu aos estudantes a realização
de um espetáculo de cunho jurídico. Na referida ocasião,
o educador-jurista atua como articulador deste espetáculo denominado
Júri Popular, o qual contou com a participação dos alunos.
Neste evento contemplo-se como temática a africanidade, tendo como foco
principal a abordagem pertinente ao preconceito e descriminação
racial. A discussão deste tema justificou-se pela constante ocorrência
de condutas inadequadas adotadas por parte de alguns professores e estudantes
da escola conservadora, em se tratando do relacionamento destes com colegas
professores e alunos de cor negra e de baixa condição econômica.
Na tentativa de articular o tema escolhido com o próprio relacionamento
diário estabelecido entre professores e alunos, a priori foi exposto
o assunto específico e sugerido a turma preconceituosa, o aprofundamento
deste conteúdo através de pesquisas. Num segundo momento socializou-se
reflexivamente o conhecimento adquirido pelos alunos considerando suas ideias.
Posteriormente foi decidido em comum acordo, distribuir cada papel para os devidos
integrantes do Júri Popular. A partir de então, foi proposto aos
alunos a elaboração de roteiros compatíveis com a contemplada
temática abordada no Júri. Antes da apresentação
da turma, foram realizados ensaios com o elenco, durante os treinos, o professor-jurista
fez as devidas intervenções e ainda sugeriu o uso de roupas e
objetos apropriados, como também, a montagem de um cenário a caráter.
A encenação propriamente dita foi realizada no pátio do
colégio, onde o início do Júri se deu a partir da problematização
envolvendo uma professora novata da escola, cujo público escolar era
sócio-econômico e racialmente heterogêneo. A educadora em
questão, teve um problema com uma aluna de cor negra e de condição
econômica precária. Essa relação foi marcada por
forte tendência racista, justificada pela postura descriminatória
adotada pela professora durante a convivência com sua aluna. Em sala de
aula a educadora manifestava uma conduta seletiva e excludente, onde procurava
rebaixar àquela aluna negra, chegando ao ponto de lhe trazer constrangimentos
pessoais e traumas psicológicos.
A trama baseou-se no preconceito racial sofrido constantemente pela garota.
Cuja jovem era repetidamente desrespeitada pela professora que a humilhava chamando
de negrinha burra. Nas arguições feitas em sala, destaca-se que
em certa vez, a professora fez uma pergunta direcionada a jovem aluna, apesar
dela ter pronunciado a resposta coerentemente com o questionamento da educadora,
foi advertida e tachada como displincente e indisciplinada. Em outro momento
das atividades educativas, a aluna por ter detectado erros na explanação
da educadora, sabiamente questiona o posicionamento de sua professora acerca
de um determinado conteúdo por ela explorado na sala de aula. Em virtude
dessa observação, a estudante foi agredida moral e fisicamente.
Baseado neste episódio o professor-jurista realizou um Júri Popular,
para compor o elenco responsável pelo mesmo, o educador destacou os papeis
a serem desempenhados pela turma responsável pelo Júri, da seguinte
forma: Um aluno representou o papel de juiz; outro aluno atuou como promotor
de justiça; um terceiro aluno assumiu o papel de advogado de defesa;
teve um estudante como escrivão; dois alunos como policiais; sete alunos
comporam o corpo de jurados; os demais alunos juntamente com o público
participante do evento, comporam a plenária.
No decorrer do Júri, foi posto em pauta a problemática acerca
do preconceito racial que a aluna sofreu durante a convivência com sua
professora preconceituosa. No decorrer das etapas os alunos foram usados como
testemunhas contra a professora, os quais dramaticamente confessaram que presenciaram
as constantes torturas físicas e psicológicas sofridas pela garota.
Na elaboração deste Júri Popular foram discutidas questões
pertinentes a africanidade e afro-descendência, nessa ocasião,
foi evidenciada a importância sócio-cultural africana para o Brasil
e o mundo. Também, foi colocado em foco os sofrimentos e a discriminação
racial sofrida pelos negros no Brasil desde o período colonial, que dissimuladamente
perduram até os dias atuais.
Como resultado positivo alcançado pela turma, destaca-se o empenho dos
participantes do Júri, em busca de absorverem conhecimentos da temática
apresentada. Para tanto, os alunos pesquisaram sobre o assunto referente a africanidade
e discriminação racial ocorrida no Brasil nos diferentes momentos
históricos. O conteúdo explorado foi dinamicamente trabalhado
pela turma, onde os alunos tiveram significativa compreensão das questões
levantadas e explanadas sistematicamente.
Ao transcorrer alguns dias, percebeu-se mudanças no comportamento daqueles
que adotavam condutas errôneas. Sendo assim, confirma-se mais um feito
glorioso do professor-historiador realizador de Júri, por ter alcançado
seu objetivo de levar os alunos e professores preconceituosos a respeitarem
seus colegas pobres e de cor negra. Pois, àqueles ditos preconceituosos,
após a apresentação do Júri, passaram a se comportar
perante os colegas tratados com indiferença, de forma mais respeitosa
e valorativa.