A Garganta da Serpente

Hideraldo Montenegro

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Cárcere

(Hideraldo Montenegro)

Fazia muitos anos que estava preso. A barba tinha crescido. Os filhos tinham crescido. Há muito tempo que não se comunicava com ninguém.

Nem mesmo a sua esposa, sua amada, fazia mais parte da sua vida.

Não conseguia sonhar, pois, nem mesmo conseguia dormir.

Quando tudo começou? Nem mais se lembrava. Sequer lembrava-se do motivo.

Os pensamentos eram muitos, talvez demais. Mas, a sua vida tinha se paralisado de histórias. Só lembranças, vagas, às vezes desconexas.

Não cobrava compreensão de ninguém, pois, nem mesmo ele já se compreendia. Agora passava horas nutrindo um único pensamento. Às vezes, um pensamento passava semanas sendo carregado por ele.

Parava, de vez em quando, com os olhos distantes. Dava impressão que conseguiríamos ver a imagem de sua esposa impressa neles.

Ficava calmo, suave. Dava um sorriso e dizia o nome dela. Mas, não demorava muito e já a tinha esquecido novamente.

Pensava em dizer uma coisa e dizia outra. Queria fazer uma coisa e fazia outra. Ficava desesperado com aquilo. Às vezes, precisavam de força para controlá-lo.

Tinha sido uma pessoa generosa. Por que aquilo estava acontecendo com ele?

Um belo dia, quando o sol apareceu, um sorriso se estampou em sua face. Todo o seu rosto se iluminou.

-M eu Deus - exclamou ele - Como pude passar tanto tempo agarrado a uma única ideia?!

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