Era uma vez uma pequena propriedade que tinha um lindo milharal. Todos os dias
quando o sol atingia seu esplendor, a plantação parecia cabelos
de anjos dourados balançando ao vento. Era o orgulho de toda região.
Os carros que passavam pela estrada, que não eram muitos, paravam para
observar a beleza do milharal.
Estava na época da colheita. Na propriedade era um rebuliço só.
As crianças corriam no meio da roça com as espigas na mão.
Significava ganhar brinquedo novo feito de sabugo, palha e cabelo de milho.
Na cozinha inhã Maria preparava os quitutes. Tudo era festa e nela não
poderia faltar pipoca. É ai que começa a estória de um
grão de milho especial.
Quando ainda pertencia a espiga, grãozinho olhava a sua volta e sonhava
conhecer outros lugares. Queria ir embora com os carros que paravam na estrada.
Não aceitava que depois do auge de seu esplendor, fosse parar no fundo
de uma panela para virar pipoca. Resolveu então que mudaria seu destino.
Mas, pobre grão. Como faria isso? Se já estava nas mãos
ágeis de inhã Maria, a caminho da panela?
De repente sentiu um calor enorme. Muitos grãos amigos seus, caíram
sobre ele. Tudo ficou escuro. Grãozinho pensou: - Será o fim?
Escutou um chiado e por toda parte começaram a surgir "flores brancas"...
Eram as pipocas. Com todo esforço, foi subindo e ficou em cima de uma
"flor branca". Foi aí que se deu o milagre. As crianças
entraram correndo na cozinha e inhã Maria soltou a tampa da panela. Com
a força das "flores brancas", a tampa se abriu e grãozinho
pulou fora. Caiu meio aturdido no chão, quase embaixo do fogão.
- Consequi!!! Consegui!!!
Porém, nem tudo estava resolvido. Grãozinho ainda meio tonto,
se viu diante de dois enormes olhos alaranjados, um focinho preto e longas barbas,
que o espreitavam com ares nada amigo. Não! Não iria escapar de
virar pipoca, para terminar na barriga de um gato gordo e preguiçoso.
Foi quando ouviu o grito de inhã Maria:
- Eh! Bichano folgado. Vá logo saindo da minha cozinha.
Ufa! Que alívio! Tinha sido por pouco. Com o alvoroço, grãozinho
foi parar bem embaixo do fogão. Pelo menos por um tempo estaria seguro.
Quanto tempo foi isso? Não se sabe. Entretanto, grãozinho continuava
sonhando com belos lugares que ainda iria conhecer e foi durante um desses sonhos
que sentiu uma forte sacudida. Sem nada entender foi sendo levado para fora
e se viu no terreiro da casa. Inhã Maria estava varrendo sua cozinha.
Grãozinho sentiu novamente o maravilhoso calor do sol. Enquanto se deliciava
com esse prazer, ouviu um ciscar no chão. Quando ainda vivia no campo,
tinha ouvido estórias de uns bichos que moravam nos terreiros das casas,
que ciscavam o chão e adoravam comer grãos de milho. Oh! Céus
será que iria ser seu fim? Mais uma vez não! Ele acreditava no
seu sonho e não seria um bicho de pernas magrelas e bico pontudo que
poria fim neles. E foi por isso, que um forte redemoinho salvou-lhe de virar
comida de galinha.
Enquanto girava carregado pela ventania, grãozinho se sentia muito feliz,
pois sabia que estava sendo levado para conhecer outros lugares. O redemoinho
levou grãozinho para muito longe de onde nascera. Tudo era fascinante...
Ele conheceu as montanhas; um enorme lago de águas tão cristalinas
que podiam se ver os peixes; casas que tinham até um "tanque"
de água só delas; carros esquisitos e bichos que nem sabia que
existiam.
Grãozinho mal cabia em si de tanta felicidade. Enquanto continuava sua
aventura, pensou como seria bom poder contar para seus amigos, como o mundo
era grande e bonito além das fronteiras da plantação. Foi
nesse momento que o vento tornou-se manso e grãozinho caiu sob uma terra
macia. Um cheiro conhecido seu subiu. Ele sentiu a chuva lavar a terra delicadamente
e aí entregou-se ao mágico ciclo da natureza... Grãozinho
iria transformar-se num robusto pé de milho, onde belas espigas cresceriam
e onde novos grãos outros sonhos teriam...