A Garganta da Serpente
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O físico e o amor pelas mulheres

(Janaína Behling)

Os físicos procuram definir a estrutura das partículas e se dão contas de que tudo é um microburaco negro. Quer dizer que ele, o microburaco, rompe nosso espaço, e é por isso, aliás, que se o toma por um ponto escatológico: ele não tem estrutura quando sua languidez é feminina. A razão diminui de tamanho, só os buracos aumentam. Mas, os físicos não são preocupados com o equilíbrio social da beleza e cada microburaco nem sempre deve ser preenchido vigorosamente. Os físicos odeiam sexo, por exemplo. Aliás, todas as vezes que os físicos colocam em questão as leis do universo, elas migram para si mesmas e os buracos as acompanham, mudando as coisas de lugar, mudando os desejos, calando os perigos do corpo, tirando o apetite da cara. Os físicos se perdem porque uma vez que as conclusões sobre buracos negros são válidas, somos obrigados a dizer que eles encerram alguma coisa que não se vê, mas que tem propriedades idênticas: o tempo é invertido; as palavras não bastam, todos somos indescritíveis quando a astronomia não dá conta de explicar porquê os físicos são o que sabem.

O físico não entende mais a nossa física, só a dele. Deve ser por isso que ele trabalha tanto, horas e horas com os olhos literalmente pregados no telescópio, no microscópio, no nanoscópio. Eu aqui, da janela do quarto em frente, olhando meus buracos no espelho reverso. Ele não dá a mínima. Buracos para mim são bem mais simples. Sou jovem, meus cabelos não negam mulatos.

Por mim, eu ficava mais tempo ouvindo a ciência falar de seus dilemas sobre as leis do universo dele, mesmo que eu não faça mais parte de parte alguma em suas teorias, em suas perguntas difíceis na mesa do café da manhã. Mesmo que ele tenha se esquecido de alguma coisa. A falta de uso é um abuso da maturidade?

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