Os físicos procuram definir a estrutura das partículas e se dão
contas de que tudo é um microburaco negro. Quer dizer que ele, o microburaco,
rompe nosso espaço, e é por isso, aliás, que se o toma
por um ponto escatológico: ele não tem estrutura quando sua languidez
é feminina. A razão diminui de tamanho, só os buracos aumentam.
Mas, os físicos não são preocupados com o equilíbrio
social da beleza e cada microburaco nem sempre deve ser preenchido vigorosamente.
Os físicos odeiam sexo, por exemplo. Aliás, todas as vezes que
os físicos colocam em questão as leis do universo, elas migram
para si mesmas e os buracos as acompanham, mudando as coisas de lugar, mudando
os desejos, calando os perigos do corpo, tirando o apetite da cara. Os físicos
se perdem porque uma vez que as conclusões sobre buracos negros são
válidas, somos obrigados a dizer que eles encerram alguma coisa que não
se vê, mas que tem propriedades idênticas: o tempo é invertido;
as palavras não bastam, todos somos indescritíveis quando a astronomia
não dá conta de explicar porquê os físicos são
o que sabem.
O físico não entende mais a nossa física, só a dele.
Deve ser por isso que ele trabalha tanto, horas e horas com os olhos literalmente
pregados no telescópio, no microscópio, no nanoscópio.
Eu aqui, da janela do quarto em frente, olhando meus buracos no espelho reverso.
Ele não dá a mínima. Buracos para mim são bem mais
simples. Sou jovem, meus cabelos não negam mulatos.
Por mim, eu ficava mais tempo ouvindo a ciência falar de seus dilemas
sobre as leis do universo dele, mesmo que eu não faça mais parte
de parte alguma em suas teorias, em suas perguntas difíceis na mesa do
café da manhã. Mesmo que ele tenha se esquecido de alguma coisa.
A falta de uso é um abuso da maturidade?