A Garganta da Serpente
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Ah essas crianças...

(J.C. Cavalcante)

Criança é fogo, às vezes deixa a gente em cada situação.

Outro dia, levei meu filho de 6 anos a um almoço de confraternização na casa do presidente da minha empresa. Embora fosse um almoço, foi recomendado o uso de traje esporte fino, já que muitas autoridades estariam presentes, e o Dr. Afrânio (o presidente) é homem rico e de projeção dentro da "alta " sociedade carioca.

Não me considero, e não sou mesmo, digamos assim, um funcionário de primeiro escalão, mas presto assistência direta a um dos superintendentes e seria normal que eu fosse apresentado por meu superior a alguns convidados.

Cabe aqui um esclarecimento: o convite para o almoço foi extensivo aos familiares mais próximos (esposo/a e filhos), daí, sendo separado e ter caído o tal almoço justamente no dia em que estava sob minha guarda, meu precioso filho, o fato deu o ter levado.

Pois bem, chegando a casa, melhor dizendo, mansão, deparei-me com umas 70 pessoas (a casa estava bem cheia) e para felicidade minha, muitas crianças foram levadas também, o que tornaria a presença do meu filho lá, menos monótona, já que teria com quem brincar.

E assim foi, não deu 10 minutos e o garoto já estava a brincar com um grupo da sua idade, o que me deixou livre para conversar e conhecer alguns convidados.

O principal convidado era um rico banqueiro paulista, Sr. Alfredo Gomes de Castanha (nome de rico tem que ser dito inteiro, nome e sobrenome). Na verdade o almoço foi idealizado para puxar o saco do homem, já que nossa empresa lutava para obter financiamento do banco dele e esse financiamento era de suma importância, já que dependíamos dele para criar uma estrutura necessária para exportações de grande vulto e consequentemente, maior entrada de dinheiro para nossa empresa.

Agora, o banqueiro era de um mau gosto em termos de vestuário, incrível. Trajava um Blazer verde, com camisa vermelha , sem gravata, e calças pretas, foi motivo até de muitas piadas dos convidados, mas é claro, tudo no "escondidinho". Era até engraçado, as mulheres e homens também, dirigindo-se ao banqueiro, elogiando a sua "moda super sensual e fashion", elogios do tipo: ultramoderno, contemporâneo inglês, tropical renovador, ou comentários do tipo: "Assim, como as armaduras dos cavaleiros da idade média, a roupa moderna serve para proteção e forma de autoexpressão" e neste particular, o senhor está perfeito".

Pois bem, chegou a minha hora de ser apresentado ao distinto senhor do dinheiro e lá fui eu buscando palavras elogiosas a forma elegante de se trajar do bendito banqueiro. E é ai que eu me danei, foi eu ser apresentado, para o meu filho aparecer me chamando.

Expliquei ao homem trata-se do meu filho e ele gentilmente se abaixou e passou as mãos no cabelo do garoto perguntando seu nome. A nossa volta , estavam, meu chefe direto, sua esposa, o presidente, também com a mulher e alguns diretores da minha empresa. E ai, meu filho, respondendo em alto e bom som, fez a seguinte observação ao cavalheiro: GOSTEI DA SUA FANTASIA DE MELÂNCIA!!!

No fundo, foi o que todo mundo pensou e não disse.

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