A partir da vigésima terceira zona dimensional, há uma imensa
falha composta de fortes distorções eletromagnéticas,
lixos cósmicos, peças de naves à deriva, poeira, gelo esverdeado
e sugadores eletrostáticos. É um lugar infernal onde todos os
fenômenos cosmológicos parecem acontecer. Existindo duas possibilidades
para se atravessar com segurança, fugindo da atração do
campo gravitacional energético. Não há massa ou conteúdo
residual atômico que estabeleçam limites; apenas energia ciclópica
dispersa por toda a região do canal: primeiro é através
das pontes ondulantes, que na verdade são túneis formados por
susceptíveis campos de partículas magnéticas, que dependendo
da influência das condições externas, se dispersam surgindo
instantes depois em outra direção. É quando o piloto deve
manter-se atento a estas variações e desviar rapidamente a rota,
pois a nave ainda permanece protegida e estabilizada dentro do campo polarizado.
Se vacilar, o túnel se desdobra sendo atraído para outra parte,
e a nave fica perdida na falha para sempre; e, segundo, através do espaço
intradimensional, direcionando a nave para além da vigésima terceira
dimensão. Como a falha possui movimento irregular, fica difícil
calcular a entrada ou o pulo hiperdimensional, com o risco de cair numa distorção
magnética e ser engolido para outro sistema desconhecido. Na verdade,
os dois modos são bastante arriscados quando não se possuem equipamentos
aprimorados para tal; o que implica em ter um Sterägon - no que seria impossível para um navegante comum, não
pertencente a uma das onze nações ou aos sistemas galácticos
representados na O.N.F.I. - Organização das Nações
Federativas Intergalácticas. Após atravessar, supõe-se
estar na zona dimensional seguinte, isto é, na vigésima quarta,
pois inexiste qualquer referência ou astro que indique a chegada. Somente
mais adiante, quase sempre à esquerda, e em velocidade normal, é
que se nota a presença de um luzir desmesurado, ofuscante, num ritmo
pulsante. É a gigante Candor que diferente dos outros astros dos sistemas
planetários, gira ao redor do seu único planeta chamado Xvlox,
composto de mais três satélites, ou melhor, asteróides.
E nesse momento, centenas de naves surgiam naquela vastidão do Universo.
Muitas oriundas pelas pontes ondulantes, outras surgiam em pontos variados vindas
intradimensionalmente. Todas se posicionavam ao largo, bem distantes, mas em
redor da estrela Candor e seu planeta. E observaram também, quando um
brilho cegante, como de um flash gigantesco, explodiu o planeta Xvlox; em seguida,
um halo vermelho arroxeado e luminoso, foi se alargando em ondas circulares
de energias alaranjadas, numa velocidade muito rápida. As naves próximas,
apesar de retrocederem velozmente, foram engolidas pela força destruidora
e silenciosa. As que não foram consumidas safaram-se pulando para qualquer
outro lugar no hiperespaço, pois ainda haveria outra explosão
mais violenta do que aquela. A estrela Candor su-miu no meio daquela força
descomunal. Dela, via-se apenas uma luz muito branca e imensa. Uma reação
termonuclear estava a ponto de acontecer, desencadeando uma massa energética
crítica muito grande e intensa, que afetaria a falha, alargando ainda
mais o corredor ou abrin-do diversas fossas eletrônicas, dispersas pelo
cosmo. Ninguém estava interessado em saber qual seria o resultado final;
só tinham a certeza de que não restaria mais nada por aquele canto
do Universo.
MUITO TEMPO ANTES
Xvlox era um mundo dominantemente científico. Um grupo de cientistas
procurou pe-lo cosmo um planeta afastado, longe dos olhares curiosos para desenvolverem
seus experi-mentos nos mais variados segmentos biogenéticos, bioquímicos,
biotecnológicos. Vasculha-ram o Universo até que encontraram um
planeta bem distante, além das fronteiras conhecidas, com difícil
acesso. Instalaram-se e iniciaram a remodelação da sua superfície.
Prédios gigan-tescos foram construídos em estilos diferentes,
aproveitando cada um as múltiplas possibili-dades oferecidas pelo planeta:
claridade, polaridade e luminosidade. Mas com o tempo, foram descobrindo que
os moldes padrões cientificamente aplicados sobre aquela atmosfera não
funcionavam como deveria em virtude da influência exercida pela estrela
Candor. Uma rees-truturação foi idealizada modificando os parâmetros
experimentais a níveis celulares, bioquí-micos. Aprofundaram-se
nas bases de cada unidade, e depois de exaustivos fracassos, cientis-tas e equipes
chegaram a um denominador comum: era muito mais fácil mudar a órbita
do planeta do que estabelecer uma nova metodologia científica de trabalho.
Era consenso para que tudo desse certo, o planeta Xvlox não podia girar
ao redor da estrela Candor, pelo simples fato do "continuum temporalis"
ser inconstante e desigual; o que impossibilitava o desenvolvimento de qualquer
pesquisa mais profunda no campo científico, como desejavam realizar.
A disfunção eletromagnética ocorrida, com a inclinação
do planeta, prejudicava as experiências baseadas nos estímulos
bioeletrônicos. Desta forma, nunca con-seguiriam os resultados pretendidos
em pouco tempo. Era unanimidade o pensamento de que a estrela deveria rotacionar
em volta do planeta. E, enquanto um grupo investigava a estrela Candor: diâmetro,
massa, temperatura, período de rotação, magnitude aparente,
radiação, fon-te de energia, composição; outro grupo
pesquisava o planeta: velocidade de escape da superfí-cie, velocidade
orbital média em torno de Candor, tempo de rotação em torno
do próprio eixo, ângulo entre o plano orbital e o plano orbital
do planeta em graus, e mais, excentricidade orbi-tal, diâmetro, massa,
temperatura média, distância média de Candor, etc. Um trabalho
que ocupava um tempo precioso de todos, sendo que, algumas vezes, quase desistiram
do intento. Depois, passaram longos períodos de intensas experiências,
até que conseguiram determinar como poderiam colocar a gigantesca Candor
girando ao redor do pequeno Xvlox. Seria um processo demorado, mas todos estavam
dispostos a arcar com as consequências que suposta-mente poderiam
ocorrer.
Em princípio injetaram raios de prótons no núcleo da estrela,
que foram modificando o processo de fusão interna, assim como a composição;
em seguida, criaram uma atmosfera artificial ao redor do planeta. Com a estabilidade
do núcleo da estrela, iniciaram a frenagem de Xvlox apoiado num ponto
fixo imaginário dentro da própria Candor, enquanto revertiam a
sua gravidade externa, tornando-a menor, oposta à do planeta. Havia uma
tênue linha impe-dindo que Candor invadisse a superfície do planeta.
Para mantê-la em equilíbrio, atraíram três asteróides
que passaram a rotacionar ao redor de Xvlox. Neles foram colocados sensores
e monitores que alertavam qualquer alteração significativa no
campo magnético.
Finalmente, os novos testes indicavam resultados satisfatórios, e com
isso, todos esta-vam preparados para darem prosseguimento ao projeto inicial.
Reativaram os laboratórios espalhados por Xvlox, as equipes reunidas
e as diretrizes do programa original foram passa-das e repassadas exaustivamente.
Podiam receber as cobaias sem qualquer problema. Não precisavam mais
relutar.
Estabeleceram novo contato com o cargueiro intergaláctico que trazia
suprimentos pa-ra o planeta, encarregando seu comandante de iniciar o transporte
dos terráqueos e animais o mais rápido possível.
Os primeiros humanos que chegaram, vieram desacordados dentro de caixões
lacra-dos. Estavam mortos quando abriram as tampas; faltara ventilação
suficiente durante o trans-porte. Alguns animais, entretanto, conseguiram sobreviver.
Chipanzés, gorilas, cães, lagartos, crocodilos e uma infinidade
de outros bichos desconhecidos, mas que sabidamente por eles, não pertenciam
à fauna terrestre. O aspecto comparativo seria de fundamental importância
para se avaliar até que ponto o cérebro humano evoluíra,
estacionara ou regredira. Descarta-ram-se dos corpos humanos. As massas encefálicas
cinzentas foram dispostas em líquidos quimicamente preparados. Quinze
cérebros flutuantes dentro de tubos rodeados de filamentos e eletrodos
eletrônicos. Ao serem automaticamente estimulados, alguns lobos reagiram
pron-tamente. Não foram reflexos induzidos ou mecânicos, mas em
todos os monitores surgiam imagens desfocadas, em movimentação
constantes. Isso significava que nada se perdera, ou melhor, fariam uma avaliação
mais profunda dos cérebros: neocórtex, sistema límbico
e me-sencéfalo. Do outro lado do planeta, cientistas e equipes trabalhavam
com os animais: chipan-zés e gorilas estavam sendo expostos aos raios
contínuos com alto teor radioativos e estímulos elétricos
diretos nas amídalas.
Qual era o objetivo desta empreitada toda? O que levava cientistas a se lançarem
pelo espaço infinito, depois transformarem um planeta num sólido
complexo científico, não sem antes mudarem o seu sistema planetário,
para melhor organizarem suas amostras e experiên-cias? Quais objetivos,
metas e metodologias implicavam nessas transformações todas? Inclu-sive,
o próprio distanciamento da comunidade científica. Por que tamanho
isolamento? O que havia para ser oculto? Qual a importância dos seres
humanos no projeto? Por que pesquisa-vam somente do cérebro?
A resposta estava justamente na mente dos cinco cientistas que planejaram tudo.
E ne-nhum deles ainda havia se disposto a revelar o que pretendiam na realidade.
Tudo o que se propuseram em realizar fora concluído com êxito.
Sucesso absoluto! Por isso suas equipes mantinham-se fiéis a eles, em
todos os empreendimentos desenvolvidos até àquele presente momento.
Eram cinco mentes brilhantes que trabalhavam em harmonia e em conjunto. Cada
um dedicava-se à sua área de pesquisa, mas obtinham no final,
os resultados pretendidos para prosseguimento do plano definido por eles. Todos
os integrantes das equipes sabiam apenas os detalhes, mas, como nunca estavam
juntos, ficava impossível unir todos os dados. O com-putador central
que organizava todos os trabalhos era manipulado apenas pelos cientistas. A
credibilidade deles perante suas equipes era impecável. Ainda mais após
virem a estrela Can-dor girando ao redor do planeta Xvlox. Muitos consideraram
a ideia impossível, até acontecer, depois disso, o respeito
deles pelos seus mestres aumentou significativamente.
Com a chegada de novos corpos humanos, agora preservados e vivos, em conservantes
plasmáticos, as pesquisas avançaram muito. Os cérebros
mantinham-se intactos, sem sequelas aparentes, e estavam prontos para fazerem
as conexões comparativas há tanto tempo espera-das. Os cérebros
anteriores serviram apenas para determinar que os alcalóides e drogas
afeta-vam algumas áreas sobrecarregando os impulsos eletrônicos,
por serem parecidas às proteínas cerebrais. A fascinação
aumentava na medida em que os cinco cientistas juntavam também as informações
realizadas com o cérebro dos animais. Agora haviam chegado a um consenso.
Era hora de reunir todas as equipes e trabalhar em conjunto.
Uma reunião geral foi marcada para esclarecer os objetivos futuros e
os novos cami-nhos que as pesquisas deveriam tomar, já que estavam bastante
avançadas, inclusive, implica-va na mudança dos centros intermediários
para o núcleo central, deixando equipes menores na busca de soluções
viáveis para as decisões que seriam tomadas. Era a primeira vez
que reuni-am todos no Salão Principal. Raramente vinham até ali;
cabia a cada cientista coletar informa-ções e adicioná-las
ao computador central.
Centenas de seres aguardavam a chegada dos cientistas, e ao adentrarem no Salão
Principal, foram ovacionados com alegria e admiração. Sem muita
conversa iniciaram a pales-tra:
"Bem. Queremos agradecer a presença de todos aqui. Sabemos que
ninguém queria estar nesta reunião, pelos muitos afazeres que
possuem, mas será a partir deste raro momen-to em que estamos juntos,
que pretendemos mostrar o que trará mais um sucesso para toda a equipe".
"Como todos devem saber, a estrela Candor não vai permanecer
para sempre giran-do ao redor do nosso planeta. O seu núcleo está
se modificando e retornando ao estado pri-mitivo. O tempo? Acreditamos que o
suficiente para concluirmos nossas pesquisas e já es-tarmos em outro
planeta. Já temos um em vista, mas... por isso estamos aqui para explanar
a situação. A Doutora Virly vai falar a respeito do planeta Terra...
Mas antes de iniciar, quero parabenizá-la, mais a Doutora Lsmyg que desenvolveram
o nosso biossistema...".
- Não acho necessário comentar o que o Dr. Xytar acabou de dizer.
- disse a cientista Virly, se erguendo. - Tudo foi realizado em equipe, e se
não fosse o esforço de todos, nunca teríamos alcançado
nossos objetivos... Bem, o planeta Terra pertence a um sistema solar com uma
estrela que emite luz e calor chamado Sol; e ao seu redor giram mais oito planetas
e saté-lites. A Terra em si é o único mundo habitado, isto
é, segundo apurei do cérebro dos humanos no laboratório.
Possui atmosfera que consiste quase inteiramente de dois gases: nitrogênio
e oxigênio, embora existam outros gases em baixas concentrações.
Um terço do planeta é co-berto de água, e todas as criaturas,
flora, fauna dependem dela para sobreviver. Os corpos dos humanos são
constituídos de 78% deste líquido. Existe um processo cíclico
essencial para a vida vegetal e animal realizada através da radiação
solar, que envolve água, oxigênio, dióxido de carbono e
nitrogênio, além de outros gases menores. Como vocês podem
ver, é um ecossis-tema variado, completamente diferente do que temos
aqui em Xvlox. O Doutor Ortn fez estu-dos genéticos das criaturas que
lá vivem. -concluiu ela apontando para outro cientista.
- Na verdade, o Código Químico chamado DNA - Ácido desoxirribonucléico
- uma cadeia de moléculas composta de fosfato e açúcar
em forma de dupla hélice, é muito simples; levando em consideração
que a maioria dos aqui presentes possuem outros modelos genéti-cos estruturais
diferentes. Mapeamos os 149.236 mil genes que compõem o corpo humano,
sendo que a partir dos 68.343 genes, ocorreram novas ligações
fisicoquimicas com leitura de novo sequenciamento dos ácidos nucléicos
e infinitas variações celulares. Com essas bases temos condições
de criar e desenvolver um ser humano completamente modificado... O Dou-tor Xytar
poderá falar mais a respeito... - disse o cientista apresentando a outra
colega.
- Quando eu, o Doutor Xytar, mais a Doutora Lsmyg nos encontramos pela primeira
vez, depois de muito tempo afastados, percebemos que estivéramos pesquisando
algo em co-mum: a raça humana. Logo depois, tivemos a grata surpresa
quando aderiu ao nosso grupo os doutores Ortn e Virly... Todos nós sabemos
da existência das restrições impostas pela Federa-ção
quanto ao envolvimento de outras raças com os seres do planeta Terra,
sejam elas quais forem. Um dos motivos do nosso isolamento foi esse: O nosso
interesse científico justamente pelos seres humanos. No início
conseguimos despistar a Federação Intergaláctica, mas fomos
espionados, delatados e proibidos de prosseguirmos com nossas pesquisas... Foi
muito triste! Havíamos chegado ao primeiro estágio da evolução,
onde todos os embriões se assemelham... Para o ser humano possuir apenas
um código químico de dupla hélice, e viver da transforma-ção
de dois gases nobres que interagem com outros processos químicos e físicos
complexos, precisa passar sempre pelo antigo sistema evolutivo... Toda a sua
ontogênese é baseada nesta organização; não
existe outra alternativa... A não ser que se desenvolvam seres geneticamente
modificados desde o óvulo, onde os centros cerebrais recebam cargas eletrônicas,
e sejam automaticamente estimulados a desconhecerem o sistema primitivo (antigo
sistema evoluti-vo), e evoluírem com novas informações...
Nesse caso, serão implantados nos primeiros, ele-trodos eletrônicos
para que o cérebro possa estimular a própria produção
de proteínas... - deu uma parada e olhou para todos. - Devem estar se
indagando qual o objetivo disso tudo. Como já foi dito, a estrela Candor
não permanecerá eternamente girando ao redor de Xvlox, e nin-guém
está aqui esperando primeiro acontecer uma tragédia para depois
pensar no que fazer... Nós temos um plano e vamos passar para todos vocês.
Deixo a cargo do Doutor Xytar a con-clusão desta reunião.
- Como são as coisas. Parece que o destino nos reserva surpresas.
Mesmo para men-tes científicas como as nossas, que acreditam somente
naquilo que pode ser prático e execu-tado com êxito, às
vezes de forma empírica... Quando iniciei meus estudos sobre a raça
hu-mana, tinha uma meta clara, que foi compartilhada depois pelos outros colegas,
mas de re-pente, me vejo utilizando tudo aquilo que desenvolvemos - em teoria
- porém de forma real... Bem, vocês já devem ter percebido
que o nosso projeto primordial é a criação de seres hu-manos
geneticamente modificados, que serão levados para o Planeta Terra. E
pelo grau de inteligência, penetração social e influência
nos mais diversos setores tecnológicos, políticos, religiosos;
irão reestruturar todo aquele mundo para que possamos habitá-lo.
Esses novos humanos serão denominados de: "Xvlox", em homenagem
a este planeta. Durante suas vidas na Terra irão se misturar entre os
machos e fêmeas da espécie de onde nascerão outras cria-turas
com perfis geneticamente alterados. Obtivemos ótimos resultados com as
experiências realizadas nos embriões. Essa nova geração
de "Xvlox Humanos" irá disseminar em 50 anos mais de 2 milhões
de outros seres. O crescimento deles não será igual ao dos humanos
co-muns. Em 200 anos terrestres, serão mais de 1 trilhão, e com
isso o domínio do planeta dar-se-á como consequência
natural, assim como a transformação do seu biossistema para a
nos-sa chegada. Observem que em nenhum momento usaremos de violência ou
agressividade. O tempo se encarregará da eliminação dos
humanos comuns dentro do prazo de no máximo 350 anos... Será uma
dominação silenciosa! Então poderemos dar adeus a este
nosso querido planeta... Nós não vemos nenhum empecilho para darmos
continuidade às nossas pesquisas... Uma equipe continuará o rastreamento
de naves nas proximidades, e na busca de soluções viáveis
para tudo o que foi dito hoje... Como medida de segurança, para que possamos
traba-lhar com tranquilidade, e pelo sucesso do projeto, durante uma das
fases experimentais inici-ais neste planeta, onde todos participaram, implantamos
em cem elementos das equipes, in-clusive em nós mesmos, eletrodos cerebrais
que reagem a determinados impulsos emocionais, e que se encontram conectados
a uma bomba Dlux 14, no centro do planeta, com ressonância eletromagnética
na estrela Candor. Procedemos assim para evitar que todo o nosso sacrifí-cio,
na execução do projeto, caia em mãos erradas. Essa bomba
somente será ativada se os cem escolhidos tiverem o mesmo impulso emocional
ou reagirem a um mesmo estímulo... Eu acho impossível... Em todo
caso, olha lá o que vocês pensam! - brincou ele. - Cada equipe
já possui as novas diretrizes, assim como os seus novos setores. Nos
laboratórios, observarão os novos equipamentos instalados com
os quais irão trabalhar.
Os cinco cientistas deixaram o salão, e todos se dispersaram para os
novos locais indi-cados pelas cores fortes nos pisos. Estavam curiosos para
conhecerem os novos equipamentos introduzidos nos laboratórios. Uns tinham
aspectos ovóides, transparentes, e no interior, pe-quenas bolsas texturizadas
unidas a tubos filigranados multicoloridos. Eram milhares dentro de cada equipamento,
ligados a diversas máquinas controladoras, que se conectavam ao com-putador
central. Outras máquinas chegavam despertando curiosidades. Nestas não
havia se-quer entradas, nem conexões aparentes: apenas grandes tubos
vitrificados e abaulados. A maioria dos aparelhos que estavam nos laboratórios
eram fabricados em materiais translúcidos e extensões, eletrodos
e filamentos em fibras semitransparentes. Todos se mantinham ansio-sos e em
visíveis expectativas para verem os equipamentos em funcionamento.
*****
Nas máquinas ovaladas, dentro das bolsas texturizadas como úteros,
as primeiras es-truturas humanas começaram a surgir. Luzes e energias
cintilantes, descargas eletroquímicas bombardeavam cada parte do minúsculo
embrião, enquanto no computador central, viam-se em detalhes toda a formação
e as mudanças acontecendo. E na medida em que os fetos iam crescendo,
eram passados para espécies de manjedouras e imersos em líquidos
protéicos e estimuladores cerebrais. Nos estágios seguintes, com
o ser formado, tendo já o aspecto com-pleto de criatura humana, era novamente
mergulhado em oxigênio hiperbárico sob pressão para aumentar
o nível de Quociente Intelectual. Os processos evolutivos iam sendo testados
e aprovados imediatamente com êxito. Os Humanos Xvlox começavam
a passar pelo último estágio completando a fase de amadurecimento
biológico. Os tubos vítreos presos às braçadei-ras
se dividiam em dois blocos de compartimentos em cores: o maior se elevava, enquanto
o corpo era colocado no seu interior, em seguida, preenchido por um líquido
cristalino e lacra-do, tornava-se imediatamente sólido com aparência
metalizada, mas transparente. Depois era levado por um elevador para uma sala
muito fria, onde se encontravam centenas de outros corpos em igual estado. A
fase estava concluída. Esse procedimento se tornara quase mecâni-co,
e, decorrido algum tempo, os grupos de Humanos Xvlox estavam prontos para serem
en-viados ao planeta Terra. Quando lá chegassem, o processo criogênico
seria revertido e estari-am aptos para buscarem a cidadania terráquea
e darem sequência ao projeto.
Um dos fatores importantes para o sucesso da operação, foi que
os Humanos Xvlox não eram criaturas padronizadas e sim heterogêneas.
O processo de miscigenação fora cir-cunstancial e assim, poderiam
se infiltrar em todos os segmentos raciais, sem utilizarem quaisquer artifícios
que causassem suspeitas. Para a região do planeta onde fossem, falariam
o idioma fluentemente sem sotaque. Microeletrodos faziam conexões elétricas
nos lobos cere-brais, que facilitariam um rápido aprendizado de até
duas línguas, fixando-se naquela que mais fosse proeminente na comunidade.
A nave discoidal pousou no descampado, próximo à saída
do salão principal, e cabos extensores flutuantes, se prenderam ao redor
da mesma, vindos das diversas salas subterrâ-neas. Em seguida, a partir
de uma coordenação primorosa e silenciosa, os tubos enfileirados
foram sendo levados para o interior da espaçonave. Uma visão extraordinária
sob reflexo da luz roxa alaranjada do entardecer da estrela Candor. Durante
o período de duas rotações do planeta Xvlox, os cientistas
acompanharam o carregamento. Permaneceram inexpressivos e calados até
o momento em que os cabos foram puxados para dentro dos galpões completa-mente
vazios. Então suas expressões demonstraram toda a alegria sentida
por aquele instante todo especial. Completado o carregamento, a gigantesca nave
girou sobre si mesma, e partiu em direção ao cargueiro intergaláctico
que a aguardava no outro lado da falha, num ponto estratégico, onde seria
acoplada e levada para o planeta Terra em segurança.
*****
E tudo aconteceu tão rápido, que o próprio Comandante do cargueiro nem percebeu quando foi cercado por duas naves da Federação. Elas surgiram do nada. Nem os radares acu-saram a aproximação delas pelo subespaço. Dentro do cargueiro intergaláctico a tripulação agiu imediatamente tentando fugir para o hiperespaço, mas descobriram tardiamente que os controles estavam bloqueados, inoperantes. Não puderam arriscar qualquer outro tipo de rea-ção, pois guardas fortemente armados logo se transferiram para bordo, aprisionando a todos.
*****
O disco veio pela ponte ondulante; percebia-se por uma característica: a matéria em desequilíbrio com a energia. Como se já soubesse da situação, furtou-se rapidamente para a distância, numa fuga desembalada pelo espaço, enquanto tentava acertar a nave da Federação com uma bateria de tiros. Apesar da argumentação do oficial da nave para que se rendesse, mais dois outros tiros foram disparados, e o contra-ataque aconteceu apenas com uma descar-ga do canhão protoplasmático de energia Binósica. O objetivo da Federação não era destruir, mas o disco ficou momentaneamente aprisionado dentro de uma trama fosforescente muito forte, em seguida, evaporou de forma estranha.
*****
Nesse instante, um alarme sonoro soava por todo o planeta Xvlox. Era novidade
aque-le som. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Imediatamente, os
cientistas se reuniram com todas as equipes.
- Recebemos uma mensagem do Comandante da espaçonave Virago. Diz ele
que o cargueiro foi detido por uma nave da Federação, e que estava
sendo perseguido por outra. Em seguida, silenciou... Isso só tem um significado:
a esta hora o Comandante do cargueiro já confessou tudo, e em breve estaremos
avistando as naves da Federação próximas ao nosso planeta...
Nós decidimos que, aqueles que desejarem partir, antes da chegada da
Frota devem fazê-lo agora! Existem naves interpessoais prontas nos subterrâneos.
Os eletrodos cerebrais só funcionam no solo do planeta; ao alçarem
voo estarão livres, pois perderão o contato.
Naquele instante criava-se um impasse entre todos. Por que fugir? E para onde?
Se dedicaram suas vidas a trabalhar para os cientistas? Depois... Nunca encontrariam
alguém que tivesse mudado a órbita de uma estrela, ou criado uma
nova raça... Observaram diversos pon-tos luminosos numa tela lumínica,
que indicavam a presença das naves da Federação. Volta-ram-se
para os cientistas que permaneciam impassíveis, fitando-os, aguardando
uma decisão. Em seus olhares havia unanimemente uma única determinação,
um só pensamento.
Uma faísca elétrica rompeu do imenso salão em forma de
flash gigantesco. O planeta estremeceu e se desintegrou num brilho cegante.
Nota do Navegador: Não sei por que existem restrições da Federação com relação ao planeta Terra? É uma situação bastante constrangedora, que vai contra até os próprios princípios da O.N.F.I. que incentiva e esti-mula a exploração espacial. Fico me perguntando: o que leva seres brilhantes, como os cientistas de Xvlox, a ficarem obcecados por uma raça que vive do outro lado do cosmo, em outra dimensão? O que têm os seres hu-manos de tão especial assim? Mas uma coisa me deixou intrigado: Por que em seu Relatório de Bordo, o Oficial da Federação colocou "nave dissimulada" e não "nave destruída?".