Don acordou assustado com o terremoto que sacudia sua casa. As paredes balançavam
tanto que tudo que não fosse preso em alguma coisa caiu no chão.
A poeira era uma coisa sem descrição, a única correlação
possível seria com uma tempestade de areia. O pó caia do teto
e deixou a casa de Don suja como nunca tinha estado antes, quase todo o reboco
tinha caído. O terremoto cessou e Don saiu de baixo de sua cama, para
onde tinha ido quando o teto parecia que ia desabar em sua cabeça, para
verificar os estragos, que, por sinal, não eram poucos. Por curiosidade
foi até a janela para ver como estava o pátio de sua casa. Qual
não foi sua surpresa ao verificar que nada tinha mudado, com exceção
de estar com um pouco mais de terra espalhada pelo caminho, estava tudo como
antes.
Aquilo deixou Don intrigado. O terremoto parecia ter sido grande não
havia nada quebrado nem nenhuma rachadura no chão. O pátio estava
apenas sujo. Será que tinha sido uma tempestade de areia? Don analisou
essa possibilidade e a recusou logo, já tinha passado por várias
tempestades de areia e nenhuma tinha feito aquilo. Nem mesmo uma pequena, o
pátio sempre fora completamente destruído.
Isso ficou na cabeça de Don por algum tempo, de qualquer jeito não
precisaria reconstruir o pátio e isso já era um alívio,
os estragos não tinham sido tão grandes. Resolveu limpar logo
a casa, o dia estava lindo com o sol nascendo naquele momento, também
não estava tão frio, até por que estavam no verão,
e Don pensava em visitar Sel naquela tarde. Realmente aquele era um ótimo
dia para falar com Sel, quem sabe hoje ela não aceitava sua proposta.
A casa de Sel não ficava muito longe da sua, pouco além do horizonte
ao sul. O sol convidativo fez com que Don saísse para o pátio
e o pensamento em Sel fez com que ele contornasse a casa e olhasse para o sul.
A imagem que se formava nos olhos de Don era, simplesmente, aterradora. Don
sentia um terror tão intenso que não conseguia se mexer. Seus
olhos se fixavam naquela forma desconhecida. Ela era gigantesca. De repente
o sol foi tapado e tudo se escureceu. Don levantou seus olhos e se ele já
sentia um terror profundo, o sentimento que o invadiu naquele momento não
pode ser expresso em palavras, era algo muito além do mais profundo terror.
Algo de proporções imensuráveis se deslocava, cada vez
mais perto do solo. O céu estava literalmente caindo sobre sua cabeça.
Don não conseguia se mexer. E não se mexeu mesmo, até o
último momento, quando se lembrou de Sel. Tentou correr para, simplesmente,
vê-la uma última vez, mas já era tarde demais. O céu
esmagou Don e ele cessou de existir.
Cerca de quarenta minutos depois o planeta Terra estava em festa. Depois de
muitas décadas o ser humano pisava em dois astros ao mesmo tempo novamente.
Ao invés da lua, dessa vez era o planeta Marte. A televisão, em
rede mundial, transmitia "ao vivo" (entre aspas, pois o delay para
o sinal sair de marte e chegar na terra é grande, cerca de quarenta minutos)
o primeiro homem a pisar em Marte. Repetindo as palavras de Niel Armstrong,
o astronauta mandava, direto de marte, uma mensagem de paz e o desejo de um
futuro próspero para a humanidade. Enquanto fazia isso, cerca de quarenta
minutos antes, ele sabia que todo o mundo estaria lhe vendo e compartilhava
da sua alegria.
O que ele não sabia era que enquanto pisava no chão marciano,
uma pequenina marciana chamada Sel olhava pela janela de seu quarto e pensava
que aquele era um lindo dia. E que provavelmente Don iria visitá-la e
fazer novamente o seu pedido. E que por tudo o que é mais sagrado, hoje
ela iria aceitá-lo.