O homem do sul andava solitário, se escondendo de tudo e de todos, em
direção ao porto de Umbar. Ali ele esperava conseguir um navio
que pudesse levá-lo de volta para casa. Maldito Sauron, pensava ele,
com todo seu poder não conseguiu vencer esses porcos de Gondor. Muitos
de seus amigos morreram na batalha em frente ao Portão Escuro de Mordor.
Ele conseguiu sobreviver e fugir dos caçadores de Gondor. Malditos. Tudo
que ele acreditou destruído, e agora o norte está fechado para
ele e seus compatriotas para todo o sempre. Uma ave marinha voando por cima
das árvores indica que o mar está perto e em breve estará
em casa. Isso era um consolo. O azul do mar desponta entre as árvores,
e em cima de um penhasco ele vê a imensidão do oceano. Oceano esse,
que de acordo com as lendas, leva ao mundo imortal de Valinor, morada dos Valar,
senhores de Arda. Malditos Valar. Se eles realmente existissem teriam impedido
essa guerra estúpida. Milhares morreram e a destruição
varreu a Terra Média. Se eles fossem tão poderosos poderiam ter
impedido todo o mal e destruído de uma vez por toda os malditos homens
de Gondor. Mas esses deuses não eram de nada. Sauron tinha razão,
como pode ser bom uma divindade que com todo o seu poder permite que o horror
caia sobre seus protegidos.
- Malditos Valar! - gritou o homem no alto do penhasco em direção
ao oeste. No horizonte as nuvens se dispersaram e o homem do sul notou que sua
visão se aguçava e ele podia enxergar muito longe, mais longe
do que qualquer homem mortal jamais enxergou. Ao longo do horizonte ele viu
a sombra das Pelóri, as montanhas de Aman, e com elas o esplendor de
Alqualondë, o Porto dos Cisnes. E nesse momento ele foi destituído
de todo o mal que foi impregnado em seu ser pelas palavras de Sauron, e ele
percebeu seu erro e se arrependeu. Sua visão voltou ao normal, e ele
então entendeu, depois de ser tocado pelo poder de Manwë, o rei
de Arda, que ele tinha sido corrompido pelo mal. E por isso não teria
mais a benção dos Valar. Isso o deixou ainda mais irado, e sua
raiva aumentou ainda mais. Olhando para o Oeste gritou novamente - Malditos
Valar! - e deu as costas para o horizonte. O horizonte que esconde Valinor,
a Terra Imortal. O seu horizonte que estava, agora, perdido.