A Garganta da Serpente
  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

As mãos trêmulas seguram o envelope

(JanaKirschner)

As mãos trêmulas seguram o envelope. Correram ligeiros os olhos sobre o papel. Procuram algum sinal, qualquer coisa que a faça entender o que há escrito ali.

Finalmente.

Amassou o envelope. Fechou os olhos numa tentativa de anular aquela sensação. Um negro líquido espesso percorrendo o interior de seu corpo, afogando na garganta.

Foi para casa, nem chorar conseguiu. Ela toda água, náufraga em si,e não podia, não podia ser fraca, pálidas suas faces e secas. Ela cinza e seca.

Ainda não assimilara o que ocorria com ela. Vertiginosamente passara. Como uma sombra que não se vê, apenas se sente seu hálito frio.

Telefone. Liga para o namorado. Uma voz surda e embaçada na garganta. Ainda o líquido, sempre ele a afogá-la.

- Venha aqui em casa.

Sentou-se no sofá. Espera. Liga o abajur. Só ela, imersa na penumbra da sala. Flutuando dentro da escuridão. Entregue ao seu mundo misterioso e tubulento.

- Como falarei? Se ele não aceitar? Certamente dirá "tudo bem", abre a porta e sai. Adeus. Eu posso realmente adoecer, piorar. Um dia acordo e... não acordo. Não quero morrer! Se doer? Pior que a morte é a dor. Pensará ele que a culpa é minha?

Toca campainha. Ela estremece. Calculadamente se dige à porta. Cada passo no azulejo, uma eternidade. Contando cada um. Abre. Ele em pé, sereno olham-se.

- Quer entrar?

menu
Lista dos 2201 contos em ordem alfabética por:
Prenome do autor:
Título do conto:

Últimos contos inseridos:
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente
http://www.gargantadaserpente.com.br