Um dia conheci Angélica, era comum, normal como qualquer outra pessoa.
Me falava quase sempre com um sorriso nos lábios, ora uma risada corriqueira.
Moça jovem, casada e mãe de uma criança. cabelos castanhos,
tingidos de loiro, pele clara e olhos castanhos, com um brilho no olhar jovem
e costumeiro.
Não éramos íntimas, mas nos dávamos bem, como duas
pessoas civilizadas, educadas. Quando nos encontrávamos, ela só
sorria, falava, falava muito. Apesar de jovem, era conservadora e caseira, pela
vida que levava, parecia ter mais idade, carregava consigo uma realidade, que
de fato, não era nem um pouco interessante.
Durante um bom tempo eu e Angélica sorrimos uma para a outra, era quase
uma rotina, vivíamos num ambiente cheio de pessoas empolgadas,como nós,
naquele teatro, e sentávamos, todos sobre o palco, éramos atrizes
e felizes ali naquele lugar.
No palco,eu via Angélica representar, uma mulher mais velha do que ela
era, não por fora, mas por dentro, cansei de ver aquela cena, patética
e repetitiva, era um suplício. Em minha cena, pouco eu falava e muito
ouvia, e a via.
Um dia, algo inusitado aconteceu, uma briga, um conflito que eu jamais imaginara
viver naquele ambiente, Angélica me criticou como um ser algoz, sem nenhum
brilho nos olhos,aquilo era uma apunhalada no meu peito, ela me maldisse, disse,
poucas e indesejadas palavras. Depois de tudo acabar nós nos despedimos
e eu falsamente dei e recebi um beijo no rosto, ela havia caído no meu
conceito e depois do beijo falso, nunca mais a vi.