O relógio holográfico marcou sete horas da manhã. Uma
suave música eletrônica começou a tocar preenchendo todo
o ambiente. No quarto o som também pode ser ouvido. A câmara de
repouso abriu-se lentamente e um magro rapaz colocou os pés descalços
no chão. Seus olhos piscavam lentamente e sua cara estava amarrotada.
Uma tela holográfica surgiu flutuando a um metro e meio do chão
como se fosse uma janela em pleno ar. Uma mulher apareceu na tela:
- Zhed? Você já acordou meu filho? Não vá perder
mais uma vez a hora de ir para a escola. Você já perdeu a hora
três vezes só esse mês. Eu tenho que te acordar todo dia
e te lembrar? Depois dizem que eu sou uma mãe ausente...
- Tá bom, tá bom. Já to indo escaneando o esquema... Já
iniciei...
- E pare de falar nessas gírias idiotas. Lembre-se: eu estarei no fim
de semana. O resto está tudo em ordem, então não há
necessidade de se preocupar. Mas, qualquer problema liga conecta aqui na empresa,
tudo bem querido?
- Ok, ok mãe. Bye.
A projeção fechou-se e o rapaz levantou. Foi até o banheiro,
depois foi à cozinha e ingeriu duas cápsulas de "café
da manhã", bebeu suco e foi até a sala de estar. Já
era quase oito horas. E a aula iria começar. Sentou-se na poltrona principal
da sala e iniciou o comando de voz:
- Oito horas da manhã, sala virtual do Colégio Iron Heart. Aula
de robótica.
Quando deu o horário marcado, um sinal eletrônico e uma voz sintética
avisaram:
- Oito horas da manhã. Iniciando sala de Holo-conferência virtual.
Programação padrão. - Em apenas cinco segundos a sala de
estar havia se transformado em uma sala de aula virtual. Vinte alunos holo-projetados
de suas casas interagiam em holo-ambientes virtuais. A frente um robô
de aparência humanóide iria iniciar a aula.
- Bom dia alunos de Iron Heart. Hoje é quarta-feira, 02 de maio do ano
de 2229. Sede da Organização Escolar, Steel Coast City. Iniciemos
a aula de hoje.
O professor era um robô Orion série 2230. O mais sofisticado do
mercado. Seu designe era de traços leves e arrojados. Todo sua estrutura
metálica era coberta de uma branca película de plástico
metálico. Poucas partes como os braços e as pernas eram cromados,
com ditava a nova moda. Um saudosismo aos modelos do século passado.
Mas muito mais elegante. Seu rosto era sério e suave. Brancos como todo
o resto do corpo. Esse modelo de lecionar era denominado Melquizedeque.
Melquizedeque apontou para uma tela de cristal que mais parecia uma janela e
em letras azuis as seguintes palavras surgiram:
"AS TRÊS LEIS DA ROBÓTICA
1 - Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão,
permitir que um ser humano sofra algum mal.
2 - Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por
seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a
Primeira Lei.
3 - Um Robô deve proteger sua própria existência, desde que
tal
proteção não entre em conflito com a Primeira e a Segunda
Leis.
MANUAL DE ROBOTICA 56ª Edição,2058 A.D."
Melquizedeque começou em voz suave e firme:
- Essas são as três leis da robótica. Alguém sabe
o que significa? Para que servem?
Zhed bocejou. Outros alunos seguiram o exemplo, outros apenas olhavam vidrados...
Enfim um rapaz respondeu:
- Meu pai disse que é como se fosse um freio para as ações
dos robôs. Como uma coleira.
- Correto. Caro senhor Myers. Talvez eu não tivesse usado as sábias
palavras de seu pai com tanta eloquência, porém, se quisermos
poupar tempo e irmos direto ao assunto... Podemos colocar dessa forma.
O robô tutor continuou:
No começo do século vinte e três houve o que chamaram de
o nascimento da robótica suprema. Cientistas conseguiram elaborar organismos
robóticos associados a sofisticados cérebros de inteligência
artificial. Todas as nações debruçaram-se sobre tal projeto.
Isso resultou num grande avanço no campo da robótica. Porém,
com é inerente da sociedade humana, tais projetos foram utilizados pra
todos os fins, desde aos mais nobres até os mais baixos e vis: como roubos
de corporações e assassinatos de presidentes. É sabido
que então houve a guerra Robótica que durou quase 25 nos. Terminou
com um grande tratado de paz entre as maiores nações e a criação
das três supremas leis da robótica que guiariam os passos robóticos
até os dias atuais.
De repente a sala de holo-projeção transformou-se em outros ambientes
e os alunos puderam ver as guerras ao vivo como se estivessem dentro delas,
depois viram o tratado sendo assinado e por fim viram robô sendo usados
para todos os fins em todas as partes do mundo.
- Bom, senhores. Por hoje basta. Espero revê-los em uma semana.
A holo-sala com Melquizedeque e todos os alunos desapareceu. Mais uma vez a
sala de estar de Zhed surgiu sóbria e sombria como antes. O rapaz saiu
da sala sentindo-se entediado. Foi até a janela da sala e olhou a cidade
do alto do 230º andar de seu edifício. Olhou todos os automóveis
planando no céu e robô por toda parte trabalhando no trânsito,
em obras de construção, em plataformas, aéreas, por toda
a cidade. Olhou e viu que não havia pessoas em nenhumas das vias de pedestres
que cruzavam os prédios... Também...Com tanta violência
nas ruas e os demais riscos, quem sairia de casa? Com todo o conforto de aulas
virtuais, trabalhos virtuais e até pais virtuais... Quem sairia de casa?
Zhed olhou para um pequeno e desajeitado robô que soldava uma ponte aérea.
Sentiu muita inveja de sua liberdade, de seu andar pelas ruas... De sua falta
de humanidade.
Naquele momento, Zhed sentiu-se triste porque queria ser robô.