........Don Marcelo, o sábio, contando-me.....
O Domuyo é uma montanha.
Tem mais de 5.000 m de altura e é um dos muitos vulcões extintos
na Patagonia.
O cume é coroado de neves eternas e em baixo, no sopé, há
fontes de águas termais, sulfurosas, quentes e medicinais. Os índios
Mapuches sempre o consideraram mágico, místico dotado de estranhos
e misteriosos poderes. Ainda hoje, costumam levar seus doentes a banharem-se
nas águas quentes e pedem ao Domuyo que os cure. Antiquíssimas
lendas afirmam que grande parte da Cordilheira dos Andes é ôca
e no seu interior vive uma civilização
adiantadíssima, cujos ancestrais ensinaram aos nativos do continente
a construírem pirâmides, a observar o curso das estrelas, engenharia,
medicina, etc... Ainda segundo Don Marcelo, existem portais secretos, entradas
dissimuladas, em vários pontos da Cordilheira, sempre guardadas por um
índio de aspecto pobre e humilde, mas capaz de reconhecer
psíquica e espiritualmente alguém que chega e pode e deve ter
permissão para entrar, mesmo que não saiba. Estes guardiões
têm a capacidade de reconhecer as pessoas especiais que o Destino de alguma
forma conduz até lá... por e para algum propósito...
A vegetação ao redor do Domuyo é exuberante e rica, mostrando
e escondendo mágicas trilhas, senderos... Não cheguei a ir até
o Domuyo, não tive a oportunidade, mas a descrição que
Don Marcelo me fez permanece vívida até hoje.
Meses após ter voltado, começaram os chamados "sonhos recorrentes"
, ou seja, sonhos que se repetiam iguais noite após noite.
Nesses sonhos eu me via frente ao Domuyo e conversava com a montanha
num idioma desconhecido mas que me saía fluentemente dos lábios.
Rios de lágrimas corriam de meus olhos enquanto eu contava para o Domuyo
todas as tristezas e frustrações, todas as dores e angústias
vividas nesta vida e em outras vidas...
Frequentemente acordava com o rosto banhado em lágrimas, o peito
arfante
e murmurando palavras desconhecidas... Então, numa madrugada o poema
nasceu... e os sonhos foram-se embora...