- Nadja, o que você tem? Está com algum problema, mana?
- Estou na rua. Sabrina, minha companheira de tantos anos, vai casar e pediu
para eu arranjar outro lugar pra morar.
- Puxa! E agora, você já sabe aonde vai ?
- Nem pensei. Estou totalmente baratinada. Só sei que preciso deixar
urgente o apartamento da Sabrina. Que preciso de um local para me acomodar.
Você não quer quebrar esse galho pra mim?
- Claro, amiga. Será um prazer ajudá-la. Amigo é pra isso
mesmo. Mas, apenas até você se instalar melhor, porque vivo numa
kitnet e o espaço é muito pequeno, não dar pra dividir
com ninguém, certo?
- Tá ótimo! Você já me ajuda demais.
- Se é assim, beleza!
- Hoje mesmo levarei as minhas tralhas, ok?
- Tá. Fique à vontade. Eu te aguardo.
Maria era uma pessoa que não sabia dar um não a seu ninguém.
Menos ainda a um amigo.
"Nadja é uma pessoa muito simpática; além do mais,
trabalhamos há dez anos juntas; não poderei de modo algum dizer
não pra ela." - Maria conjectura com seus botões.
Naquele mesmo dia, Nadja entrega as chaves para Sabrina, sua ex-companheira,
e muda-se imediatamente. Dirige-se ao apartamento de Maria. Tudo corre maravilhosamente
bem.
Maria recebe a amiga muito carinhosamente, como sempre fizera; mas, um pouco
apreensiva. Talvez porque iria abrir mão de sua privacidade.
Logo nos primeiros dias, os pileques de Nadja já começam a importuná-la,
, porque, nessas horas, ela não se controlava; vomitava tudo, depois
prostrava-se deitada na rede e Maria era que tinha que fazer a limpeza de suas
sujeiras.
- Puta merda! - Maria possessa com aquela porcaria.
Além de tudo, o pior era o olhar sedutor de Nadja. Como aceitar uma loucura
daquela? Era heterossexual, nunca deu chance pra amiga confundir as bolas; e
por que ela a tratava daquele jeito? Seria porque Maria a tratava bem; ela devia
confundir os sentimentos?
Quando passa a cachaça, Maria procura falar o que sente:
- Mana, assim não vai dar não. Você extrapola as minhas
expectativas, Nadja.
- O que fiz, amiga? Só quis me alegrar um pouco. Que mal há nisso?
- Não, Nadja! A sujeirama quem tem que limpar sou eu. Isso virou rotina
aqui em casa. Você é demasiada espaçosa!
- Você exagera, Maria.
- Exagerando, eu?! Porque não é o contrário, se fosse eu
que vomitasse e você tivesse que limpar, aí eu queria ver!
... Tensão...Silêncio...
- Chega, Nadja! Quero que deixe o meu apartamento o mais rápido possível.
Fiz tudo pra ajudá-la, mas essa situação ficou insuportável.
Não dar mais pra continuar.
Era realmente o fim da picada continuar naquele inferno. Sim, porque a vida
de Maria tinha mudado da água pro vinho. Pensar que ali era tão
calmo, dava pra escutar o zunido de uma mosca e chegar ao ponto que chegou.
Só mesmo amigo da onça pra realizar tal feito. O melhor a fazer
era acabar o mal pela raiz. E foi o que Maria almejou; porém, Nadja desconversa,
dizendo que precisava de mais alguns dias.
Todavia dias depois, aconteceu o pior: quando Nadja em um de seus pileques bota
pra cima de Maria. Nada fora tão nojento. Ela simplesmente declarou que
era apaixonada por Maria, que não aguentava ficar fria e insensível
em ver Maria chegando em casa contando sobre suas paqueras.
Maria pirou, nessa hora, que não conseguiu nem ouvir o que Nadja falava.
Ficou supertriste, empurrou-a e esfregou seu rosto na parede. Não quis
mais nem saber de nada. Porque a única coisa que queria era se safar
daquela situação. Deu um ultimato a Nadja: Que desocupasse o apartamento
antes dela voltar. Saiu arrasada com o que acontecia. À noite, encontra
um bilhete de Nadja, com os seguintes dizeres:
Mana,
Desculpe-me pelos transtornos. Espero que o tempo cure sua mágoa. Sei que só dando tempo ao tempo pra ter de volta o seu carinho. Errei. Jamais poderia fazer o que fiz.Até qualquer dia
Nadja.
Maria leu o bilhete e rasgou imediatamente. No seu coração algo lhe dizia que nunca mais queria ver a cara daquela mulher.