A Garganta da Serpente
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Amiga da onça

(Lourdes Limeira)

- Nadja, o que você tem? Está com algum problema, mana?

- Estou na rua. Sabrina, minha companheira de tantos anos, vai casar e pediu para eu arranjar outro lugar pra morar.

- Puxa! E agora, você já sabe aonde vai ?

- Nem pensei. Estou totalmente baratinada. Só sei que preciso deixar urgente o apartamento da Sabrina. Que preciso de um local para me acomodar. Você não quer quebrar esse galho pra mim?

- Claro, amiga. Será um prazer ajudá-la. Amigo é pra isso mesmo. Mas, apenas até você se instalar melhor, porque vivo numa kitnet e o espaço é muito pequeno, não dar pra dividir com ninguém, certo?

- Tá ótimo! Você já me ajuda demais.

- Se é assim, beleza!

- Hoje mesmo levarei as minhas tralhas, ok?

- Tá. Fique à vontade. Eu te aguardo.

Maria era uma pessoa que não sabia dar um não a seu ninguém. Menos ainda a um amigo.

"Nadja é uma pessoa muito simpática; além do mais, trabalhamos há dez anos juntas; não poderei de modo algum dizer não pra ela." - Maria conjectura com seus botões.

Naquele mesmo dia, Nadja entrega as chaves para Sabrina, sua ex-companheira, e muda-se imediatamente. Dirige-se ao apartamento de Maria. Tudo corre maravilhosamente bem.

Maria recebe a amiga muito carinhosamente, como sempre fizera; mas, um pouco apreensiva. Talvez porque iria abrir mão de sua privacidade.

Logo nos primeiros dias, os pileques de Nadja já começam a importuná-la, , porque, nessas horas, ela não se controlava; vomitava tudo, depois prostrava-se deitada na rede e Maria era que tinha que fazer a limpeza de suas sujeiras.

- Puta merda! - Maria possessa com aquela porcaria.

Além de tudo, o pior era o olhar sedutor de Nadja. Como aceitar uma loucura daquela? Era heterossexual, nunca deu chance pra amiga confundir as bolas; e por que ela a tratava daquele jeito? Seria porque Maria a tratava bem; ela devia confundir os sentimentos?

Quando passa a cachaça, Maria procura falar o que sente:

- Mana, assim não vai dar não. Você extrapola as minhas expectativas, Nadja.

- O que fiz, amiga? Só quis me alegrar um pouco. Que mal há nisso?

- Não, Nadja! A sujeirama quem tem que limpar sou eu. Isso virou rotina aqui em casa. Você é demasiada espaçosa!

- Você exagera, Maria.

- Exagerando, eu?! Porque não é o contrário, se fosse eu que vomitasse e você tivesse que limpar, aí eu queria ver!
... Tensão...Silêncio...

- Chega, Nadja! Quero que deixe o meu apartamento o mais rápido possível. Fiz tudo pra ajudá-la, mas essa situação ficou insuportável. Não dar mais pra continuar.

Era realmente o fim da picada continuar naquele inferno. Sim, porque a vida de Maria tinha mudado da água pro vinho. Pensar que ali era tão calmo, dava pra escutar o zunido de uma mosca e chegar ao ponto que chegou. Só mesmo amigo da onça pra realizar tal feito. O melhor a fazer era acabar o mal pela raiz. E foi o que Maria almejou; porém, Nadja desconversa, dizendo que precisava de mais alguns dias.

Todavia dias depois, aconteceu o pior: quando Nadja em um de seus pileques bota pra cima de Maria. Nada fora tão nojento. Ela simplesmente declarou que era apaixonada por Maria, que não aguentava ficar fria e insensível em ver Maria chegando em casa contando sobre suas paqueras.

Maria pirou, nessa hora, que não conseguiu nem ouvir o que Nadja falava. Ficou supertriste, empurrou-a e esfregou seu rosto na parede. Não quis mais nem saber de nada. Porque a única coisa que queria era se safar daquela situação. Deu um ultimato a Nadja: Que desocupasse o apartamento antes dela voltar. Saiu arrasada com o que acontecia. À noite, encontra um bilhete de Nadja, com os seguintes dizeres:

Mana,

Desculpe-me pelos transtornos. Espero que o tempo cure sua mágoa. Sei que só dando tempo ao tempo pra ter de volta o seu carinho. Errei. Jamais poderia fazer o que fiz.

Até qualquer dia

Nadja.

Maria leu o bilhete e rasgou imediatamente. No seu coração algo lhe dizia que nunca mais queria ver a cara daquela mulher.

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