O gaúcho bueno estava de olhos e ouvidos nos noticiários e, mal
anunciaram a publicação, em revista de informações,
de uma tal soma de prata recebida pelo partido atualmente no governo, lascou,
verdade ou não, uma possível justificativa:
Sobre os Mísseis Cubanos:
Faz um eito que deixei de feder a cueiro. Não que tenha perdido todos
os odores, pelo contrário, outras catingas adquiri, que provavelmente
não tão infantis e nem tão fragrantes.
Sucede que, entre um empestar e outro, vivi a tal crise dos mísseis soviéticos
que estavam sendo assentados em Cuba, que se estava transformando em uma plataforma
de lançamentos e apontados, diretamente, para o coração
da América do Norte, na crise que ficou conhecida como "os doze
dias que abalaram o mundo".
Só para vos alumiar os recuerdos, devo lembrar que foi um conflito surdo
entre Cuba, Estados Unidos e União Soviética. Mais precisamente
entre Fidel, que não passou, no episódio, de mero coadjuvante
de chapéu na mão, Kennedy e Brejnev.
Por força do dever devo lembrar também que o Brasil foi envolvido,
através de longa carta enviada ao presidente João Goulart, pelo
seu par americano, conclamando-o a emprestar apoio para a invasão militar
da pequena, insipiente e, ao tempo, feliz ilha.
Jango, que era pacifista e, ao contrário do que se dizia e diria, não
alinhado, respondeu com carta ainda mais extensa, repudiando com firmeza a ideia
e, quem sabe, salvando Cuba e também o mundo de uma guerra de proporções
terríveis e avassaladoras.
Cogito, por sinal, que esta carta foi a marca na paleta do nosso ex-presidente
e que enquanto não o derribaram, não sossegaram, nem os norte-americanos
ofendidos, nem a nossa oficialidade patriota e muito menos nossa oligarquia
zelosa.
Mas esta é outra história da qual os livros estão repletos
e ninguém mais lembra nem ninguém mais se importa e acabaram,
os tais mísseis, sendo mandados de volta para a origem, provavelmente
por posta restante.
Mais de quarenta anos se passaram. A União Soviética ruiu como
um castelo de cartas. O arrogante império americano conseguiu levantar
contra si o ódio de todos os continentes. Fidel se criou. Cresceu. Governou
seu país com mão de ferro e ainda está por lá, não
obstante os tombos que às vezes leva. Dizem alguns, detém hoje
uma das maiores fortunas pessoais do planeta. Verdade ou não, jamais
saberemos, uma vez que la isla y el pueblo são pobres como ratazanas
de igreja. O Brasil resistiu. Penou, sofreu, sonhou, mas sobreviveu. Principalmente
sobreviveu.
Acho, ao que tudo indica, que resistiu também um último míssil
em Havana. Decerto que abandonado pelos cientistas militares soviéticos
que lhe retiraram a ogiva nuclear e não julgaram, nem conveniente e nem
econômico, recambiar a lataria.
Pois imagino que o velho e barbudo comandante, quiçá gagá
e decrépito, numa neura qualquer, tenha resolvido, ou para fazer média
com os fortes lindeiros ou de forma intempestiva, vingar-se do Brasil pela posição
coerente que adotou Jango e, esquecido de que guardara seus supostos dólares
no lugar vago da tal ogiva, tenha mandado dispará-lo contra nós
e, por pura casualidade e falta de sorte, atingido, o famigerado míssil,
de forma aleatória, ao invés do Planalto, o comitê do alto
comando do partido dos trabalhadores, então em plena campanha presidencial.
Em face de tudo que ouvi de esfarrapadas explicações, depoimentos
e justificativas, não creio que seus mais zelosos e austeros sectários
deixem de ser convocados pela oposição indignada para falar sobre
o fenômeno e, em assim sendo, ocorreu-me antecipar-lhes esta possível
e plenamente factível versão, que creio, satisfará cabalmente
os inquisidores.
Certo de ter prestado meus bons serviços ao governo, subscrevo-me atenciosamente,
colocando-me ainda ao seu inteiro dispor para idear outras barbaridades e patranhas
que estejam dentro da minha modesta capacidade e limitada possibilidade, que
lhe possam salvaguardar, conquanto suponho temporariamente, o pelego.
Tuquinha
Basílio, 04 de novembro de 2005.
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