Foi culpa do delegado.
Alguém disse que era culpa do banqueiro. O ministro mandou instaurar
um inquérito e o banqueiro se livrou das algemas. Toda a imprensa anunciou
que a culpa era do delegado.
O governo (e o povo) pasmado e perplexo. A moral em queda. A corrupção
manchava até o delegado!
O espião foi convocado pelo deputado, que contestou o senador, antigo
aliado do ministro. O desembargador prestou depoimento, rejeitado pelo ouvidor
que contestou o relatório do espião.
Interrogado o delegado confessou o grampo telefônico, que foi confirmado
pelo advogado do banqueiro. O espião foi ameaçado de morte e passou
a ser amparado pelo serviço de proteção à testemunha.
O banqueiro foi novamente preso, apesar do habeas corpus do ministro, que viu-se
pressionado pelo jornalista, depois de uma entrevista com o deputado.
Nisso o Presidente já estava em maus lençóis, a convocar
um segundo ministro para prestar explicações numa comissão
parlamentar que investigava o delegado.
O advogado do banqueiro conseguiu outro habeas corpus e livrou o cliente das
humilhantes algemas. Os manifestantes rasgaram as fotos do banqueiro em praça
pública.
Temendo a invasão do Congresso, o deputado ordenou a prisão dos
líderes subversivos. Todos algemados. O ministro foi entrevistado na
rádio de notícias.
O delegado era realmente o culpado.
(Nov/08)