A Garganta da Serpente
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Essa é a diferença

(Lira Vargas)

Luzia vem do interior de Minas para a metrópole trabalhar na mansão dos Vieiras. Carmelita, a esposa de Orlando, mulher vaidosa, adorava viajar, usava joias caríssimas, personalidade segura, muito rigorosa com os filhos, demonstrava indiferença aos mesmos e ao marido.

Luzia morena meiga e carinhosa, cuidava dos filhos da Carmelita e organizava os serviços da mansão. Foi lhe dada à função de governanta.

Com o passar dos anos, Luzia passou a ser a empregada de confiança e numa das viagens de Carmelita, Orlando fica doente e a mesma passa a cuidar dele.

Uma noite, Luzia está em seus aposentos. E antes de dormir, ela vai fazer uma vistoria na casa, encontra Orlando sozinho na varanda tomando uma bebida, já meio alterado, dirige um olhar malicioso para Luzia. Começam a conversar e envolvidos pelo silêncio da noite, acontece uma relação de amor. Luzia fica apaixonado pelo patrão.

Luzia passa a se dedicar ainda mais àquele romance sem futuro.

Os anos passam, Carmelita não demonstrava saber de nada, mas trata Luzia com desdém e sempre que podia a humilhava.

Numa festa promovida na mansão, Luzia desempenha com muita sabedoria, a festa nos jardins, convidados empresários, e Carmelita não perde oportunidade de humilhá-la, fazendo alguns comentários de insatisfação.

O romance entre Luzia e Orlando vai ficando cada vez mais forte, ela suporta a maldade de Carmelita por medo de ser mandada embora.

Um dia, Carmelita voltando de uma viajem da Europa, chega com uma novidade, comenta com Orlando que gostaria de mandar os filhos estudarem na França. Luzia estremece, pois as crianças eram muito apegadas a ela. Tiana de dez anos e Leno de doze. Os mesmos quando ficam sabendo da novidade, correm até Luzia e implora que ela interfira na decisão da mãe para mudar a ideia dela. Luzia sofre muito com as crianças, implora a Orlando que não permita, mas Carmelita foi decisiva. As crianças foram mandadas para a França.

Nos anos seguintes, nas férias as crianças retornam, ambas tristes e nervosas.

Orlando conversa com Carmelita dizendo que não, mas mandaria as crianças para a Europa.

Foi uma alegria, Luzia brinca com as crianças nos jardim, fala da saudade que sentiu delas.

Passaram os anos. Um dia Orlando retorna da cidade, com febre. Carmelita estava numa de suas viagens. Luzia chama um médico e foi constatado que Orlando estava muito doente, sofria de uma doença incurável levando-o a morte.

Com o passar dos dias, Carmelita manda as crianças para a Europa, e manda Luzia embora.

Vinte anos depois, Carmelita já idosa, os filhos retornam da Europa casados. Carmelita solitária, mas ainda apresentando a mesma personalidade difícil. Tiana pergunta por Luzia, ninguém sabe onde ela está.

Luzia mora num bairro pobre, também já idosa, solteira. Trabalha numa comunidade de crianças carentes.

Foi localizada por Leno. O encontro muito emocionante. Leno pede a Luzia que retorne para a mansão, informando que Carmelita está sozinha e precisa de sua atenção.

Luzia retorna a mansões, ambas já bem idosas. Carmelita ainda a trata com autoridade, mas já sofrida pela dificuldade da idade.

Todas as tardes, Carmelita, chama a Luzia para conversar, mas a chama como empregada, Carmelita precisa de alguém para ouvi-la, e diz que Luzia era paga para essa função também.

Numa tarde de verão, o céu acumulava nuvens, os pássaros em revoada, o raio de sol por entre as árvores, pintava de colorido a mansão. Luzia olhando para o céu, um olhar de saudade, seu pensamento traziam as cenas mais felizes de sua vida. Viu as crianças correndo pelos jardins, relembrou as cenas dos encontros com Orlando perto do lago, nos bancos dos jardins, em seu quarto, nas noites de lua cheia, quando à noite os unia ainda mais, enquanto Carmelita viajava, os dois se amavam com tanta intensidade que Luzia não se importava de ser empregada da família. Seu rosto agora enrugado pelo tempo vai se transformando naquele rosto meigo, jovem como a trinta anos passado. Seus pensamentos são interrompidos por Carmelita, que ironicamente diz que está lendo seus pensamentos. E num monólogo relata os anos de glamour, das viagens das joias exclusivas dos casacos de pele, relata que sempre soube do romance do Orlando com ela, mas que nunca se importou, pois sua vida de glamour era muito mais importante, fala dos países que conheceu, das festas etc. e pergunta a Luzia, o que foi que ela recebeu desse romance? Um quarto nos fundos da mansão, trabalho pesado anos e mais anos, sem um lugar para morar que não fosse de favor, muito diferente dela, que viveu uma vida de riqueza. "Luzia, nossa vida foi muito diferente".

Luzia olha para Carmelita, as rugas em seu rosto, mas os olhos brilhando de carinho e compreensão: "Você tem razão, essa é nossa diferença".

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