A Garganta da Serpente
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Estrada do conflito

(Lira Vargas)

Celeste mora em Rio bonito, seu marido Orlando é caminhoneiro, eles têm uma filha Laiza, de oito anos.

Foi numa tarde, Celeste dava os últimos acabamentos do vestido de noiva encomendado da filha de um rico fazendeiro do local. O telefone toca e alguém do outro lado da linha pergunta por Orlando. Celeste informa que ele esta no Paraguai trazendo produtos em seu caminhão e que só chegaria dois dias depois.

Na quinta-feira Orlando chegara, estavam jantando quando Celeste comenta sobre o telefonema. Animados, pois haveria mais cargas para Orlando, logo que ela termina de falar, o telefone toca. Orlando atende e alguém informa que precisa falar com ele no bar da esquina. Orlando meio confuso, se despede de Celeste e diz que era mais trabalho.

Retorna cabisbaixo, Celeste pergunta e Orlando informa que não entendeu bem mais que tinha algo para trazer do Paraguai, e disseram que ele não precisaria ir com carga, pois o pagamento seria alto. Celeste olha pra Orlando e diz que não gostou da conversa. Orlando responde que se for carga suspeita, lá mesmo dispensaria.

Orlando pega a estrada na manhã seguinte. Chegando no Paraguai, encontra o contato: era para trazer toras de madeiras, mas no miolo das mesmas, tinha quantidades enormes de cocaína. Orlando ao saber, nega, diz que não aceitava trazer. Os homens, então, informam que ele era o escolhido, por ter muita prática da estrada e já era conhecido na patrulha federal, oferecem uma quantia enorme pelo trabalho. Orlando não aceita e vira as costa e parte. Era uma tarde quente de verão, no rádio tocava uma música melancólica, Orlando cantarolava, para disfarçar a decepção da despesa que tivera de combustível, pois ao negar, nem lembrou de cobrar a viagem. Colado ao painel do caminhão, estava a foto de Celestial e Laiza. Por elas não valia o risco. Orlando entra na divisa do Brasil, quando passa pela rodoviária, cumprimenta os guardas de plantão seguindo seu caminho.

Já anoitecia, quando o celular toca, Orlando atende preocupado. Tendo uma preocupação estranha, era Celeste desesperada, dizendo que Laiza fora sequestrada e que alguém dizia que Orlando deveria retornar e concluir o trabalho que ele negara. Orlando joga o caminhão para o acostamento, pede a Celeste que repita tudo como se não acreditando. Diz para que ela tenha calma, que ele vai voltar. Celeste implora que ele não diga nada a polícia. Orlando retorna. Já era tarde, a noite caia, a preocupação tomara conta de seu semblante, e Orlando numa força desesperada, corria pelas estradas, os faróis iluminavam o suor de seu rosto, o medo o sufocava, mas ele tinha que salvar sua filha.

Chega no local já amanhecendo, os homens o esperavam, um deles cinicamente ri e pergunta se o "pai herói" estava disposto a ajudar. Orlando tenta partir para dar um soco nele, mas é impedido pelos outros. E nesse momento o homem chama os carregadores e começam a colocar a carga na carroceria do caminhão. Orlando sentado num degrau da madeireira pensa sem saída para aquele problema.

É terminada a colocação e Orlando levanta e vai até o homem e pergunta o que fazer com aquela maldita carga. O homem em poucas palavras diz que na estrada ele saberá. Orlando pergunta pela filha, ele responde que quando tudo estiver pronto, ela será devolvida, e que ele ficasse tranquilo, ela estava em boas mãos e bem tratada. Orlando informa que teme pela saúde dela, pois ela tem asma, o homem diz que já fora informado e que ela estava com os medicamentos em mãos. Orlando liga para Celeste para saber como ela está, Celeste chora muito no telefone e diz que aquela era a última comunicação, pois informaram que ela só poderia fazer contato quando Orlando chegasse em casa.

Orlando sobe na cabina, liga o caminhão e sai sem despedir para os homens, na estrada. O suor brotava, Orlando nervoso assiste ao amanhecer, que tantas vezes era o espetáculo mais maravilhoso do dia, mas naquela manhã, Orlando lutava com a sorte. Vai chegando perto da rodoviária, Orlando nervoso aperta o volante do caminhão, o medo vai tomando conta, ele olha para o posto policial e vai se aproximando, quando passava, cumprimentou como de costume os guardas, mas seu olhar encontra o mesmo guarda da noite anterior e este com olhar desconfiado olha o caminhão de Orlando se afastando, Orlando o olha pelo retrovisor, uma ponta de alívio pelo primeiro obstáculo, mas nesse instante o guarda dá um apito para Orlando parar, mas esse finge não entender e segue até poder acelerar, o guarda avisa aos companheiros que em menos de 12 horas ele passara por ali, que era suspeito, mas logo foi tranquilizado pelo colega que poderia ser uma coincidência. Orlando vai se afastando daquele posto. Mas a segurança ainda não era total, pois ainda tinha três posto até ele se livrar de fiscalizações. Foi chegando o outro posto, Orlando olha a foto da esposa e da Filha, olha para o céu e pede proteção a Deus. As árvores contornando a estrada, já não tinham tanta beleza. Orlando passa por uma ponte, o medo vai aumentando, logo adiante tem uma curva, e ele sabe que logo depois mais um posto. Orlando vai chegando, tenta tranquilidade no olhar, e lentamente diminui a velocidade para não parecer suspeito, olhando firmemente para o posto policial, a estrada vai estreitando, avista um policial debruçado no caput de um carro da federal, este levanta a cabeça e num olhar firme, faz sinal para Orlando parar. Este para, o suor escorre, suas mãos tremem, olha para a foto e para o céu. O caminhão parado, o policial o olha nos olhos, Orlando nunca tinha visto aquele policial, este pede que tire a lona da carga, Orlando vai lentamente já se entregando, e o policial olha desconfiado, pede os documentos, vem se aproximando um outro policial, ambos se olham e pergunta: cadê a encomenda? Orlando diz que não sabe de nada. O policial vai até umas toras de madeiras e retira a encomenda. Orlando treme e tenta explicar, mas é algemado. Vai para a cadeia. Fica sem comunicação, não sabe o que aconteceu com sua filha.

Na cadeia recebe a visita de advogado, explica o que aconteceu, este sem acreditar na história de Orlando promete apurar o caso. Os dias se passam, Orlando conta o fato para o colega de sela, juntos estudam uma fuga.

Numa noite, Orlando quando planejara a fuga, percebe que alguém facilitara, ele sai da cadeia e segue pela estrada, arranja uma carona e consegue chegar em casa. Encontra a casa vazia, desesperado vai até o vizinho e pergunta pela família este diz que há muito tempo sua esposa e filha tinham viajado. Orlando perambula pela rua. Toma uma decisão, pega a estrada de carona com outros caminhoneiros e chega até o posto policial em que fora preso. Fica vigiando o movimento e vê de longe o mesmo policial que o prendera. Fica até anoitecer e junto com o colega caminhoneiro, segue o policial até sua casa. Estuda todo o movimento, e descobre que o mesmo tem uma filha e uma esposa. Planeja um sequestro. E no dia seguinte quando o policial vai trabalhar, Orlando invade a casa e leva a esposa e a filha amordaçadas até o caminhão. Do celular faz contato com o policial e exige explicações. Marcam um encontro informando que se acontecesse algo com ele a filha e a esposa seriam mortos. E o policial, apavorado concorda com o encontro. Orlando aguarda o policial num bar na estrada. Este chega com o mesmo cinismo do dia de sua prisão, mas com uma ponta de medo. Orlando prepara um soco, mas se controla. O policial senta, e Orlando marca dez minutos para ele falar, este então explica, que mandara a Celeste e Laiza para o Paraguai dizendo que Orlando fora preso e se ela tentasse contato, ficaria presa e Laiza seria mandada para o juizado de menores. Diz que o que rendeu naquela mercadoria, brevemente ele iria para a Europa, rico e feliz. Orlando pergunta por que fizera isso com ele, se nem se conheciam? O policial, com ar maldoso, diz que só Orlando poderia passar pelo posto anterior sem levantar suspeita. Orlando indignado diz; covarde, e dá um soco no rosto do policial. Nesse momento a sirena de policiais armada pára no bar. O policial levanta as mãos fingindo-se de vítima e aponta para Orlando, os policiais cercam o bar. Orlando o olha nos olhos. E diz: você tá preso. Nesse momento, Orlando sob a mira dos policiais, levanta as mãos e diz: olhem em baixo de minha mesa.

Sob a mesa, havia um gravador.

O policial vai preso. Orlando exige o endereço de onde está sua esposa e filha. No dia seguinte a TV relata o ocorrido. Orlando recebe apoio da polícia e vai até o Paraguai ao encontro de Celeste e Laiza.

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