Sempre que ela queria sair para espairecer, para trabalhar ou até para
dançar, ele a acompanhava sem reclamar. Ele dizia que tinha prazer nisso.
Era seu confidente. Ele ficava estarrecido com tudo que sabia. Mas, ele a amava,
e ela nunca percebera o quanto. Por isso, ele sempre a protegia das pedras dos
caminhos que ela cismava em percorrer, mesmo quando às vezes ela o deixava
de lado fazendo-o sentir-se com a cara no chão e percorria novos caminhos
com outro, que no fim das contas acabava machucando-a da forma mais cruel, deixando-a
profundamente calejada.
Depois de um tempo ela sempre se fazia de arrependida pedindo-lhe perdão
quando ia buscá-lo no seu refúgio, tentando seduzi-lo ao ajoelhar-se
com segundas intenções, mostrando-lhe os tornozelos e o que vinha
debaixo das meias de seda. Logo em seguida reconquistava-lhe a confiança
e voltava a usar sem alguma vergonha aquele que sempre a apoiara, inclusive
para fugir daqueles que a torturavam. Até que no dia em que ela deu a
entender que queria livrar-se dele para sempre, ele não aguentou
e resolveu desabafar. Ele sentia-se arrebentar por dentro, pois sempre lhe fora
fiel e para não dizer que fora o único que a amara assim como
ele, até se dividiu em dois para atender-lhe os anseios de caminhar mais
segura.
Juntou todas as forças e deu um chute para o alto para chamar-lhe a atenção
e dizer-lhe que sempre vivera aos seus pés, protegendo-a dos percalços
do caminho e colocando em risco a sua própria pele. Enfim, perguntou-lhe
mortificado e pisado o porquê de jogá-lo assim no lixo, depois
de tantos anos de dedicação, e dar os seus lindos pés a
um outro par de sapatos?!
(Da série: Amor & Fantasia)