A Garganta da Serpente
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Regra de 3

(Mônica Bragança)

Clichês são sempre cafonas, ultrapassados, mas servem justamente para aquelas ocasiões tão conturbadas. Ou que a sociedade considera conturbada porque não quer enxergar, mas é vivida por tantos milhões de pessoas, em inúmeros lugares, com outras culturas - está ali e ninguém quer ver. Mas será que tem que ser visto? Anunciado? Creio que não! E deste modo vou vivendo. Rubens acha que não devo ficar questionando tanto o caso, mas sou homem, como não questioná-lo, ainda mais da forma que fui criado. Não faço o estilo machista, já que tive apenas a companhia de minha mãe e três irmãs. Meu pai faleceu quando eu ainda era muito menino. E minha mãe, não permitiria nunca que o seu único filho fosse o tipo de homem que não considerasse as mulheres. Meu pai era assim, talvez por isso tenha morrido tão cedo. E tenho medo de não poder seguir minha vida, ou a que acho que tenho direito, por me achar diferente.

Pra esclarecer o início dessa prosa. Somos amigos desde a infância, amigos inseparáveis. Rubens sempre dizia: _ Gabriel, mesmo que você vá morar no Himalaia nunca vou esquecer de você. Rubens não é viado, é até do tipo escroto, e talvez por isso eu goste tanto dele. Ele trabalha num shopping em Realengo, pra ele tá tudo bom, inclusive o seu parco salário, ele é segurança, tudo a ver com a sua personalidade, e sempre conclui nossas discussões com um conhecido clichê: _"Mulheres adoram fardas". Eu trabalho na Bolsa de Valores do Rio, não tenho nada a ver com o biotipo dos homens que habitam esse universo, mas estou lá há 10 anos, e sou um dos melhores, talvez pelo fato de ter sido criado por mulheres, acabei, por pura osmose, integrando meu ser masculino com o que as mulheres têm de melhor, perseverança e frieza, isso quando querem.

Saíamos sempre pra beber na 6º feira, sempre no mesmo bar, à mesma hora e volta pra casa, sempre do mesmo jeito. Tínhamos os mesmos amigos e até, não muito raramente, as mesmas namoradas, sem que elas soubessem disso, é claro! Mas um dia tive que visitar minha mãe em Mendes. Resolvi ir de ônibus, já que estava muito cansado pra dirigir. Convidei Rubens, mas ele tinha um desses compromissos inadiáveis, dormir até bem tarde. A viagem transcorreu normalmente. Cheguei à casa de minha mãe por volta das 11 horas e um bom almoço já estava sendo preparado. Uma de minhas irmãs, Lygia, a caçula, também estava lá e com ela, Gabriela, uma amiga de trabalho. Elas trabalham no Banco de Boston como advogadas. Logo que cheguei fui saudado com muitos beijos, de ambas as partes, excluindo apenas a amiga de minha irmã, que ficava me olhando e sorrindo com a cena. Fiquei um pouco desconcertado, e me vi ruborizado, excusando-me das duas e procurando o mais rápido possível sair daquela situação. Gabriela continuava a me olhar e seus olhos brilhavam, o que me deixou mais vermelho ainda.

O final de semana não teve nada de anormal. Quando já estava me preparando pra ir embora, Gabriela me oferece carona. Lygia não viria com ela, iria ficar mais um dia fazendo companhia pra minha mãe. Digo que não, que não precisava se incomodar, que não era o seu caminho. Eu morava em Jacarepaguá e ela em Ipanema. Totalmente contramão. Mas não deu pra me esquivar e segui com Gabriela que parece ter ficado muito contente com a minha aceitação, o que ainda estava me deixando com a mesma sensação do primeiro dia, quando nos conhecemos.

Fomos escutando Frank Sinatra e fiquei pensando que este gosto musical nada tinha a ver com ela. Ela fazia o tipo despojado, moderninho mesmo, das que gostam de hip hop ou coisa do gênero. Eu sim, apresentava um gosto menos eclético. Poderiam me considerar careta mesmo. Do tipo que não modifica muito seus gostos. Talvez porque achasse complicado gostar de tantas coisas diferentes, apesar de ter convivido com coisas diferentes, e isto devido à minha posição social. Mas não gostava de ostentar, achava ridículo e não precisava.

Ainda em Paracambi, que fica bem longe do meio do caminho, Gabriela resolveu dar uma paradinha numa lanchonete da cidade, pois estava com sede. Como eu não tinha nada de mais urgente pra fazer, topei o convite e paramos. Ao invés de uma água mineral, ela resolveu pedir uma garrafa de cerveja e dois copos. No início eu quis recusar, estava muito cedo ainda pra beber; claro que não, já era meio-dia, mais do que tarde pra começar a beber numa bela manhã, início da tarde de um domingo, que parecia e prometia. Fomos aos copos de cerveja e aos goles, que se transformaram em muitos depois dos primeiros, e já estávamos na 5º garrafa, quando resolvemos pedir alguma coisa pra comer, porque lembramos que ainda tínhamos muita estrada pra rodar, e deste jeito não iríamos chegar em casa, nem que quiséssemos; ambos estávamos quase bêbados.

Comemos um razoável almoço, ainda regado a muita cerveja e não dizíamos nada. Apenas nossos risos falavam. Nossos olhares que misturavam um brilho de álcool e sedução, as línguas que dormentes olhavam os lábios, e fomos ficando, até que começou a escurecer e não queríamos prestar atenção neste doloroso e final fato, tínhamos que ir embora.

Ficamos um pouco mais ali naquela lanchonete esperando o porre passar com muito café sem açúcar e alguns papos descontraídos pra ajudar.

Ela me deixou em casa e seguiu seu caminho, ainda um pouco bêbada, apesar de eu implorar pra ela não me deixar em casa e seguir o seu destino o mais rápido possível, mas ela era irredutível em sua vontade, coisas de advogado, eu concluí.

A primeira coisa que fiz quando cheguei, obviamente foi ligar pro Rubens pra contar de Gabriela, e a primeira coisa que ele me perguntou é se eu havia comido a garota. Bem típico dele esse tipo de pensamento. Quando eu disse que nós ficamos horas bebendo e não fizemos nada, ele me chamou de babaca e disse que tava cansado de tentar arranjar mulher pra mim, que eu não comia ninguém e que se fosse ele, ah! Gabriel, seria diferente, é claro!

Achei graça como sempre dos seus comentários e continuei a minha semana costumeira como sempre.

Já tínhamos combinado o chopp da 6º feira quando recebo um telefonema, isto na 5º feira. _Oi, lembra de mim? É claro que eu não queria lembrar, fiquei um pouco confuso no início, pois nunca havia falado com ela ao telefone, mas era Ela - Gabriela. Sei que no exato momento em que o meu cérebro decodificou sua voz fiquei vermelho como um pimentão. Não tinha motivo pra isso, pensei. Mas será que não? Afinal estava desta maneira porque?

_Oi Gabriela, tudo bem? Como conseguiu meu telefone? Ela falou, quase que sussurrando, com uma voz que parecia que ia gozar. _ Eu, bem, é claro que foi com sua irmã, a Lygia, e olha que ela gostou muito da ideia. _Eu imagino. Comentei. _Ela gosta muito de se meter na minha vida, mas o que você quer? Concluí. _Eu, eu acho que você não gostou do meu telefonema, ou estou enganada? _Não, apenas impressão. Falei meio que duvidoso da minha resposta. _Então ótimo, estou te ligando pra te convidar pra uma festa, que tal? -Ah, não sei não. Posso levar um amigo? O Rubens seria o meu álibi por toda a noite, pensei. Mas ela parece não ter gostado. _Um amigo, eu hein, mas tudo bem, se esta é a forma que você encontrou pra ir a festa, por mim tudo bem, pode levar seu AMIGO.

Combinamos o horário, o local e na 6º feira estávamos nós dois indo pra festa da Gabriela, eu em pânico e Rubens super curioso, pronto pra cantar a garota, e quem sabe, com muita sorte, levá-la pra cama. Ele gostava desse tipo de competição masculina, obviamente, se não tivesse sentimento envolvido. Mas acho que ele nunca foi apaixonado por ninguém, e se foi, escondeu muito bem, mas impossível, não desgrudávamos, éramos os amigos, tipo amigas pra sempre.

Chegamos na festa um pouco além do horário marcado, umas 2 horas de atraso apenas. Nada absurdo vindo de dois homens brasileiros e sem compromisso com alguém. Fomos logo avistados por Gabriela, que estava com um vestido tomara-que-caia vermelho, que lhe caía muito bem no corpo. Ela é dessas mulheres pequeninas, toda jeitosinha, com cinturinha fina, seios proporcionais, nenhuma barriga, e um pezinho também proporcional ao seu tamanho. Toda certinha, do tipo vontade de pegar no colo. Ah, e não podemos esquecer da bunda, que creio eu, tem tudo a ver com o restante, e que restante. É claro que o Rubens foi ficando animadíssimo. Eu, continuava a ficar ruborizado e Gabriela a puxar conversa, a sorrir, a oferecer-nos bebidas, salgados, ela, a festa, a dança, sua boca, seu corpo, suas mãos, e outras mãos naquela confusão de corpos que dançavam freneticamente também bolinavam nossos corpos que precisavam passar pro outro lado toda vez que quiséssemos ir ao banheiro.

Lá pelas tantas, Gabriela some e quando dou por mim, Rubens também. Fiquei imaginando o pior, mas que pior é esse, se ela ficou dando em cima de mim a noite toda e eu fingi que não tava nem aí? O Rubens não se fez de bobo e foi logo passando a mão e deveria estar passando a mão mesmo, e fiquei pensando onde ele estaria com a mão, quando começo a ficar de pau duro e percebo que Gabriela vem em minha direção e que não está com o Rubens, e meu pau, ali duro, num canto da casa onde estava rolando a festa, e pergunto-me, e se ela resolve aproximar-se com mais intimidade, não vai ter como não sentir o volume que está querendo sair de dentro da calça e se expandir, expandir, até se desmanchar em pura porra de prazer. É mais do que óbvio, real, sincero, tudo que seja afirmativo, que ela veio em minha direção, e quando chegou, ficou o mais perto de mim que podia e pôde sentir o volume ali, em riste, querendo ela, apenas ela, e ela estava ali, quase grudada em mim, sentindo o meu pau a querer perfurar-lhe as entranhas e com a sua presença, é claro, ele foi crescendo, crescendo, e com ele o maldito desejo por Gabriela. Ela se grudou e começou a balançar o seu corpinho delicadamente contra o meu pau. Cravou suas unhas nos meus braços e pediu pra que eu colocasse a minha mão no meio das suas pernas e começasse a tocá-la.

Desta hora em diante não vi mais nada, segui os impulsos de Gabriela como se fosse uma marionete comandada por seu dono. Nós dois ali parados, grudados num canto da parede qualquer, num vaivém de mãos, eu escarafunchando sua bocetinha, pois era pequenina como ela, ela a ficar mais do que molhada, como se quisesse inundar minhas mãos a mexer seu corpinho e a grudar no meu pau, que não conseguia mais segurar o tesão e explodiu, fazendo com que eu emitisse um gritinho, abafado pelas mãos de Gabriela que gozava, e gozava, e gozava; cheguei a pensar que era muito líquido pra uma mulher tão pequena.

Depois de refeitos não tinha como evitar os olhares, não nos demos conta que estávamos ali a mercê das expectativas de muitos e um desses muitos era o Rubens, que olhava embasbacado pra gente, sem saber se fazia cara de tesão ou de assustado com a cena.

É claro que ele não ousou um só comentário, mas confesso que achei estranha a sua atitude, ele mais parecia encucado que qualquer outra coisa. Deixei pra lá e também não comentei, marquei de ligar pra Gabi e ela se despediu de nós dois como se não tivesse acontecido nada.

O final de semana foi igual aos outros. Eu e Rubens no nosso habitual programa, mas tinha ficado algo no ar que eu não conseguia identificar. Eu, às vezes, percebia uma olhada estranha de sua parte, e continuava sem entender o porque. Resolvi, lá pelas tantas do Domingo perguntar o que estava acontecendo, e pra que? "Quem fala o que quer escuta o que não quer". Sempre escutei esse provérbio e senti na pele o seu real significado.

Rubens é claro, devido ao seu tipo de ser, o tipo meio escroto que eu relatei no início, veio com uma conversa meio barro, meio tijolo, que me deixou mais embasbacado do que ele quando olhou pra mim e pra Gabriela na festa, depois do ato sexual-paredal de nós dois. Ele veio com uma conversa mole que a garota não era legal pra mim, que ela não inspirava confiança e eu fui logo perguntando e me encrespando, já que ainda guardava a sensação dela em meus sentidos masculinos e queria vê-la outra vez, pra terminar, ou começar, sei lá... Mudei de assunto, e fiquei chateado com Rubens achando que era puro ciúmes, cheguei até a pensar, será que nunca percebi que ele é viado? Logo tirei este despautério de minha mente e resolvi deixar pra lá, talvez ele me explicasse direito qualquer dia.

Liguei na 2º pra Gabi, como combinado, e marcamos de sair depois do trabalho. Obviamente, Rubens não iria e tive que avisá-lo que não iríamos juntos pra casa. Ele não gostou muito e perguntou se eu ia sair com a vagaba, perdão, Gabi. Fiquei puto e disse que ele não conhecia a garota o suficiente, aliás não sabia nada dela pra chamar ela de vagaba. Ele pediu desculpas e eu continuei puto. Encontrei Gabi já eram 8 da noite e ela estava linda, ou sempre foi, e depois do nosso choque térmico ela havia ficado mais linda, mais gostosa, mais tudo, e foi instantâneo, meu pau começou a ficar duro e eu a ficar vermelho que nem um pimentão. Ela se aproximou, ficou na pontinha dos seus pequeninos pés e me deu um beijo na testa, bem esforçado, devido ao seu tamanho mignon. Fiquei com um bico solto no ar, pois estava esperando um beijo na boca, nem que fosse um estalinho. Nós homens modernos ainda temos que aprender muito com essas mulheres modernas. Fiquei sem graça!

Resolvemos ir para um bar na Lapa, resquício da boêmia carioca. Pedimos uma cerveja e alguns petiscos pra morder. Gabi agia como se nada de diferente entre nós tivesse acontecido, e seu comportamento estava me deixando irritado e, ao mesmo tempo, intrigado. Resolvi quebrar a monotonia de nosso encontro e perguntei: _Tá tudo bem com você? Alguma coisa diferente? _Claro que não, tá tudo ótimo e o Rubens como vai? Vocês chegaram bem aquele dia? Como foi seu fim de semana? Ah, estive com Lygia no Sábado, fomos pra uma boate na Barra. Tava legal, conhecemos uns caras. Deu pra dançar bastante, mas nada de interessante. Ficamos de nos ver outra vez, no próximo fim de semana, e vamos à mesma boate, quer ir? Ela falou tudo isso. Fiquei mais atordoado ainda. Por que mulher responde o que nós perguntamos com outras perguntas? Se fosse uma ao menos, mas são várias, e na maior parte, uma não tem nada a ver com a outra. Respondi monossílabos pra ela, e ela, obviamente não respondeu o que eu perguntei de início. Fiquei monossilábico, aliás me senti assim a noite toda. Mas fomos embora tarde da noite, mesmo sem que a noite estivesse animada, eu não estava animado, pois Gabriela estava animadíssima.

Ficamos de nos encontrar no meio da semana, e desta vez juro que ela vai ter que dizer alguma coisa. Mas que coisa quero ouvir: Que ela quer ficar comigo, que ela gosta de mim, esteve com saudades, ou do tipo: "Estive esperando você esse tempo todo!", sei lá, qualquer coisa do gênero. Me achei um bobo machista, e eu que não me achava machista e sim o Rubens, e ele ainda diz pra eu não encucar com o assunto. Mas tenho que tirar isso a limpo. Ele vive me dizendo pra eu não esquentar, que ela não vale a pena. E aí, resolvi tirar a limpo com o meu melhor amigo.

Marcamos de nos encontrar depois do trabalho. Fiquei no mesmo bar esperando por Rubens e ele nada de chegar, liguei pro seu celular, e estava desligado. Ele nunca fez isso comigo, devia ter acontecido alguma coisa séria, ele não me deixaria esperando. Então cansado de esperar em vão, deixei recado com o Hebinho, o garçom do nosso bar e fui pra casa. Fui dirigindo como se estivesse anestesiado, minha mente, essa estava. Eu ficava martelando pensamentos sobre a Gabriela, sobre o Rubens me fazer esperar, sobre o tesão por ela, a bronca por ele, que nem percebi que estava indo pro caminho errado. Perdi o retorno pra linha-amarela e me estrepei, fui parar numa favela, e tive uns maus momentos pra sair de lá, mas meu anjo-de-guarda estava de plantão e retornei ao meu retorno, seguindo ainda meio turbilhonado o meu pensamento e o trânsito que não ajudava muito. Virei a esquina e reconheço o carro do Rubens parado, ele aos beijos com uma morena, que me parecia muito peculiar e de repente tive uma reviravolta no estômago, ao mesmo tempo que percebi que os beijos eram pra Gabriela, que esteve ontem comigo, e estava hoje com ele, e ele me deixou plantado que nem um babaca pra estar ali, parado perto de onde nós morávamos, com a garota que eu pensava ser, ou poderia ser, minha namorada.

Fiquei em pânico, e homens educados quando enraivecidos se tornam mais trogloditas que os mais broncos, e me vi, esmurrando a porta do carro do Rubens, e duas caras, meio que estupefatas, a me olhar, entre risos e caras de não sei lá o que, pois nessa hora, não vi mais nada, e dei um soco na cara do meu melhor amigo e da minha ex-futura-namorada.

Fui acusado de tudo pelos dois. Rubens queria explicar, Gabriela também, mas eu, irredutivelmente, andei pra minha casa, pros meus travesseiros, pois eram 6 e resolvi ligar pra minha mãe. Não consegui falar nada e só ficava chorando, ela, minha mãe, cada vez mais apavorada e eu sem emitir um fonema sequer, só ficava chorando e chorando, estive por muito tempo, depois sem mais a minha mãe, que cansou de esperar e desligou o telefone. Fiquei mais arrasado ainda, e resolvi bater à casa de Rubens para termos uma conversa de homem pra homem.

Obviamente, adoro esta palavra, porque não fui óbvio, pergunto, e não sei a resposta - ele, Rubens, não estava e fiquei mais enlouquecido ainda, achando que os dois depois do susto poderiam estar trepando, meu eterno-ex-amigo com a minha-ex-futura-namorada. Fui pra mesma esquina, e é claro, o carro não estava mais lá, nem vestígio dos dois, nada, apenas eu, parado aos prantos, com os olhos vermelhos de tanto chorar, erguendo os braços pro céu a perguntar: Por que comigo?

No dia seguinte recebi um telefonema de Gabriela querendo me encontrar. No início pensei em xingá-la bastante, mas não me vinham os palavrões e marquei com ela naquele horário mesmo, dane-se a bolsa de valores e os malditos investimentos, que todos percam bastante dinheiro, blasfemei e saí pela porta, como se nada tivesse acontecido. Encontrei Gabi mais bonita do que nunca, queria me odiar por tal sentimento, mas aquele jeitinho mignon de ser, aquele corpinho que me causava tanto tesão, o meu pau duro, que ficava duro só de pensar nela. Ela foi falando com sua vozinha meiguinha, e ela era tão tudo "inha" que fiquei ali, amolecendo, sem nada mais pensar e ela e a me enrolar. Ela estava explicando do Rubens, de nós três, eu sem dar muita atenção, meio que petrificado, meio ruborizado, e ainda com um puta tesão, agarrei-a pelos braços, ergui-a pros meus lábios e quase a devorei, cheguei a ficar sem fôlego, ela com os pezinhos balançando no ar, às 10 horas da manhã, na Cinelândia, me sentindo um artista de cinema de uma fita ruim e ela a me retribuir os beijos, pois foram muitos e ao mesmo tempo tentando me explicar alguma coisa, que eu lá no fundo sabia não queria escutar, ou não deveria, porque, senão, tudo estaria acabado e eu não poderia, nunca mais ficar sem Gabriela. Maldita mamãe, quem mandou me criar deste jeito, tão sensível, tão "mulher". Ficamos ali, pra mim um longo espaço de tempo, na realidade, não mais que uns 15 minutos nesta cena patética, como se fôssemos dois namorados apaixonados, eu poderia estar apaixonado, mas ela não, ela estava aos beijos com o meu melhor-ex-amigo. Coloquei-a no chão e arrisquei uma conversa, meio truncada, meio inaudível. _Você gosta do Rubens? _É claro que sim, ele é uma gracinha, prefiro seus beijos Gabriel, mas gosto dos dele também. Tudo bem, Gabriel, sabe que nunca tinha reparado que temos o mesmo nome? Só que eu sou ela e você é ele. Legal não? Falava Gabriela, meio que aos trancos e barrancos, parecendo estar nervosa, e sua voz saía meio que gritante como se estivesse muito longe de mim, ou se o barulho perto de nós fosse insuportável que precisasse berrar pra ser entendida, mas acho que era agonia mesmo, as mulheres ficam com a voz mais fina quando estão nervosas. Estranho né? E este assunto eu sei de cor e salteado, convivi com mulheres o tempo todo...

Depois e nada resolvido fui pra casa, não retornei ao trabalho e fiquei de procurar o Rubens pra conversar, afinal, não queria terminar uma amizade de tantos anos, o irmão que nunca tive, mas que sabia, era meu, não veio por minha mãe, mas pela mãe dele, que papo careta. Parei e toquei a campainha. Isso ainda era cedo, tinha esquecido que não tinha voltado pro trabalho, o negócio era esperar até mais tarde.

Acabei dormindo e o dia chegou novamente e quando fui falar com ele, já tinha saído, então me dirigi pro seu trabalho.

Lá chegando, tarefa mais embrulhante de estômago, procurei seu departamento e anunciaram pelo microfone, ele logo atendeu ao chamado e quando me viu, ficou sem saber se voltava ou se vinha em minha direção. Já que estava difícil pra ambos tomei eu a dianteira e apertei, o mais apressado que pude, a sua mão. Ele me puxou e me deu um longo e apertado abraço. A cena era cômica, o segurança machista e bronco do Shopping abraçado a um homem, nada convencional. Ficamos assim uns poucos segundos, sentindo a presença dos dois, a amizade de anos e falamos ao mesmo tempo; _Vamos deixar disso, cara! Não vale a pena. Podemos ou deixá-la ou namorá-la, mas se estiver apaixonado tiro o meu time de campo. Demos uma boa gargalhada e saímos pra beber um café, mesmo que a vontade fosse um chopp, mas ainda era muito cedo e ele não podia quebrar as regras do seu trabalho: beber em serviço.

Trocamos algumas informações importantes a respeito da nossa mignon e homens babacas que somos deixamos ao sabor da maré de Gabriela resolver como iria fazer, se ia namorar nós dois ao mesmo tempo, o que nos atiçou muito, ou se ela ia tirar um dia pra cada um, e ali ficamos a especular sobre o nosso amor furtivo, os dois quase de pau duro, conversando sobre nossas intimidades e desejos.

Gabriela fez como queríamos, às vezes trepávamos juntos e transávamos até o amanhecer, nunca tive experiência tão emocionante ao mesmo tempo - quanto tesão um homem pode ter por uma mulher? Outras vezes saíamos em separado, mas todos sabendo quem estava com quem, e tantas outras vezes só nós dois, pra cochichar nossos segredos de alcova.

Nossa regra de 3, como sempre falávamos, e nosso resultado, deu sempre positivo, com algumas baixas, só às vezes. Na matemática a regra diz: "x está para y assim como y está para x".

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