A Garganta da Serpente
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Conto das Formigas

(Magnus)

Era uma vez um homem que não achava certo matar formigas ou qualquer animal.

Ele não matava os ratos e baratas de sua casa. Ele apenas os botava para fora.

Um dia ele começou a pensar na quantidade de formigas que existiam no mundo. E de como elas estava em todos os lugares. Percebeu que na rua existiam bilhões de formigas, todas andando pelo chão. Percebeu também que quando as pessoas andavam nas ruas deviam matar centenas de formigas. A cada passo uma carnificina.

Começou a pensar como seria estar no lugar delas:

Pela manhã sai à rua para trabalhar. E em uma fração de segundo ele e seus colegas são esmagados por algo gigantesco. Vida curta seria esta.

Isso começou a preocupá-lo demais. Não pensava em outra coisa senão nas pobres formigas.

Começou a ter pesadelos. E se enquanto estiver andando pela sua casa pisar em alguma formiga?

Que fará? Como evitará isso? Não pode, elas são muitas. E todas tão pequenas que não poderia vê-las a menos que andasse com o nariz no chão. Até que pensou que o único modo de não matar nenhuma formiga era morrendo. Ou se matando. Mas mesmo se acertasse um tiro em si mesmo poderia matar algumas formigas quando despencasse no chão. Facas também não o ajudariam.

Passou alguns dias imóvel tentando evitar qualquer movimento que pudesse matar alguma formiga.

Até o dia em que pensou em uma forma de não matar nenhum ser vivo. Comprou un desses ganchos usados por pugilistas para prender seus sacos de areia no teto e instalou-o em sua casa.

Passou uma corda por ele e fez o laço. Tapou seus olhos, narinas, ouvidos e boca com um esparadrapo bem forte para assim evitar que qualquer inseto pudesse entrar e acabar morrendo.

Enfim, passou o laço no pescoço e deixou-se perdurar.

Entretanto, um enforcamento não era como ele esperava. E a agonia e a dor que ele sentia eram tantos que acabou por afrouxar alguns esparadrapos. E com isso resolveu afrouxar também o laço ao redor de seu pescoço. Com a boca descoberta, como poderia ele ter certeza de que não mataria nenhum inseto?

Voltou a sua posição anterior, com os braços ao redor das pernas. Segurando bem forte para não movê-las. Sentado no meio da sala. Imóvel. Apenas respirando. Quando pensou algo.

Na água não existem insetos. Não tem como ele matar insetos estando na água. Por alguns minutos ele esboçou um sorriso decadente no rosto. Mas não duraria muito. Estava longe do mar, ou de qualquer rio. Não havia nenhuma reserva natural de água por perto. E mais uma vez seu plano falhou.

Ele só foi descoberto um mês mais tarde. Quando vieram lhe cobrar o aluguel atrasado da casa.

E mesmo assim, o encontraram na mesma posição em que ele estava antes. Segurando suas pernas, com tal força que parecia vivo.

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