Pedro estava debruçado sobre uma ponte de madeirinhas brancas. Admirava
a transparência e limpidez das águas do pequeno riacho, que corria
lá embaixo. Ao longo das margens, canteiros de hortências azuis.
No horizonte, o céu de um incrível azul, chapiscado de tufos de
nuvens que mais pareciam algodão-doce.
Algodão-doce...lembra do tempo de namoro com Carla, os encontros na praça...e
o algodão- doce.
Nesse momento, ele estava ali, à sua espera. Ele foi avisado de que ela
chegaria à tardinha...e ele estava ansioso, como nos velhos tempos, quando
Carla inventava uma desculpa para a mãe e corria à esquina, só
para lhe dar um beijinho, quando vinha da faculdade.
Quase anoitecia. Um denso nevoeiro se instalava às suas costas, em contraste
com a limpidez do céu à sua frente...e é ali que ele fixa
sua atenção.
Aos poucos, Pedro vai distinguindo um vulto, que se aproxima, como se levitasse.
Vai ganhando contornos e formas...é ela! É a sua amada! Parece
uma adolescente saltitante! Ninguém diria que acabou de morrer, cercada
de filhos e netos, aos oitenta anos.Beijam-se e de dedos entrelaçados,
correm de mãos dadas pelos verdes gramados do céu.