Irina e Marcos vão para o sul da Ásia em lua de mel. O avião
faz pouso em Nova Delli. Dentro do táxi, ficam atentos e extasiados com
a excentricidade daquele país. A jovem lembra sorrindo dos temores da
sogra. "Não se aventurem na Índia, as pessoas desaparecem
por aquelas bandas, além do mais não comerão churrasco!
Lá, a vaca é sagrada!" . E lá vinha ela com seu álbum
de recortes de notícias do mundo. Num dos artigos, comentavam sobre o
comércio de escravas brancas e outros terrores.( só que há
mais de vinte e cinco anos)
O ar está pesado, mais de quarenta graus à sombra. O casal ,
excitado diante da realização de um sonho. Estranham o símbolo
da suástica, tão relacionada ao nazismo no ocidente. Ficam sabendo
que lá, é, na verdade, símbolo de auspicidade, bem estar
e prosperidade; bênção acima de tudo. Outro símbolo
indiano é a flor de lótus. Ela cresce no pântano e não
é afetada por ele. Isso representa que devemos ficar acima do mundo material,
apesar de viver nele. As centenas de pétalas representam a cultura da
unidade na adversidade. "Que lindo!" Exclama Irina, depois de ouvir
o motorista explicando em inglês. Aliás, o país foi colonizado
pelos ingleses e, por isso a língua é comum por lá, a mais
falada é o hindu. Existem outras dezesseis línguas oficiais.
Logo nas primeiras ruas, os recém casados apavoram-se com o trânsito.
Não existem sinais e as buzinas funcionam demais. Sorte que os motoristas
são calmos. Chegam, por fim, ao hotel Tivo Gardem. Ocupam uma suite bem
equipada, decoração exótica e colorida. As janelas amplas
dão para a piscina e, mais além, para uma paisagem de beleza indescritível.
Almoçam no restaurante do hotel. Fora os pratos vegetarianos, havia
frango e cordeiro. Mas em todos os lugares por onde passam, existem restaurantes
internacionais, portanto gastronomia é questão de opção.
Prontos para sair, permitem- se afagos e beijos, enquanto aguardam um táxi
com guia turístico. As pessoas olham assustadas, cochicham. Depois, o
guia lhes explica que o contato físico entre homens e mulheres não
é bem visto, portanto, qualquer tipo de carinho deve ser feito privadamente.
O cumprimento mais aceito é o namaste, com as mãos juntas, na
altura do queixo.
A meta é o Triângulo Dourado. Oito dias em: Nova Delli, a capital,
Jaipur, a cidade cor- de - rosa e Agra, a cidade do Taj Mahal e antiga capital
do império mongol. Delli se divide em velha e nova. A primeira, antiga
capital muçulmana, de ruas estreitas e farto comércio de tecidos,
prata e imponentes mesquitas. A nova, criada pelos ingleses, deixa transparecer
esta influência na arquitetura.
Marcos comenta que chegou a conclusão de que o melhor da Índia
é o seu povo. O padrão de vida é aquém do brasileiro.
O que é tão essencial para nós, como geladeira, vídeocassete,
chuveiro elétrico, poucos possuem. Tudo que querem é comida e
espaço para dormir. Irina conclui que o ocidental vive estressado, na
conquista do carro novo, da casa de praia, tanto trabalho para obter bens que
para aquele povo é supérfluo. Podem até não ter
sapatos, a comida é fácil e barata e a disposição
em ajudar os outros é muito grande entre eles.
Numa das ruelas, numa lojinha de bijuterias finas, Marcos pega um cordão
e o coloca no pescoço da esposa. Pergunta o preço. Custa quatrocentas
rúpias. Brincando com o lojista, fala: "Se eu gastar tudo isso,
fico sem dinheiro para o jantar". O homem pergunta quanto gastariam num
jantar e abate a quantia. Envergonhado, Marcos insiste em pagar e encontra relutância
do vendedor em receber. Garante que tem mais dinheiro no hotel e, só
então, a venda é concretizada.
Na saída da loja, uma mulher toma as mãos de Irina. Olha as palmas,
depois os olhos. "Você ainda vai encontrar o amor maior". A
moça sorri, meio sem graça. Puxa o marido pela mão e saem
apressados."Que mulher louca!"
"O indiano acredita que a Índia é mulher cujos cabelos nascem
no Himalaia, os braços se estendem do Paquistão a Bangladesch,
o ventre é a fértil planície central e os pés banham-se
no Oceano Índico" diz o guia, recebendo o riso alegre do casal.
"O Taj Mahal é um monumento ao amor, construído pelo rei
para a sua amada, que morreu prematuramente. Mármore branco decorado
com pedras preciosas". Irina emudece de emoção, diante de
tanta beleza, que mais tarde, torna-se uma das sete maravilhas da modernidade.
A indústria cinematográfica é a maior do mundo. Os cinemas
são a grande paixão do indiano e vivem lotados. Lá, não
se vê invasão cultural como nos outros países, que perdem
a identidade em nome da moda. A literatura e a poesia são forma de conexão
com o divino.
Os oito dias voam. Seguiriam para a Itália e da Inglaterra, retornariam
à vida nova que os esperava. Impossível comparar tudo o que viram
com o mundo ocidental. Há grandes contrastes entre beleza e pobreza,
num mesmo lugar. Eles olham aquelas pessoas tão diferentes e imaginam
o que pensam, o que vivem. Apesar das diferenças, todos são semelhantes
e aprendem uns com os outros. Gente é sempre gente. Pouco importa a roupa
que vista , a língua que fale ou o deus que cultue.
Aeroporto do Galeão, abraços, apartamento novo, cheirando a móveis
novos. Marcos assume o hospital e o consultório particular, onde é
médico urologista. Irina volta à clínica de estética,
onde é sócia do seu irmão, cirurgião plástico.
Três meses depois, Marcos morre num terrível acidente. Passado
o luto, a viúva vai para um convento, dali para o noviciado. Hoje é
Irmã Irina de Maria...
O amor maior, visto lá na Índia, na palma de sua mão:
Jesus.