Na cama desfeita, mil reminiscências de um tempo feliz, que não mais
voltará. Planos ruídos, castelos desabados para sempre. Perdeu amigos,
desaprendeu de cantar, mas não sarou as feridas. Ficou só, mas não
buscou outro par. Em se tratando de amor, só levou porrada. Dores eternas,
marcadas a ferro e fogo.
Sonhou, como sonhou! Queria que ela o embalasse em acalantos, sufocasse-o com
beijos, sufocasse o seu incontido desejo. Na cama vazia, chamas extintas, lembranças
de glórias. Toma a vida inteira por resumo, situações ambíguas,
sentimentos paradoxais...e aquele depois, tatuado de solidão. Morreu o
amor. Mas será que ele um dia teve vida? Como esquecer um passado, se cada
dia, ele se torna mais presente? Como perdoar quem não acha que errou?
Quer se curar do desespero, quer implantar no peito a raiva, no lugar do amor.
Como mudar regras de conduta? Como extirpar o espinho que machuca? Como descobrir
um sabor adocicado no vinho tão amargo que lhe foi oferecido?
E as horas passam lentas, mórbidas, como lá fora, passam as nuvens
e os vultos. E a cama desfeita...e a lembrança do tempo feliz bailando
na alma.Observa, sobre a mesinha de cabeceira, a perseguição inútil
que o ponteiro das horas impõe ao dos minutos. Adentra no sono, como um
náufrago que foge do mar bravio da vida.