A Garganta da Serpente
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Enquanto Sofia reza

(Maria José Zanini Tauil)

Sofia sobe os poucos degraus do altar. Ajoelha em frente ao Santíssimo.Tira o rosário da bolsa e começa a rezar. Lá fora, um ladrão assalta o banco, foge da polícia, capota numa ultrapassagem...e Sofia reza.

Na porta da igreja, uma mulher amamenta um menino já grande; os outros maiores, roem o pão que o diabo amassou; dois ratos disputam as migalhas caídas no chão...e Sofia reza.

O amor se estraçalha no aperto de namorados, no beco da esquina; ele, quarentão, ela, quase menina...e, enquanto isso, Sofia reza.

A chuva cai, as árvores tombam, gritos no ar, o jornal da tv comenta, risos se fecham.Sofia vai para casa. Chega ensopada, de alma lavada.

Um disco arranhando, em setenta e oito rotações, uma Ave-Maria de Gunod, uma vela acesa, joelhos no chão, a prece ininterrupta...Sofia continua a oração.

Num barraco, na periferia, um homem, uma mulher...unem línguas, unem corpos, trocam juras de amor eterno, se dizem, um dono, outra serva, um rei, a outra rainha, uma caça, outro caçador...e por fim, se despedem, com um até - breve, porque em casa, Sofia espera seu homem...rezando.

  • Publicado em: 17/01/2008
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