A Garganta da Serpente
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Traição fatal

(Maria José Zanini Tauil)

A verdade é que Lia não se arrumou para o tombo. Nada planejado; foi se ajeitando, se encostando. Acostumou-se a dar muito e a receber pouco. Foi perdendo partes no decorrer de sua história. Não lutou...nem sabia que havia batalhas a conquistar. Deixou de lado o jogo, as peças, as apostas, não desfrutou da sorte. Houve um xeque-mate...ela perdeu.

Hoje carrega o coração rasgado e remendado. Foi orgulhosa em não recolher seus pedaços que impregnaram as fibras dos tapetes de Téo. Muito tempo se passou, mas as lembranças ainda a arrepiam. Ninguém ocupou aquele assento vazio ao seu lado. A mente voa longe e do vento ainda extrai palavras que ele nunca lhe disse.

Todavia, ele não a excluiu de suas angústias, percebeu que naquele barco minava água e purgou muitas noites sem sono por ter traído a mulher que mais amou nessa vida. Embecilizou-se na busca vã de referências e não encontrou forças no grito que chamava por ela...sua Lia. Esvaiu-se em mediocridades. Numa gaveta úmida do criado-mudo, só aquela foto dos dois amarrotada. Tentou abortar a dor e as lembranças, mas não conseguiu. Continuou a escrever poemas para sua musa, como se ela ainda estivesse ali. O amor continuou a existir, recíproco, mas nunca mais se viram nem se encontraram.

  • Publicado em: 18/06/2010
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