A Garganta da Serpente
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Snokdrr

(Mário Jorge Lailla Vargas)

(a Algernon Blackwood)

1
Um poema nas pedras

O deus Arume perguntou ao rei Meleg, entusiasta da razão e da objetividade:
- Quais são as coisas que estão além da razão?
- Posso te afirmar que a razão é o juízo de tudo. Nada há que possa estar além do alcance da razão, nem mesmo o irracional.
Então o deus soube que o rei não é tão adepto da razão assim.

Gomarábicos
Viagens ao fim de mundo

A norte da ilha Solenud, formando quase um canal, está a pequena ilha Elda, misteriosa e deserta, que nunca foi aportada. Não teve mais que visitantes isolados ao longo de sua história. De litoral pedregoso e escarpado, sempre passou despercebida nas etapas de colonização. Apenas aves e anfíbios habitam ali.

Ilha encantada, onde se avistam seres fantásticos e navios-fantasma, cuja água-doce têm as nascentes noutros mundos. Essas ilhas, dizem as sagas, não são daqui, são pedaços de terra doutro mundo, que desceram àqui e se encaixaram se-sabe-lá por que misteriosa lei física doutro universo e de prisca era.

O explorador Edmarmsomm, único a percorrer a ilha Elda, narra, em suas memórias, que nunca mais cometeria a loucura de percorrer essa ilha como um andarilho solitário. As coisas que vira o deixaram tão impressionado que, no leito de morte, não cessava de repetir A ilha Elda! Uma ilha pequena por fora e grande por dentro. Edmarmsomm constatou que qualquer percurso no interior da ilha resultava muito maior do que deveria. Esse foi um enigma que nunca conseguiu solucionar. E o medo de se perder. Não bastasse a distorção espacial ainda havia a distorção paisagística. Se retrocedendo sobre suas próprias pegadas se encontraria um cenário diferente do que se viu na vez anterior.

Ilha tabu, sempre circundada por hostes migratórias e guerreiras mas sempre poupada, como um jardim dos deuses ou uma morada de terríveis demônios. Como uma reserva florestal sempre a dispor pra deuses esquivos e enigmáticos que nos mantêm ignorantes da verdadeira imagem do mundo e do universo, que mantêm nossos cérebros bloqueados pra que estejamos impossibilitados de compreender nossa física relativista, de modo que tudo é mistério pra nós. Deuses que têm ali seu teatro louco, sua lata de lixo dos sonhos mais loucos ou apenas uma passagem aberta a outro lugar?

Contam, os velhos marujos que passavam ao largo, que poderiam ver com seus binóculos o fantasma do explorador vagando entre as estreitas cordilheiras da costa. Nem por ordem do rei esses homens se aproximavam dessa água revolta no dia da deusa Inga. Nesse dia, se alguma tempestade se avizinha, acendem vela e entoam hino aos deuses do mar e pedem chegada a porto seguro.

Eternamente batido pelas ondas bravias o escarpado rochedo Snokdrr apara no peito a água furiosa que se arremete sem cessar num turbilhão infernal se chocando ao paredão, se fragmentando numa vasta chuva de gotículas que é a lágrima da deusa Elke. Lágrima espalhada pela ventania sibilante que se forma nas inúmeras entrâncias e curvas rochosas dos dois lados de Snokdrr.

Contam, as lendas antigas, que Snokdrr é um livro aberto, um poema nas pedras. Que cada contorno, cada ponta, cada fenda, cada matiz, é uma letra onde só os deuses podem ler toda a história épica que ali se passou. Um deus que ali chegasse poderia ler todo o poema como se lendo um livro de papel. E que as ondas e o vento são como atores que encenam uma tragédia comovente.

No século passado o famoso poeta maltino Teodorus Albis passou um ano acampado na ponta extremo-norte a ilha Solenud, bem diante de Snokdrr. Naquela paragem deserta e tempestuosa elegeu seu recanto predileto. Sentado num rochedo, onde se formava uma marquise que lhe servia de pequeno teto, tinha diante de si a ilha Elda e o rochedo Snokdrr. Ali se punha a meditar profundamente o que aprendera em anos de estudo. Seu grande sonho era poder ler o poema das pedras como o podem os deuses e escrever esse poema na linguagem que os homens podem ler. E o destino que teve esse sonhador que ousou roubar esse segredo dos deuses...

Poema das pedras é o incompleto volume de Teodorus, que foi encontrado junto a seu pertence após sua desaparição. Aqui temos mitos que se formaram em torno do caso. Contam, os poetas, que Teodorus suicidou se atirando às águas revoltas a encontro de Snokdrr. Dia e noite ia compondo a pujante saga dos EEkdaall, que foram habitar a ilha Elda, conforme lia ou pensava ler nos contornos das pedras. Teria sido numa noite tempestuosa. Se lia que a deusa Elke, furiosa por saber que seu amor, o deus Stalls, a abandonara pra viver com uma simples mortal, chorou dias e dias. Então moveu uma guerra sem trégua contra seu antigo amor, com a ajuda de seus anões e duma máquina extraordinária que a fazia estar instantaneamente em qualquer lugar. Vitoriosa, se atirou do alto de Snokdrr, se perdendo nas ondas e sendo atirada contra o rochedo. De fato, a narrativa se interrompe ali, por isso se criou a lenda de que o poeta se emocionou com a tragédia da deusa Elke a tal ponto de também ser levado ao suicídio. O manuscrito parece ser um poema na tinta no sentido de que quem souber ler o contorno das letras poderá detetar a emoção do autor. Há trechos calmos e firmes e outros trêmulos, frenéticos. Sua caligrafia é bela, suave mas, no final, na tragédia da deusa, temos uma forte pressão sobre o papel, letra vagarosa, dolorida, como se chorando amargamente enquanto escrevia. Interessante seria fazer uma análise química pra ver se há vestígio de lágrima sobre o papel.

2
Uma catedral entranhada

Ausência
Como a sombra é ausência de luz
e o preto é ausência de cor
não é possível saber tudo o que está ausente
pois o inexistente também é ausente
mesmo não estando noutro lugar
Estando aqui é ausente doutro lugar
Estando lá é ausente daqui
Inexistindo é ausente em todo lugar
e presente em lugar nenhum

Léuis Escarrol
Paradoxos

Bem escondida no extremo noroeste, oculta por espessa vegetação, cujo único acesso se dá por um labirinto dum desfiladeiro cujas pedras se projetam dezenas de metros acima da água, está a gruta Nskeld, a Nskeldsdruer. A entrada, uma sala gigantesca e magnífica, repleta de estalactites e estalagmites, como dentes de gigantesco tubarão, com o brilho da água cristalina refletindo mil vezes nesses dentes pontiagudos, proporciona um majestoso espetáculo completado pelas paredes filigranadas em tons cinzentos marmorizados, alternados com rochas escuras e lisas que brilham e rebrilham, resultando num tom fantasmagórico, difuso, feérico.

Misterioso brilho, já que a sala deveria estar escura. Donde vem a luz? Se infiltra quimicamente do teto ou provém da radiação das pedras?

O teto alto e abobadado, repleto de estalactites irregulares, parecendo massa escorrida, algumas espiraladas, em matizes dum amarelo amarronzado, completado pelos reflexos azulados da água cristalina nas imponentes paredes curvadas atrás e ao alto, dão ao visitante a impressão de estar numa gigantesca catedral erigida pela natureza na entranha da terra pra ser frequentada por gigantes.

Manuscritos misteriosos dizem que esses nuances e rebarbas da natureza escondem uma linguagem escamoteada aos homens, zelosamente oculta, numa espécie de livro vivo que, como uma lula ou um inseto fazem com sua imagem, produzem um mimetismo que visa esconder dos estúpidos e ou ignorantes o que está escrito. Assim como os construtores das catedrais, cujas irmandades escondiam na decoração esmerada e nas formas precisas seus segredos arquitetônicos, seu número áureo, sua alquimia, assim a gruta Nskeld guarda ciosamente, destinando só aos seres superiores, seu arquivo secreto duma avançada e sutil ciência das forças da natureza.

Tanto a composição química das paredes, do chão, lençóis freáticos, falhas geológicas, determinam as energias telúricas, as chamadas veias do dragão, quanto a forma geométrica de cada elemento: Pontas, sinuosidades, curvas, quebras. Tudo isso cria um ambiente diverso, influenciando profundamente o psiquismo de forma diversa do ambiente comum, do mesmo modo que uma sala fechada e com ar condicionado cria um clima isolado, digamos uma bolha, que diverge do que predomina ao redor.

As lendas da região dizem que é habitada pelos naniques, espécie de duendes, seres esquivos não maus nem bons, que dormem o ano todo, despertando em certas datas cósmicas que são dias sagrados no calendário, sob influência sutil de alinhamentos planetários, condições cósmicas, fases dos satélites ou explosões estelares. Ocasião em que continuam sua obra de registrar os segredos dos deuses nas pedras, esculpindo sutilmente sua escrita geográfica de modo a fazer parecer erosão, caprichos da natureza. Segredos que os homens nem suspeitam, cegos por seu materialismo exaltado, seu racionalismo furioso, seu puritanismo exacerbado. Segredos cujo trunfo também está no fato dos homens considerarem tolice sua concepção.

Assim os deuses, quando voltarem ao mundo, poderão ler, nesses lugares eleitos, em vez de nos livros de papel que os homens procuram destruir a todo custo, seus desígnios, suas técnicas, seus dados, pra dar seguimento a sua atividade neste mundo.

Se afunilando, seguindo a corrente que ladeia o salão como um riacho cristalino por ambos os lados, desaguando em aposentos contíguos, onde vai escurecendo, se perdendo na profundeza da terra e caindo nalgum abismo insondável ou se reunindo novamente ao mar, como uma garganta dum gigantesco ser de pedra, o mais é puro mistério.

Conta a saga nerlandesa que a heroína Gienyria Dryvaniska passou em Nskeldsdruer seu período de exílio e que foi então que obteve a inspiração de como libertar o príncipe Freild, na consequente reviravolta que expulsou os hungrianos.

Petrianus, em Ultragnose, diz que Nskeld é um desses lugares que tem uma ligação com o extermundo, o universo maior, onde este é apenas uma partícula efêmera, onde estão as vontades mestras, geradoras das leis da vida em nosso mundo, cujas ondas de pensamento desembocam como raios os cósmicos que conhecemos. Talvez essas vontades sejam a resultante das psiques dos seres de lá, em cujos sonhos nosso universo é gerado, engendrado, moldado, e que, em certas condições, certos estados cerebrais, podemos acessar alguma faceta desse mundo maior e enriquecer ou aterrorizar o nosso.

3
A moça-da-areia

... pois como certa aranha que imita o perfume da fêmea da mariposa pra capturar o macho que vai, irresistivelmente, a seu encontro, também o homem tem seu predador, que imita o encanto da mulher pra o atrair e devorar em promessa de amor: São as sereias e iaras, que cantam nos mares e nos rios a doce melodia do amor e da morte.

Edwin Keogh
Os livros doutro mundo

Mal chegou a primavera e fomos acampar na proximidade de Snokdrr. Eu e meu amigo Svan somos criptozoólogos. Estivera, há pouco, nas montanhas Moreg buscando o mito da muranha, essas terríveis aranhas com tronco e cabeça de mulher. Nossa missão era percorrer a ilha Elda, abrindo trilha na luxuriante mata central, que contrasta com os estéreis rochedos do litoral.

Uma estreita passagem no flanco de Snokdrr dá acesso, após uma hora de caminhada, ao interior da ilha. Um vasto gramado se estendia ante nossos olhos, salpicado de árvores solitárias, todas diferentes entre si. A grama chegava a nosso joelho mas não muito densa, de modo que podíamos caminhar livremente. Nos aproximamos da mata, então avançamos ao longo do rio Enmel, que corre em sentido contrário a nossa marcha.

No crepúsculo levantamos a barraca numa vasta clareira bem adentrada na mata. Não foi muito confortável a noite sob o vento sibilante e trinados mil, chuvas rápidas e cheias de vento, ventanias oscilantes que se alternam com espantosos períodos de silêncio absoluto.

Na manhã, bem cedo, acordei sonolento com os gritos lúgubres e sensuais duma moça. O som vinha do lado oposto à margem do rio.

- Aaaaaaaaaaaaaá, ai, ai, ui, uuuuuuuuuuuiii!

Uma moça em apuro nesta paragem erma! Um apelo tocante, feminino, sensual, irresistível. A moça poderia estar em apuro com alguma fera selvagem ou se ferido em espinheiro. Levantei e saí correndo como estava, só de cueca. Svan não estava, saíra cedo pra andar na margem do rio. Corri feito louco pra atender ao apelo da moça. Um forte impulso erótico me incitava: Enquanto corria ia tendo uma potente ereção. Vi, ao longe, uma moça branca belíssima e nua, de longo e ondulado cabelo negro e seios grandes e firmes com tetas bicudas, enterrada da cintura a baixo numa poça de areia-movediça. Se movia, toda lânguida, num sensual jogo de quadril, onde jogava o cabelo ora a trás ora a frente. E a voz, a mais deliciosa que se poderia imaginar, voz que jamais alguma mulher conseguiu fazer tão doce e melodiosa.

Atrás de mim Svan corria e gritava como louco mas eu não lhe dava ouvido, tão inebriado estava. Me atirou uma pedra, fui atingido na cabeça e caí tonto. Svan rolou sobre mim e me arrastou de volta, furioso. Estávamos a poucos metros da estonteante morena. Me arrastou a força, desesperado. Ralhava comigo, gritando.

- Estás louco?! Qual mulher estaria sozinha, aqui, nesta terra do nunca e do nada, neste nenhures e nuncares? Sorte teres parado um instante, pasmo com tão maravilhosa visão, senão eu não te alcançaria!

- Que mamilos, que olhos azuis!

- Ainda estavas meio sonolento, ou enfeitiçado. Não sei. Levantei cedo e fui à margem do rio ao ouvir o apelo da moça. Imediatamente coloquei tampão nos ouvidos e corri pra te impedir de a socorrer. Quase cheguei tarde. Onde eu imaginaria que essa criatura existiria aqui? Tomes! Este tampão nos ouvidos ajudará no caso dela recomeçar.

- Então não é uma moça? Queres dizer: Não é de nossa espécie? Contes o que sabes!

- Nas montanhas Moreg há o mito da muranha, uma terrível criatura de nosso tamanho que, da cintura a cima é mulher, e, a baixo, é aranha. Num museu de Jomköpborg há um desenho dum naturalista que viu esse monstro de perto há mais de cem anos. Uma espécie próxima é essa que vimos hoje. Na era da navegação uma colônia de piratas morou muitos anos nesta ilha. Li, na biblioteca de Flamenz, um manuscrito que fala coisas muito curiosas que os piratas viram nesta ilha. Árvores andarilhas tão perigosas quanto ursos, que, carnívoras, obrigavam os acampamentos a um incômodo nomadismo. Consta que numa ponta de praia, a oeste de Snokdrr, há um tronco queimado que foi, a muito custo, incendiado, já que não havia outro jeito de deter tal árvore aterradora. Diziam, os piratas, que havia, na ilha, uma espécie igualmente sinistra, a mordasca, ou a moça-da-areia, que era uma muranha que ficava entocada em poça de areia movediça. Deve haver muitas moças-da-areia nesta ilha, já que há poça de areia movediça em abundância. Numa noite fria um marinheiro bêbado perambulava na praia quando ouviu o apelo duma moça que afundava na areia movediça. Correu até ela e a puxou pelo braço. Ela, então, o puxou a junto de si com uma força incrível, lhe cravou uma mordida no pescoço e afundou com ele. Outros piratas, que ouviram o apelo, correram e chegaram a ver, estarrecidos, o terrível ataque da moça-da-areia. Chamaram todos os outros. Enfiaram enormes estacas na areia, atearam fogo, e nada encontraram. Passado o horror inicial veio um onírico fascínio às moças-da-areia, que, ao mesmo tempo, causaram um horror macabro e um fascínio ao maravilhoso. A moça-da-areia se tornou quase uma mitologia entre os piratas de Snokdrr. Se dizia que a excitação sexual que os brados da moça-da-areia causavam era inimaginavelmente mais intensa do que qualquer mulher poderia inspirar. Os homens queriam descobrir um jeito de cair nos encantos dessa fera sem ser devorado por ela. Um sonho louco. Ludvals, um dos melhores capitães, chegou à conclusão de que valeria a pena levar ao fim o delírio de amor à moça-da-areia. Quando ouviu o grito de socorro da mordasca, num nublado amanhecer, após anos esperando, correu, desvairado, como chegaste a seus braços, braços do monstro. Mas eis que, no instante exato em que lhe rasgava a garganta, tiros atingiram a criatura, que o largou e afundou na areia movediça, de modo que Ludvals escapou, foi resgatado e sobreviveu. Ficou com uma cicatriz na garganta. Nunca mais falou, quer dizer... bem, eu chegarei até lá. Ficou abobado e mudo como quem passou um choque profundo. Todos atribuíam seu silêncio ao ferimento na garganta. Tardassem os tiros um instante e morreria. Um dia, atacado por uma febre, falou que até chegar a ela sentiu um delírio de amor intenso que valia, mesmo só aquele, por todos os sofrimentos da vida mas que ao ser seguro por aqueles braços terrivelmente fortes e fitar aqueles olhos frios e vazios, aquela fisionomia enigmática e de expressão indescritível, todo o inefável sentimento de amor se converteu no mais intenso calafrio, num pavor inominável. Contou isso entre lágrima e soluço e faleceu.

- Então o que parece é que o chamado da mordasca é como uma música, possui um ritmo de onda que afeta o psiquismo do mesmo modo que certas músicas induzem ao êxtase. O chamado da moça possui um ritmo hipnótico, apaixonante. Que tema fantástico pruma ópera essa transcrição instantânea do divino maravilhoso ao macabro horripilante. Que tema vasto e rico pra discussão filosófica!

Comecei a desenhar a moça-da-areia enquanto sua imagem ainda estava fresca em minha memória.

4
As árvores andarilhas

Quando o doutor disse que se há seres superiores que, certamente, são governados pela razão, o deus riu. Como se a razão não fosse uma grossa e pesada camisa-de-força do intelecto.

Petrianus
O êxodo dos deuses

Mudamos nosso acampamento a bem longe da moça-da-areia. Na tarde as nuvens se fecharam, o céu se acinzentou e começou a ventar. Tivemos uma noite de chuva e vento. A moça-da-areia não saía de meu pensamento. Aqueles olhos azuis! Sonhei coisas loucas, incoerentes, que era tudo um engano e que era ela uma doce e meiga donzela.

O vento forte surrava a lona da barraca. Fez frio. Às vezes sentia como um chicote explorando a lona. Temia que ela viera me buscar. Uivos cortavam a noite, o que eu atribuía ao vento passando entre as árvores ou atravessando a garganta dos muitos pequenos túneis que existem aqui. Não é sem razão se ficar apreensivo estando, ali, indefeso no meio daquele turbilhão de sons assustadores que seria a ideal camuflagem a quem quer que fosse entrar em nossa barraca. Um raio próximo produziu um luminoso fleche que revelou a nítida silhueta duma pequena árvore com galhos em posição idêntica a mãos levantadas, terrificamente levantadas, e cipós, tal qual tentáculos como naqueles filmes de terror onde o monstro é uma gigantesca planta carnívora. Ironicamente isso me acalmou e me fez dormir porque a bizarra visão duma árvore terrífica me pareceu um tanto exagerada. Concluí que meu estado mental é que estava exacerbado e que eu deveria dormir logo. Naquela sonolência não me atinara das árvores que andam!

Acordei tarde e Svan mais tarde ainda. Levantou se sentindo fraco. O sintoma era de hemorragia. Que mosquitos o fariam perder tanto sangue? Logo ao levantar notei que as presilhas da porta estavam mal apertadas. As apertei com todo capricho e Svan garante que não se levantou antes de mim. Quando Svan tirou a camisa pude ver, sob a gola, marcas de chicote como feitas por tentáculos dalgum polvo. Pontos esparsos estavam como alfinetados.

- A árvore que apareceu diante de mim no relâmpago...

- Não tem árvore ali!

Svan me assustou. A árvore que vi, na verdade está atrás donde me deitei e um tanto longe, na beira dum barranco. Svan gritou:

- Esta árvore não estava aqui ontem!

De fato. Svan é muito observador e tem o costume de, toda manhã, reconhecer o terreno em volta. Aquela era a árvore que vi, só que com os galhos não levantados ameaçadoramente. Cipós pendiam de seu tronco. Esses cipós eram dela, não eram cipós que treparam na árvore. Analisamos os cipós. As marcas no pescoço de Svan eram o molde exato do lado até onde o cipó se curva.

- As árvores andarilhas! Vejas as marcas em meu pescoço. Então não é só nos lados de Snokdrr que existem. Estamos em perigo!

- Então esta árvore é hematófaga? É como um mosquito? Como uma gigantesca planta carnívora?

- Se há lulas gigantes por que não plantas carnívoras gigantes? Podem ser seres dum lugar onde os animais é que são imóveis e as plantas andam e comem os animais. Um desses estranhos mundos referidos por Edwin Keogh.

Svan ficou repousando. Fui buscar fruta pra ele. Nossa preocupação era voltar ao ponto de partida. Não estamos preparados pra tão enfrentar inusitadas criaturas. Estamos acostumados a nosso mundo antropomorfo, todo catalogado e demarcado, com animais perigosos perfeitamente conhecidos, ao menos assim cremos. O que fazer numa situação dessa? Como avaliar, verdadeiramente, o perigo?

Colhi amora, coquelota e aiestão e deixei de lado os frutos desconhecidos. Voltei à barraca e encontrei Svan, angustiado, do lado de fora, com um livro na mão.

- Vejas no mapa. Deveríamos estar neste ponto, o centro da ilha, mas qual! Parece que não só não estamos na ilha como não estamos em nosso planeta. Cadê Lune e Fande? Hoje seria noite de Lune bela, toda radiosa, com Fande se aproximando no céu, noite típica dos namorados. Fande um tanto apagada, meio fosca. E, no entanto ,não há satélite no céu. E não notaste como nos sentimos mais leves? Com o tanto de sangue que perdi deveria estar um bagaço. Vejas em minha pequena balança manual: Minha mochila completa perdeu um quinto do peso. E vejas como o sol nasce e se põe em lugar errado. Vejas na bússola.

Quase não resisti a objetar mas só o fato da ausência dos satélites no céu e de Artúlia equivocada me fez concordar.

Prosseguimos viagem. A caminho não pude deixar de expressar minha crescente inquietação. Mesmo em pleno dia a região ia me parecendo cada vez mais fantasmagórica. Um sentimento de fragilidade cada vez mais forte. Ia me sentindo pequeno e frágil ante o meio ambiente, não como indivíduo mas como espécie. Ia me sentindo mais e mais insignificante. Ao mesmo tempo uma gama nova de sentimento e emoção parecia ir se produzindo, aos poucos, em mim. Svan, ao contrário, parecia estar sob intoxicação por cafeína. Mais elétrico, enérgico, até um tanto trêmulo. Até me assustei de o ver assim, tão agitado. Perdeu o sono e foi ficando mais loquaz. Sua imaginação se incrementou e a lembrança fluía com extrema facilidade. Foi a planta que o sugou naquela noite que teria injetado cafeína ou coisa similar em seu sangue. Como sabemos, a cafeína atua durante tempo prolongado e a excitação cerebral que proporciona pode desaguar numa depressão terrível.

No fim da tarde nos deparamos com uma caverna singular, cujo cimo era pontudo como um mastro, como se um mastro de pedra estivesse instalado em seu pico. A entrada era composta de três buracos dispostos como olhos e boca, se assemelhando, assim, a uma tosca caveira. Svan se aproximou eufórico.

- Vejas: É ela! A caverna do tesouro de Snokdrr, lenda dos velhos navegadores. Vejas! Tal como descrita na lenda. Então não estava nos rochedos de Snokdrr, como todos pensam, nem sob a água tumultuosa de Snokdrr. Está aqui!

Entramos. Perscrutamos vários compartimentos sem entrar.

Até que vislumbramos coisas brilhantes. Amontoados em todos os cantos baús grandes e pequenos, pedras, joias de todo tipo, objetos de ouro, prata, platina, pérolas e diamantes, muitos diamantes. Ficamos olhando, admirados. Cheguei a tocar uma peça quando Svan me deteve. Falou sobre uma oração que aprendera.

- Esta é hora de oração? - Protestei, mas Svan me explicou que seria prudente executar a oração de licença, oração secreta do célebre navegante Nestor de Montemar. Essa oração possibilita saber se um tesouro escondido está sob proteção de seres fantásticos e se o pode saquear. Muita tragédia poderia ser evitada com essa oração. Perguntei como a oração avisa que o tesouro é protegido.

- É intuitivo. Na verdade é uma canção, uma antiquíssima canção dos magos da Alta Bruna, dos misteriosos monges nacros do arredor das montanhas Moreg. Há uma entonação certa prà cantar. O segredo é que o comprimento de onda da canção se encaixa perfeitamente nas ondas que estão gravadas no local de modo a provocar uma reação branda, algo como uma reação molecular. Quero dizer que as ondas se agrupam e reagem do mesmo modo que, em reação molecular, as moléculas se agregam ou se repelem.

E iniciou uma ladainha monótona e soporífera, como um aboio, numa alternância de óóóóó, ããããã, aaaaa, eeeeen, e outros sons, alguns indefiníveis, outros meio grunhido meio assobio.

Num minuto ouvi um gigantesco varrer, como uma legião de gigantescas vassouras em ação. Corri até lá e vi... as árvores andarilhas! Eram árvores de diversos tamanhos, que arrastavam as raízes como pernas, num andar trôpego. Algumas arrastavam galhos folhosos. Tudo isso produzia aquele sinistro varrer. Uma árvore maior, frondosa, vinha na frente, toda bamboleante. Svan veio gritando:

- Estão protegidas! As joias estão protegidas!

Saímos numa correria desabalada. Já estava anoitecendo e aquela foi nossa noite de pavor. Caiu uma tempestade e nos perdemos um do outro. Não poderia deixar perto de mim uma árvore que fosse, nem um arbusto. Qualquer uma poderia ser uma delas fingindo imobilidade pra me predar.

Escuridão completa. Olhava a todo lado, assustado. Cansei de tanto olhar em volta, com sono e tremendo de frio encontrei um espaço entre dois troncos meio apodrecidos e ali me encolhi, quieto, já que ficar andando seria muito arriscado de topar com um daqueles vegetais ambulantes. Onde estaria Svan? Não posso gritar, não o posso chamar, nem sei se esses monstros podem ver e ouvir. Me encolhi ao máximo, usando minha mochila como escudo. Adormeci um pouco, não sei quanto tempo. Sono leve. Em dado momento ouvi uns galhos que sacudiam fora do ritmo eólico. Uma forma negra, folhosa, tentacular, assustadora, se aproximava de mim, indecisa e vagarosa. Passou e repassou por mim seus brotos e folhas da ponta dum galho. Quase não me tocaram de tanto que usei a mochila como escudo. Fiquei imóvel e prendi a respiração. A planta passou e repassou seus galhos pela mochila, como tateando, procurando algo. Então retomou caminho, passou por cima de mim, arrastando as raízes muito ramificadas e odoríferas.

Quando amanheceu me encorajei a procurar Svan, que passara a noite trepado numa árvore!

Passamos a manhã nos secando e discutindo acaloradamente.

Decidimos voltar no mesmo caminho pra retornar àqui com uma expedição mais aparelhada. Concordei, mesmo tendo em mente que se o tesouro é protegido por entidades fantásticas encontraremos a desgraça se o violarmos.

Eu não parava de me admirar de que Svan se refugiou numa árvore, sendo que eu fugia de todas elas. Não sabia o que pensar, se era um recurso absolutamente genial naquela circunstância ou uma inconsequência feliz.

- Penses nisto: Sobre uma árvore seria o último lugar onde uma árvore nos procuraria.

Não conseguíamos achar nosso caminho de volta. Parecia que a paisagem mudara. Uma apavorante ideia me veio à mente: A de que, a cada tempestade, passávamos a outro mundo, como nas míticas chuvas de paisagem.

5
O mimetismo da inteligência

Não temos prova, evidência sobre isso? Então o Diabo conseguiu nos iludir, nos escamotear mais uma verdade.

Aquelaurus
O pão que o Diabo amassou

O semblante de Svan já começava a me preocupar. O rosto mostrava um caráter extremamente enérgico, os olhos um tanto dilatados, as veias à flor da pele avermelhada. Suava mais que eu.

Me preocupava o fato de que não conseguia segurar as coisas com total firmeza. Até suas marretadas nas estacas eram imprecisas. Não uma imprecisão de bêbado mas antes de alguém muito excitado como se sob alta dose de cafeína. Temi que se acidentasse, por isso me fiz tão solícito em bater as estacas por ele. Svan mal conseguia escrever, apesar de, a todo momento, ter algo a registrar não conseguia manter firmeza. Sua letra saía trêmula. Abreviava o mais que podia, escrevendo com pressa. Aquilo lhe causava imensa angústia, confessava, o não escrever com firmeza e o escrever apressado porque as ideias se atropelavam e algumas fugiam, voláteis como bolhas de sabão. Era como um homem tapando os furos dum dique com as mãos, enquanto tapava um e outro outros furos surgiam. Svan estava todo psicotônico. Não sei se estaria mais sensitivo ao ambiente, se apenas a imaginação é que se acentuava, ou ambos.

- O que tanto escreves? E com tanta pressa!

- A vida é um sonho lúcido.

- Um sonho de quem?

- O sonho dum louco.

- O sonho dum deus?

- Pode ser um jogo duma criança superior, imensamente superior, se divertindo em observar miles de hipóteses de destinos opcionais.

- Certo era quem dizia que o universo não é mais estranho do que imaginamos mas mais estranho do que podemos imaginar.

- Não percebes onde estamos? Onde a realidade está mais explícita, menos camuflada. Aquelas plantas são plantas de daqui a milhões de anos. Plantas adaptadas a se defender do homem. As plantas de hoje estão totalmente indefesas contra o homem porque ele veio doutro mundo: É um fator repentino na natureza. Durante quanto tempo achas que as plantas aguentarão tanto abuso? No futuro as outras espécies criarão mecanismos pra se equilibrar e se defender do terrorismo humano. É o mimetismo da inteligência: Assim como há o mimetismo da luz também há o do pensamento. Acaso não existe um mimetismo pra inteligência? Assim como a borboleta, o lagarto, o camaleão, a lula, e tantos outros, se camuflam com a cor do ambiente, se confundindo com as folhas, os galhos ou o fundo do mar, não haveria seres que se camuflam pra iludir, não a visão, e sim a inteligência do homem? Não haveria seres que se disfarçam em trombas dágua, nuvens, balões-sonda, de modo que se os detectássemos diríamos: Vejas, é um fenômeno natural!? Há quantos milhões de anos nossa espécie existe? Como somos ingênuos em não imaginar que existem nossos predadores. Acaso já não houve tempo pra que certas espécies se adaptassem a nosso intelecto? Certamente sim! Os eventos misteriosos, os arquivos do insólito, o realismo fantástico, o misterioso desconhecido, os ufos, os animais misteriosos são atuações sutis de nossos predadores. A natureza é fantástica. Nenhuma espécie permanece no topo da cadeia alimentar a sempre. Isso é tão difícil quanto uma civilização ser um império dominante eternamente. A vida é um jogo dinâmico, estonteante. As espécies se adaptam de todas as formas possíveis como a água preenche todos os espaços sob seu volume, por mais pequenos e intrincados que sejam. As espécies que se acomodam viram presas, e o homem é uma espécie de intelecto acomodado, estagnado, vaidoso e arrogante. A civilização acabou com o intelecto humano como o conforto esmaece o ardor guerreiro dum povo.

- A luta entre as espécies.

- A relação entre as espécies é como aquele jogo de duas pessoas onde o primeiro coloca a palma da mão sobre a do outro que tira de baixo e coloca em cima, e assim indefinidamente. As folhas de couve desenvolveram ranhuras engenhosas cheias de látex tóxico contra as lagartas, que aprendem a cortar a base pra exaurir o látex sem ser atingidas por ele. Depois a planta cria outro mecanismo. As lagartas são venenosas pros pássaros que as engoliriam mas que acabam percebendo que são venenosas só na pele. Então furam essa pele e sugam o interior da lagarta. A joaninha exala um veneno que a defende das formigas, depois as formigas se tornam imunes a esse veneno e a joaninha desenvolve outro mecanismo, seja um salto de pulga, seja uma carapaça de tatu-bola, seja um cheiro que a faça ser confundida com outra formiga... A vida é um jogo mirabolante.

- E quem seria esse nosso predador?

- Obviamente o predador cuja presa é uma espécie racional se adaptou justamente a não ser percebido, do contrário não seria predador, teria sido exterminado logo no início. As religiões, os dogmas cientificistas, todas as éticas e estéticas e moralismos mil, são condicionamentos maquiavélicos duma espécie enigmática que nos tornou seres profundamente condicionados como porcos num chiqueiro, como uma raça canina cuidadosamente selecionada geração após geração pra adquirir uma aptidão específica. Temos menos dignidade que um rebanho ovino.

Fiquei apreensivo, ao mesmo tempo que maravilhado, com a fabulosa loquacidade de Svan intoxicado pelo cipó. Impossível descrever seu semblante enérgico, o gesto dum dramatismo teatral e o tom de voz que resultavam num conjunto difícil de não assistir com interesse. Nós ali, naquele ermo, naquele fim-de-mundo. Duas pessoas, uma representando um monólogo inspirado que me pareceu a melhor peça das que já vi em qualquer teatro. E eu a plateia mais fascinada que já se sentou diante do palco.

Tive medo de que Svan mudasse de estado. Em que estado se converteria a seguir? Uma depressão lânguida e preguiçosa ou uma agressividade furiosa? Mesmo apreensivo quanto ao desdobramento de seu estado psicotônico não pude deixar de ouvir com interesse as ideias de sua mente que fugia do torpor da sobriedade vulgar e se derramava numa torrente de inspirada loquacidade de poético cientificismo.

- E sabes por que estamos indefesos, dormentes, contra esse predador que confunde nossa mente como outros miméticos confundem nossa vista? Porque se autodenomina Deus. Eis a chave de tudo!

Olhava o céu girando o corpo e levantando os braços vez e outra, enquanto falava como um ator delirante totalmente tomado pela personagem. Como um profeta iluminado por multidão de revelações divinas e empolgantes a lhe tocar profundamente a emoção.

- E os cientistas veem com desdém hipóteses ousadas. Estão fazendo o jogo dos miméticos. O dogma cientificista é o sucesso total do mimetismo da racionalidade. Está tudo perdido! A espécie humana, marionete dos deuses, simulacro esfarrapado de inteligência racional, é um arremedo, o fracasso retumbante da verdadeira inteligência. Até os dinossauros imperaram mais tempo que nós, miseráveis formigas do intelecto.

Deixei que se esbaldasse assim, sem muito interferir, pois em tal catarse processava sua psicotonia em miles formas de expressão. A verdade era que eu o via como um iluminado e não como um louco. As ideias que Svan desenvolvia eram fascinantes.

Fiquei ainda mais intrigado o vendo observar tudo, dum lado a outro, freneticamente, como um gastrônomo que experimenta apressadamente cada ingrediente pra ver se tudo está em ordem. Molhava o dedo de saliva e o expunha ao sopro do vento, aguçava as orelhas ao máximo procurando ouvir sei-lá-o-quê. Até as nuvens não escaparam de sua argúcia. Se deitou e ficou observando as nuvens como se quadros numa galeria de arte. Novamente falou:

- Perdemos nossa argúcia pra detetar fingimento. De tanto nos habituarmos com encenação, seja teatro, cinema, televisão, fomos perdendo a capacidade de perceber quando nosso interlocutor está fingindo. E, no entanto, podemos, até mesmo, detectar fingimento da natureza! Vamos, vamos embora, pois algo não está normal. Corremos perigo se ficarmos aqui.

Levantamos acampamento apressadamente dando uma volta por um desfiladeiro. Quando saímos, percebendo que estávamos num declive embaixo, uma repentina torrente de água invadiu o local onde estávamos. Seríamos varridos por aquele vagalhão!

Espantado por tal espécie de clarividência tomei ainda mais a sério o estado de meu amigo.

- A teoria gaia: Nosso mundo é um ser vivo. Os rios são o sangue, a terra a carne, as pedras os ossos, o mar a linfa.

- E nós?

- Somos o quê? Bactérias, vírus, células? Talvez, originalmente, fôssemos uma célula, quem sabe glóbulos brancos ou células da pele. Nos convertemos em células cancerosas, nos reproduzindo descontroladamente e destruindo tudo. Somos o câncer da natureza. Mas, depois de tanto tempo, finalmente o organismo está reagindo e atacando o câncer. O que temos de fazer pra escapar daqui é entrar em sintonia, nos comportar como parte da natureza, como faziam os antigos, antes do advento de religiões psicopatas. Só assim o organismo não nos detectará como câncer e deixará de nos atacar.

Então dançamos como xamãs, ao redor do fogo, até um quase êxtase. Svan pôs em voga tudo o que sabia sobre ritos antigos. Ficamos num estado mental primitivo, como os dos homens primevos, ou o que se crê que fosse o homem primitivo.

Então tudo amainou. O ambiente já bem menos ameaçador. Parecia que tudo não passara dum pesadelo. Achamos o caminho de volta numa normalidade tal qual na ida. O sentimento de medo e estranheza se dissipara.

Svan disse que levou um mês pra se desintoxicar completamente. Talvez alguns anos depois possamos retomar nossa ideia duma expedição a Nskeld.

Nskeld no despertar dos naniques...

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