O castelo de Maltus, segundo se crê, se situa diante da entrada duma floresta
e quase cercado por uma cordilheira. Mais vasto que uma vila, era habitado por
uma só pessoa. Maltus, um solitário cientista que faz seus estudos
em segredo do mundo, pois estando numa época de forte superstição
jamais poderia dar a entender seu conhecimento.
Segundo a lenda o castelo é o lugar onde se guardou muito de conhecimentos
antiquíssimos que pro mundo se perderam. Tecnologia e conhecimento
tal que tinham de ser cuidadosamente guardados. Maltus teria usado a engenharia
genética em si próprio pra impedir que envelhecesse, assim permaneceria
séculos curtindo o castelo, castelo que por normalmente século
inteiro não via a chegada de viva alma.
A morada predileta de Maltus era o alto da torre cujas janelas tinham vista
a todos os lados. A torre era alta e espaçosa mas só a usava como
morada no verão. Durante todo o resto do ano ficava nos aposentos reais
cuja entrada dava ao grande corredor ornado com armaduras e brasões antigos
e iluminado com tochas e castiçais acesos.
Havia uma miríade de portas majestosas que davam aos aposentos empoeirados
repletos de teia de aranha. Quase todas essas entradas eram recanto proibido,
cheias de segredo e tentação. Recantos de não muito fácil
acesso e pouca iluminação. Uns com entradas falsas, outros com
labirintos, outros com portas pesadas e acorrentadas. O mais fascinante desses
recantos era uma espécie de porão situado ao lado do nada convidativo
cemitério do castelo. Era guardado por uma porta negra e pesada presa
por dois grossos cadeados.
Aquela é a porta dos últimos segredos, a única porta que
Maltus ainda não ousara franquear. Ali estavam conhecimentos desconcertantes
e ainda incompreensíveis. Sabia que muito teria de estudar pra poder
abrir aquela porta, pois imaginava qual desastre terrível sobreviria
de tal instrução precoce. O imenso salão contíguo
aos aposentos reais era o recanto preferido. Livros em quantidade incontável
inundavam todo o local. Maltus ficava horas e horas lendo, escrevendo e pesquisando
avidamente. Ali estavam livros de toda forma e condição: Impresso,
manuscrito, volumoso, ilustrado, empoeirado. Maltus se perdia tanto naqueles
livros quanto em seus papéis.
Adjacente a essa biblioteca estava seu laboratório e a seguir a sala
dos computadores.
Maltus precisava viajar. Decidiu percorrer os rincões do mundo.
Uma longa viagem pra juntar conhecimento. Mas quem tomaria conta do castelo?
Não há criado pra contratar mas pode fazer um substituto. Lera
avidamente sobre a criação dum ser vivo e lhe pareceu extremamente
fácil executar o projeto. Iria criar um ser que fosse seu criado, que
cuidasse do castelo durante sua ausência. O planejaria geneticamente pra
ser estritamente seu subordinado e jamais ter condição do superar,
de se rebelar, de tomar o lugar de seu amo. Se lembrou do que lera na teoria:
Que um ser quanto mais sofisticado mais vivo é. Que se pode programar
um ser e esse ser se sentir, com relação a esse programa, como
sendo tudo isso seu instinto. Desse modo o criador incapacita a criatura de
aprender o que não deve. O criador pode inserir todo um conjunto de memória
fictícia na criatura, de modo que a criatura tem lembrança que
acredita ser real. Assim um ser que acabou de nascer tem lembrança de
infância e tudo, logo não pode desconfiar que acaba de ser fabricado.
Assim procedeu Maltus. Criou alguém que se julga velho morador do castelo
e que não chegou a conhecer Maltus. E se foi. Esteve ausente durante
alguns anos mundo afora deixando Linus morando no castelo pensando ser seu dono,
senhor e único morador. Ao regressar causou espanto em Linus que o tomou
por um intruso. Maltus já tomara a decisão de matar Linus, pois
fora criado só pra essa missão e agora é inútil.
Seria fácil fazer outro. O matou e voltou a reinar solitário no
castelo.
Meses depois Maltus foi surpreendido por um intruso que tinha as chaves de entrada.
Ao encontro do invasor Maltus foi tomado de pânico, pois se viu diante
da morte sem chance de defesa. Aquele intruso (Maltus não sabia) era
quem o criou pra cuidar do castelo enquanto viajasse. Agora está de volta.