A Garganta da Serpente
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O herói da noite

(MaicknucleaR)

Segunda-feira
Achou uma carteira com documentos e alguns reais na calçada.

Quarta-feira
-Opa! Ô, grande, tem um banheiro aqui?
-Depois da máquina de refri, à esquerda!
Abriu a porta. Entrou e trancou.
Viu que havia uma janela sem grades. Era exatamente o que procurava: uma janela frágil e sem grades.
Subiu no vaso, olhou através da frágil janela de alumínio e viu que dava para o quintal de fundo de uma casa.
-Valeu amigo! - Agradeceu.
-Opa!
Deu a volta no quarteirão contando quantas casas tinham até a esquina. Na paralela exata da lanchonete, viu que a casa tinha apenas um muro baixinho e um corredor que ia até os fundos, bem ao lado da janela. Nenhum sinal de cachorro.

Sexta-feira
Aproveitou o grande movimento da casa e foi furtivamente e diretamente ao banheiro. Entrou e trancou a porta por dentro. Da cintura, retirou uma mareta de borracha que estava sendo carregada como se fosse uma arma de fogo. De dentro da cueca, retirou um enorme rolo de fita adesiva transparente.
Insulfilmou todo o vidro com a fita adesiva e escondeu a marreta atrás da caixa de descarga.

Sábado
Estava vestido com um terno devidamente alinhado. Sua postura estava ereta e ostentava o ar de alguém importante.
Sentou-se diante do balcão e pediu o drink mais caro da casa.
Num momento de distração do barman, ele sacou um celular do bolso e encenou uma conversa altamente importante. Falava alto, fingindo estar sendo incomodado pela música, quando, na verdade, era apenas para que o barman ouvisse toda a conversa.
De repente ele berrou:
-O quê?! Conseguimos fechar o contrato?!
Pulou de alegria, beijou o garçom e pôs uma nota falsa de cem reais em seu bolso e gritou:
-Bebidas para todos os presentes no recinto. Por minha conta.
Os mais breacos o chamaram de herói e todos festejaram o ato do forasteiro.
Ele deu os documentos e um cheque que assinou ali mesmo ao barman, e disse-lhe que, se ficasse muito bêbado, para que preenchesse e cobrasse seja lá qual fosse a quantia, mas confessou-lhe que podia gastar até dois mil e seiscentos reais.
Todos beberam e comeram de graça durante quase toda a extensão da noite.
Simulando uma ânsia de vômito, ele rumou ao banheiro. Entrou. Trancou a porta por dentro. Pegou a maretinha que havia escondido atrás da caixa de descarga. Deu uma marretada no vidro que quebrou sem fazer barulho por culpa da fita adesiva. Deu mais exatas quatro marretadas bem dadas no alumínio que transpassava a janela. Passou pela janela e caiu no quintal de fundos daquela casa de muro baixo e nunca mais foi visto na região.

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