Do deserto veio o homem de pedra. Nas terras por que passou deixou seu rastro
de areia e lágrima dos olhos. Para o campo foi o homem de pedra e o verde
lhe surpreendeu. As cores lhe fizeram sorrir e seus braços se abriram
na harmonia da dança dos pássaros. Os frutos lhe cativaram e o
descobrir do doce formou doces brisas no homem que esperava ver o negro. Pois
sua alegria se esvaeceu ao ver as pernas, e somente estas, dos velhos cravadas
no chão, e também de adultos e jovens. Seus membros já
não suportavam seu esbelto corpo, desfalecido pelo ferro dos homens de
bem, e mais petrificado tornou-se. Suas pesadas pálpebras seguraram triste
umidez, e foi o homem de pedra para o rio.
O que seria aquela forte chuva a deitar-se na terra? Não compreendeu
o homem de pedra ao enxergar tão raro elemento tal como as dunas abundantes
de sua pátria. E riu-se infinitamente ao enxergar o desprezo dos homens
de futuros ao rejeitar em seus sonhos as mais simples unidades. Grandes nadadeiras
ganhou o homem de pedra pois os peixes não lhe temiam, e também
grandes brânquias pois o rio se apaixonou. E um só ser se formou:
peixes, rio, alga e homem de pedra. Mas transbordou o rio e em mar e transformou
ao não suportar as lágrimas do homem de pedra. Mas por que choraste?-
perguntou-lhe seu irmão peixe. Para o alto olhou e o amigo avistou o
negro novamente e o sangue de seus parentes ainda mais o escureceu. Assistiram
a mão quadriculada varrer sua nova família para sustentar o supérfluo
dos homens juízes. E sorriu de escárnio a decepção
ao penetrar o, agora, ainda mais petrificado homem de pedra.
Soergueu-se em tristeza e encharcado olhou por sobre seu ombro sem ouvir o diálogo
do rio, então silencioso. Seguiu sozinho e pelo vento deixou-se levar.
Como era suave o frio nas elevadas alturas. Desconheceu tal banho solene na
companhia do sol e sentiu-se noite, no deserto. Como era único aquele
passear no anil e nas leves plumas de nuvens. Mas o destino do homem de pedra
era conhecer o ar dos homens de cinza, e novamente o enegrecer o encontrou.
As plumas alabastrinas assaltadas foram por um grande exército que as
roubou o brilho e as submeteu a um ofuscar. Sufocado pela morte do vento e domínio
das tropas ofuscantes, para a terra novamente foi o homem de pedra em desesperada
descida, pois ainda mais petrificado se tornou. E para a cidade foi o homem
de pedra.
Encontrou o cinza do exército em toda a vida e alma da floresta de pedra.
Encontrou também os homens urgentes, os homens (escravos) do instante,
os homens de cofres e os homens insípidos, encontrou ainda a inércia
do homem e os homens sem voz, os homens sem olhos e os homens que só
enxergam o homem.
Como entristeceu-se o homem de pedra, mas ainda mais melancólico se tornaria
ao enxergar os homens supérfluos, os homens sem letras, os homens de
vidro e os homens de papéis, os homens de máscaras, e não
encontrou nenhum outro homem de pedra. Na cidade não ouviu sorrisos em
ao mergulhou em idílios, não beijou as rosas e sim o frio mármore,
não sentiu o toque do vermelho e não atravessou o azul, ou mesmo
o verde. Mas circulou por entre círculos amarelos, círculos dourados
e reluzentes, desejados não só pelos homens de bem, mas por todos
os homens. E circulou em grande raio à distância da única
cor em meio ao cinza, o amarelo. E o homem de pedra tornou-se mais denso, mais
pedra. E a cada passo na cidade ainda mais outras rochas lhe acrescentavam.
As lágrimas lhe caíram dos olhos e tilintaram ao ricochetear no
chão e rolar por debaixo dos impiedosos pés dos homens, que, indiferentes,
lhas pisotearam. E caminhando foi o homem de pedra para o deserto. Não
houveram sorrisos com a morte da saudade das dunas, pois por demais estava petrificado.
Penetrou por sua casa mas a areia não podia, agora, suportar-lhe o peso.
E afundando foi o homem de pedra até desaparecer na areia. Sua carne,
tal qual a de todos os homens, logo desintegrou, mas seu coração
foi encontrado, feito de pedra, e petrificado pelos homens.