- Uma cachaça! - gritou o frade, chafurdando -se na bebida disse: Essa,
ah! Essa é da boa!
Há pouco havia deixado minha morada a convite dos homens da cidade. A
pouca distância avistei vários homens de batina, pude também
notar alguns escapulários excêntricos, ornados de bordados de mulheres
nuas e órgãos sexuais excitados.
- Interessante, não? - perguntei a um passante - Muito interessante os bordados
daqueles.
- Óh sim! São muito excitantes! Quando vejo aqueles desenhos sinto
logo vontade de pular sobre eles e arrancar-lhes o selo pontífice de
seus traseiros!
- Oh homem! -senti grande asco por aquelas palavras e logo me distanciei perguntando
a outro:
- Não é estranho que estes homens venham aqui? - apontei com os
olhos para os sacerdotes.
- Óh não! Todos sabem que eles sempre vem aqui, só fingem
não saber. Aliás são eles que nos sustentam, estaríamos
falidos sem os eclesiásticos. Para tanto criamos um desconto especial
para que aqui eles gastem todo o dízimo. E para o nosso bem eles realmente
o fazem. E que fortuna nos trazem!
- Óh! mas que bondade essa dos clérigos! Fornecer todo o seu dinheiro
ao dono do prostíbulo, um dinheiro que tão arduamente fizeram
por merecê-lo, e em troca de nada! Vocês são mesmo muito bondosos!
Os sacerdotes e os proprietários dos meretrícios!
- Ah há! - proferiu uma gargalhada maléfica o homem - Venha meu jovem,
há muito tempo viveste como eremita na caverna, agora venha vou lhe mostrar
do que é que os frades gostam.
Passei por um corredor estreito, uma profusão de homens seminus perseguiam
mulheres loucas. O homem dissera que eu podia escolher pelas tabuletas encima
das portas e logo fui lendo-lhe o que estava escrito: Jurema, Tóba-Largo-Mas-Peito-Duro,
Lábios-de-leite, Jurubebão, entre outros. Adentrei a porta por
onde indicava o escrito Jurubebão, encontrei logo uma mulher nua.
- Venha! Venha! Para me tocar em qualquer parte do corpo é só pagar
cem mangos pelo primeiro toque, duzentos pelo segundo, trezentos pelo terceiro
e assim em sequência.
Entreguei-lhe logo cem mangos e para fazer valer o preço escolhi um toque
muito sensual: dei uma esfregada com o osso do queixo nos ombros da moça,
que chegou a gritar até mesmo Eca! nojento e repugnante, de tanto tesão!
- Você não parece ter muita familiaridade com mulheres. Agora são
duzentos mangos!
Pensei bem e administrei a quantia. Realmente era muito dinheiro e precisava
valer a pena então me apressei por faze- lo: pedi à donzela que
se deitasse de bruços e ela o fez sem questionar, deitando-se como um
potro, com o traseiro proeminente e levemente levantado. Eram duzentos mangos
e teria que fazer algo melhor do que dar uma queixada nas ancas da casta e pura
senhorita, então me decidi: rocei-lhe os cotovelos no cabelo fazendo-lhe
bater os dentes no chão e sacolejar toda a cabeça.
Um berro dos infernos ecoou por todo o lupanar, como se lha tivesse arrancado
os olhos com colheres. A moça levantou-se enfurecida mas não pude
saber por que.
- Me dê quinhentos mangos que deixo-lhe tocar os seios o quanto quiseres!-
disse já com a voz decepcionada e um tanto gaga, devido à dor
nos dentes.
- Quinhentos mangos?! - perguntei atônito - Não obrigado, estou satisfeito
- e saí.
Não compreendera os desejos daquela senhorita, mas saí do quarto
com a sensação meritosa de dever cumprido. Quão bem não
me sentia! Foi um dos melhores momentos de minha vida.
Ao sair do quarto abri a carteira e percebi que me restavam exatamente quinhentos
mangos. Ao invés de dois peitos por quinhentos, comprei uma escova de
dente e um ioiô por um mango e meio e me diverti por uma semana.
Desci as escadas e encontrei um cônego estender a mão ao garçom:
- Uma graça para deus.O amigo há de conseguir-lhe um bom lugar
ao sol no paraíso - disse com em tom melífluo, fazendo o atendente
sentir-se mal em não fazê-lo.
Recebeu logo uma nota alta que rapidamente escondeu no peito por debaixo de
sua lingerie vermelha, e saiu.
Referi-me ao mesmo garçom, estendendo-lhe a mão
- Uma farsa para os meus. Hei de conseguir um lugar ao sol no pátio dos
que agradecem.
O garçom enfiou a mão em seu bolso, tirou um objeto negro, e me
cingiu uma coronhada na testa. O coração me doeu profundo, mas
não recebi nenhuma carícia no peito como o cônego.
Levantei- me e me retirei do recinto.