A sombra vai se encolhendo esgueirando-se da luz que lhe feriam seus olhos castanhos,
a luz lhe ardiam os olhos e os faziam pegar fogo, a luz em seu corpo era como
chicotadas de uma penitência estranha e cruel.
A sombra ia de encontro a ele como uma velha amiga, como uma amante, uma eterna
namorada.
O escuro era como um afago tenro e viscoso, um invólucro para protegê-lo
da claridade das lâmpadas que iluminam nosso lado mais escuro.
O escuro era um descanso para seus olhos, ele não tinha medo, o escuro
lhe era familiar como um pai que nunca teve.
Ele sabia que os fantasmas embaixo do assoalho eram ratos, sabia também
que os estranhos ruídos vindos do quintal eram os gatos a revirar o lixo
depois de terem voltado da boêmia e que o estranho assovio que batia na
janela fazendo ressoar por toda casa em um eco ensurdecedor chamando seu nome
era apenas o vento solitário procurando alguém pra conversar.