... que o que disse são fantasias. éramos adolescentes e corríamos
campos de chocolate. coco-caracóis. cria em nossas pernas, supercordas,
a resolver distâncias. elas doíam, mas a dor era breve e boa, que
nos acostumavámos fácil em vícios e poemas e pernas. as
pernas se enroscavam e se perdiam e se encontravam. paletó e gravata,
nós desatados, escharpes liláses.
tinha uns olhos revirados. feito bruma fora de órbita, em meus anéis,
seus anelos. meus longos dedos. a mão água-forte. seus olhos suavam
suores do cheiro de um deus que criamos. suores que tremiam à água-forte
que nos arrebatava as pernas e dedos.
dançávamos ritos circulares, culturas seculares. giravam nossos
sóis e já não tinha medo. dançava. meu corpo era
seu palco giratório. sim, dançava e meus sóis te iluminavam
o caminho, meus carrilhos. tatuava em mim tuas cores, claras e de misturas e
de desenhos e cães.
entendíamos de sonhos e eu já não mais precisava tirar
férias de mim. que também era você e já não
era pranto. o oceano era meu riso, teus dentes, teus seios coloridos de minhas
misturas tatuados em minhas mãos e boca.
minha boca cheia das borboletas que subiam em espirais, a correr pra tuas entranhas
e revolver, miscigenar nossas borboletas que se encontram e bailam, giram. morriam
uma morte instantânea e bela pra se re-revolver em novos seres que nos
tornávamos a cada instante da vida nova e boa.
havia portas dalíanas. não batia que era sua a casa e eu também.
e de chaves nada entendemos. era livre e saía e voltava. pétalas
de meus lírios cobriam a ponte que nos unia. a ponte pegadiça
que tem teus pés como senha. uníamo-nos humanas, animais, deusas
e servas. e era o teu corpo o meu templo. meus braços o teu país.
e já não sou estrangeira, e já não te queda em pré-conceitos.
agora nascemos. os medos e sonhos e prantos e gargalhadas estão inacabados.
te esperando. esperando nossas construções.