A Garganta da Serpente
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Na noite

(Orlando Nascimento)

Seu visual não tinha mudado muito, apesar da grande exploração turística, e da massa de imobiliárias lutando para iludir os simples pescadores à venderem suas casas por uma porcaria de dinheiro que não compra outra em lugar descente nenhum, dos burgueses com seus carrinhos lindos dando voltas e contando vantagens para suas namoradinhas de final de semana e daquele cachorro fresco que cagava cada ponto que achava mais interessante na areia antes branquinha... mas apesar disso e de outras coisas, ela ainda continuava linda.

Chegamos com o nosso velho ar: "Aqui já somos fregueses". Éramos cinco: Dudu, Paulo, Junior, Boca e eu. Caminhamos para lá e para cá, como se estivéssemos procurando alguém. E em um certo ponto muito longe da nossa barraca encontramos uma turminha. Como havia muita mulher na parada, Junior foi logo dizendo que era o melhor lugar para ficar. O boca, de cara, foi levando um fora de uma burguesinha, mas não desanimou. Tinha um carinha tocando violão que entendia mesmo da coisa. Em uma parada para tomar uma cerveja ele pergunta quem está a fim de tocar. Eu sabia, mas fiquei na minha, tinha medo de que eles não gostassem. De repente sou empurrado para o meio da roda por Dudu aos berros:

- Vai lá Coca, tu não sabe tocar cara !! - Todo mundo ficou me olhando dos pés a cabeça. O

cara que tocava antes me olhou e estendeu o violão oferecendo. Novamente Dudu me empurra dou mais alguns passos e pego o violão. Não sabia o que tocar de início, todos me esperavam. O cara que tocava antes abria a lata de cerveja e me olhava. Me arrumei no banco e comecei com "Você é Linda" do Caetano. Umas meninas que estavam sentadas no chão balançavam a cabeça e cantavam baixinho alguns refrões. Junior já cascateava para cima de uma menina de cabelos compridos; Dudu tentava entrar no papo de duas morenas; Paulo já devia estar enchendo a cara em algum bar e Boca procurando comida. Ia acabando de tocar a primeira e uma menina que estava na minha frente pede "Qualquer Coisa". Mas não pelo nome da música, cantou um pedacinho: "...mexe qualquer coisa meio doida, já qualquer coisa doida dentro mexe...". Olhei para o cara que tocava antes e me fez sinal pedindo para que continuasse. Então segui com a música que a menina pediu. Chega um casal e trazem consigo um violão. Ficam de pé, mais ou menos atrás da garota que Junior cascateava. Terminei de tocar a música e dei uma pausa para aquela reboladinha. Fiz que afinei uma corda e comecei a tocar de novo. Voltei com "Sampa", só ia dar Caetano mesmo. O cara que tocava antes me olha sério, virando mais uma vez a latinha na boca. O casal do violão se separa e a menina vai falar com o cara que tocava antes. Fiquei meio sem jeito, podiam não estar gostando ou eu estar atrapalhando algo. Assim logo que acabei Sampa entreguei o violão. Alguns pediram para tocar mais e eu disse que em uma outra hora. O cara que chegou com o violão, depois de um - Vai você! - assumiu sem muito hesitar. Saí do centro das atenções e fui para o meio da turma ver o outro cara tocar. Começou com uma do Djavan. Não sei o nome da música, mas era linda, falava de um querer sagrado, coisa assim. O cara que tocava antes de mim se chega meio de lado e logo depois estamos conversando coisas sem muita importância. Ele perguntou meu nome e eu disse o apelido. Já o dele era Osias. Conversa vai, conversa vem acabamos saindo da turma e fomos caminhar na praia. Chegamos aos poucos em um lugar bem distante de onde estávamos, poucas pessoas transitavam por lá.

- Vamos tomar um banho ? - Pergunta ele olhando em meus olhos e tirando a roupa. Ficou apenas de cueca, era azul.

- E aí, você não vai ? - pergunta simpático, quando nem o deixo terminar e vou tirando a minha.

- Pronto. - digo eu só de cueca, para os curiosos, a minha era marrom.



Logo em seguida ele tirou a sua e seguiu para o mar. Sua bunda branca se destacava na escuridão, mas logo se escondeu quando entrou no mar e uma onda passou. Também tirei a minha e fui. Éramos só nós dois ali naquela hora da noite, naquele lugar cheio de paz. Ele mergulhou e fiquei procurando-o, tentando ver aonde ia surgir. Parecia um peixe humano, um peixe que sorria um sorriso lindo.

Quando saímos da água o frio se fez grande. Vestimos nossas roupas. Ele me convida para a sua casa, tomarmos banho de água doce e comermos algo. Aceitei. Ele sorri e sai na minha frente, parecia procurar algo.

- Perdeu alguma coisa ? - não deu para esconder a curiosidade, perguntei meio engasgado.

- Não, só estou procurando uma estrela do mar. Dizem que quem encontra uma a noite, pode fazer um pedido à Iemanjá que será atendido.

- Você acredita mesmo nisso ?

- Coca não custa nada tentar não é ? - Sorrisos.

Voltamos pelo mesmo caminho que fomos. Passamos bem perto da turma, mas ninguém aparentemente nos viu. Andamos mais um pouco e chegamos. Havia uma tremenda gata de olhos, acho que verdes, sentada no sofá assistindo tv. Ele apresentou-me, disse que era sua irmã caçula. Ela também tinha um sorriso lindo. Usava uma camiseta branca, com algo escrito em inglês. Estava sem sutiã e os bicos de seus peitos estavam quase a furar sua camiseta. Osias pede para que ela arrumasse uma toalha para mim e que eu esperasse um pouco. A casa era linda e espaçosa. Tinha um terraço imenso de paredes com tijolos aparentes, cheio de plantas e redes.

- Olha aqui. - diz ela trazendo a toalha. Peguei e agradeci, coloquei entre os braços e fiquei segurando.

- Você vai tomar banho ? - pergunta ela olhando meu cabelo molhado. Afirmo meio sem graça. Osias estava ao meu lado passando as páginas de um livro de capa preta.

- Ah desculpa Coca ! - exclama sorrindo. - Leva ele no banheiro por favor Sirley.

- Não liga não Coca, ele é assim mesmo. - Ela segura minha mão e me leva por um corredor escuro.

- É aí. A porta esta sem trancar, mas não tem nada não, fica a vontade.

O banheiro era enorme. Entrei no box e encostei a porta. O chuveiro tinha três temperaturas, mas preferi a fria mesmo. Um alívio imenso quando a água bateu na cabeça. Nada como um banho de chuveiro. De repente a garota chega e abre a porta do box. Fico todo sem jeito, ponho a mão sobre o pênis, enquanto ela abre calmamente um shampoo.

- Toma, este é melhor do que aquele que esta no armário.

- Obrigado... - Agradeci da cor de um tomate. Não me olhei no espelho, mas sabia que estava dessa cor por minhas orelhas terem esquentado. Passei o shampoo e era muito bom mesmo. Dei um tempo e depois enxaguei. Quando estava quase terminando o Osias chega, perguntando se podia entrar já estando dentro. Pelo acrílico da porta do box notei que se despia. Logo que tirou toda roupa, arranhou com as unhas das mãos a porta e entrou. Havia o visto nu na praia, mas ali naquele momento parecia nunca tê-lo visto. Meu coração batia forte. Me pediu para passar sabonete em suas costas e que se quisesse passaria na minha também. Primeiramente fiquei sem jeito, mas não parei de esfregar. Ele pedia para descer mais, mais e fui descendo até chegar bem pertinho da sua bunda branca. Comecei a ficar com o pênis ereto, mas tentando o máximo evitar isso. Ele olha para trás e tenho certeza de que havia notado minha situação. Rapidamente me empurra contra a parede com seu próprio corpo. Sua bunda encosta no meu sexo. Lentamente começa a mexer os quadris para os lados e de cima para baixo, vou pro espaço. Vira-se, pega o sabonete da minha mão e começa a passar em meu peito. Solta um sorriso malicioso, enquanto me olha nos olhos. Sinto seu pênis ereto roçar em minha perna. Deixo-me levar. Respiração ofegante, coração descompassado. Baixa-se e cativo contorna meu umbigo com espuma e me aperta o sexo. Vivia o conflito do não querer e querer mais, muito mais. Ele sorri e abraça-me forte. Sinto seu sexo apertar o meu. Suas mãos passearem pelo meu corpo, descerem até minha bunda, onde com o lado da mão esquerda penetra lentamente na cavidade, subindo e descendo suavemente. Era gostoso e passei a fazer o mesmo com ele. Mas volta baixar-se e dessa vez me leva consigo. Ficamos frente a frente, acocorados e de pernas abertas. No desabrochar de um novo sorriso, pega um de meus dedos e leva até seu ânus. Me pede para penetrá-lo o que fiz lentamente enquanto suspirava profundo. Logo após faz o mesmo comigo, suave e lento. Fecha os olhos e começa a se masturbar com a mão esquerda. Também tento fazer o mesmo, mas com dificuldade, nunca tinha me masturbado com a mão esquerda. E o chuveiro inutilmente ligado, e o cheiro de sexo, tesão, invade todo o banheiro. Devagar fomos encostando nossos lábios, pude sentir sua língua grossa roçar na minha, se misturarem. Acelero nos movimentos e ele também. Eu gozo e logo depois posso sentir seu esperma quente bater em meu braço e escorrer até o chão. Juntando-se as espumas do sabonete que eram arrastadas pela água límpida do chuveiro. Depois mais um lindo sorriso e também sorrio. Ficamos em pé e em um abraço forte voltamos a contemplar juntinhos a ducha. Comecei a pensar no depois e ele me deixa e sai com a toalha. Cantarola rindo "Você é Linda", desligo o chuveiro. Vejo a toalha surgir em cima da porta do box. Diz que me encontra na cozinha e alerta para os riscos de um escorregão no chão que ficou todo molhado. Ao bater da porta, saio do box e me olho no espelho. Observo o cara no espelho que a pouco acabava de ter um contato sexual com alguém que nunca tinha visto antes e ainda por cima um alguém do mesmo sexo. Bato no rosto e resolvo sair, procuro a cozinha e encontro Sirley no telefone em uma grande gargalhada. Osias me chama aos acenos por trás de uma coluna circulada por palmeiras. Envoltos em um sanduíche frio conversamos sobre música e trocamos telefone em um pedaço de papel do próprio saco de pão. Acaricia meu rosto e me despeço. Sigo-o até a porta, o vento e o cheiro de mar me recebem do lado de fora. Tchau, digo acenando e ele retribui sorrindo. Sorriso que nunca mais esquecerei.

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