Telefonara a ele para que viesse à noite, no seu apartamento.
Estaria à espera com ansiedade.
- "Quando chegar na entrada do prédio, ligue-me. Saberei que é você e
abrirei a porta. Assim não acordaremos as crianças com a campainha".
O marido fora viajar e só retornaria dois dias depois. Os negócios o
chamavam. Sempre os negócios, a empresa, os empresários, os contratos. Mas
não tinha mais importância. Achara uma maneira de passar o tempo. E estava
excitada com a ideia.
Já o convidara outras vezes, já estiveram juntos tantas outras e a cada
encontro sentia-se mais desejada.
Colocou o vinho na geladeira, providenciou umas amêndoas, arramou as
taças. Foi espiar as crianças e fechou a porta do quarto. Tomou um banho,
perfumou-se e iniciou um ritual que começou pela maquiagem. Pintou os olhos
com sombras de vivas cores, brilhantes, batom vermelho escarlate nos lábios
que ficaram ainda mais carnudos. Estava sedutora. Vestiu meias, cinta liga,
espartilho preto brilhante. Estava parecendo uma garota de programa, bem
como esperava. Isto fazia parte do show. A intenção era essa mesmo. Havia
conseguido. Colocou um roupão transparente, uma sandália alta e foi até a
sala para esperar. Colocou um cd de boleros e ficou bebericando um Martini.
Espiou na janela. A noite estava escura demais, ventosa demais. Fechou a
janela, e as cortinas. Apagou a luz e deixou somente o abajur aceso...
O telefone tocou e ela nem se deu ao trabalho de atender. Dez horas. Era
ele. Abriu a porta da entrada, pelo porteiro eletrônico e esperou com a
porta entreaberta. O elevador estava chegando. Ele estava chegando. Respirou
fundo, mordeu os lábios e preparou um sorriso provocante e sensual. A porta
escancarou e foi seu marido que entrou, com mala e casaco no braço, e um
olhar de surpresa e indagação...