A Garganta da Serpente
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Promessa de Vampira

(Paulo Valença)

A jovem morena, esguia, ergue-se da cama e ruma ao banheiro.

O rapaz permanece no leito, dormindo. Ela entra no banheiro e abre o chuveiro, lavando-se. O Sílvio está cada vez mais afoito, exigindo-lhe poses que ela o satisfaz, mas, no íntimo, não concorda. Julga-se violentada, prostituindo-se. Sim, porque para a grande maioria das garotas, o que pratica pode ser natural, não com ela... Então, o sensato será acabar o namoro que já se prolonga a oito meses, que a faz se sentir "pequena", que...

- Numa hora, resolvo essa parada.

Exclama, em voz baixinha, sendo prática, resumindo-se. Numa hora...

Ensaboa-se devagarzinho, como se quisesse apagar do corpo bem proporcionado, bonito, as loucuras cometidas, e se deixa no banho, relaxando, enquanto a mão nervosa corre o sabonete pelos braços, seios, coxas, o sexo... O Sílvio é um conversador, um cara sem caráter. Com presença, sorridente, e muita "lábia" é mesmo um conquistador. Mas, ele foi longe demais, contudo, ela Silene, não lhe permitiu os "avanços", não o aceitou sem relutar? Portanto... Fecha a torneira e enxagua-se defronte do espelho sobre a pia.

Os cabelos negros, longos, os olhos também grandes, negros, os traços bem definidos do rosto moreno claro... Bonita. Sorri, ante a própria imagem e, de repente, sente o desejo, que a domina. Então, impulsionada por a força que a subjuga nesses instantes, termina de se enxaguar, penteia-se e com os olhos cintilantes, devido à força que a comanda a agir, deixa o banheiro.

Move-se decidida, retornando ao quarto.

Através da janela aberta, as trevas da madrugada se mostram, agasalhando as construções de luzes acesas. O vento circula mais frio. Da avenida embaixo, sobe o som - amortecido pela distância - da moto cruzando-a.

Silene avizinha-se. Sorrindo, deita-se ao lado do parceiro de "curtição" no jogo amoroso.

- Acordado Sílvio?

A voz é sexy, os olhos brilham, a mão de longos dedos, feminina, acaricia os cabelos ondulados, aloirados do rapaz que se limita a sorrir, vaidoso em ser querido pela garota desejada pela turma da faculdade e que o preferiu, entregando-se às suas pecaminosas loucuras...

A mão desce, afaga o pescoço de veia saliente, o rosto se chega e... os caninos mordendo-o, suga o adocicado sangue.

Sonolento, Sílvio se entrega, para depois friccionar a pele, protestar, com a voz enfraquecida:

- Silene, que novidade é essa de me morder de novo?

Então lhe dando as costas, para que não lhe percebe os caninos avermelhados, ela responde:

- Isso faz parte do amor, Sílvio. Não esquenta!

A seguir em silêncio se vestem e abandonam o quarto, em direção ao elevador, que os conduzirá ao térreo do edifício, onde partirão no automóvel. Para retornarem noutra noite? Não, se promete mais uma vez a moça. O Sílvio passou do limite...

- É a lógica da coisa.

- Falou, Silene?

O sorriso de covinhas no rosto, a cintilação no olhar, a graciosidade de mão em pentear a cabeleira rebelde e a voz meiga:

- Está sonhando bem?

- Pensei que tivesse falado...

O carro distancia-se. Sem tardar, o novo dia surgirá, e tudo continuará na sequência natural de sempre.

Com a mão nervosa afagando a cabeça do rapaz, a jovem se despede do que os aproxima. Sim, de já, despede-se, enquanto com vagar, a outra mão de Sílvio fricciona novamente o pescoço, sentindo-o dolorido.

Entendendo-o, Silene foge o rosto de lado e sorri, com malícia.

Com rapidez, o carro ganha a avenida ainda sem o habitual movimento diário.

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