Nivalda era uma mulher casada, sem filhos, costurava para fora, nada de muito
fino, fazia consertos em roupas, bordava, fazia bolsas pra vender. Depois que
se casaram, Nivalda e o marido foram morar na casa da sogra ( não diga
nada leitor, o próximo pode ser você) por falta de dinheiro, por
conveniência e por insistência da sogra que não queria morar
sozinha. A sogra fora abandonada pelo marido há mais de 10 anos, ele
fugiu com a empregada, mais jovem e muda. A sogra quase morreu, a empregada
muda riu silenciosamente como vingança a todas humilhações
que já tinha sofrido na mão da patroa falante. Mesmo depois de
tanto tempo a sogra sempre que podia esbravejava:
- Me trocar por aquela muda idiota! Que ódio!
- No começo Nivalda se sentia grata por ter uma sogra tão generosa
que havia a acolhido em sua casa, mas, generosa era também a língua
da sogra que falava sem parar o dia inteiro, e alto. Nivalda ouvia pacientemente
a ladainha da boa sogra. Porém, nada mais certo que o tempo para desgastar
relações, e assim foi com Nivalda e a sogra. Com o passar dos
meses, Nivalda não achava mais graça nos estúpidos comentários
que a sogra fazia sobre tudo. Falava sobre o tempo, sobre o que passava na televisão,
se intrometia na conversa dos outros, dava palpites no almoço que Nivalda
fazia, nas bolsas que costurava, nas brigas de Nivalda com o marido, ela falava
pelos cotovelos como se entendesse de tudo. E além de falar como um papagaio,
a sogra não sabia ouvir, não prestava atenção no
que Nivalda falava, e isso a deixava possessa! Ainda tinham as vezes que a sogra
resolvia atrapalhar o namoro de Nivalda e o marido:
- Posso assistir este filme com vocês?
- Claro! - respondiam educadamente.
- E então a sogra tagarelava durante todo o filme :
- O que? Quem morreu? Quem é esse que apareceu agora? Ai, como a Itália
é linda! Meu sonho é morar na Itália... - viajava a sogra
sem noção...
- E Nivalda pensava em seu cantinho com ódio : " Vá pra Itália,
tomara que você caia da Torre de Pizza, que seja comida por leões-fantasmas
no Coliseu, ou simplesmente que suma!"
- O marido de Nivalda, este coitado, tinha uma paciência de Jó
com a mãe e poucas vezes falara grosso com a santa. Nivalda não
ousava falar mal da sogra para o marido, afinal "Mãe é mãe!",
mas a raiva de Nivalda estava se tornando cada dia mais óbvia. Toda vez
que a sogra chegava em casa , Nivalda mudava, ficava mal-humorada, já
não dava bom-dia pra sogra, só boa-noite, não queria mais
jogar buraco com ela, dava respostas curtas e grossas para as perguntas da bendita.
- O pior era que Nivalda não conseguia engravidar, desde que se casou,
há pouco mais de 2 anos, ela e o marido tentavam ter um filho, quase
todas as noites eles tentavam com furor, mas nada de Nivalda emprenhar. A sogra
sabia que ela sofria com isso e sempre que podia, com toda sua delicadeza feminina
e ferina, a querida sogra jogava isso na cara de Nivalda, sutilmente as vezes,
mas Nivalda percebia e sabia que a sogra gostava de machucar seus sentimentos.
Sempre em alguma reunião de família alguém vinha com este
assunto:
- E então Nivalda quando é que sai esse rebento?
- Pois é, - falava a sogra, que nunca perdia oportunidades como esta
- já tem quase três anos e nada de neto, Nivalda tem que se apressar
antes que meu filho se canse de esperar um bebe dela e arrume outra...hahahaha
- e ria seu riso raivoso como se tivesse graça.
- Nivalda ficava muda e desejava ser surda pra não ouvir tanta maldade
disfarçada de piada. Nesses momentos ela desejava agarrar o pescoço
da sogra e só soltá-lo depois de muito bem estrangulado, mas ela
aguentava firme sempre na esperança de calar a boca da sogra com
uma esplêndida barriga de grávida, ou então mudando-se dali
para sempre. E Nivalda não deixava por menos, sempre que podia, irritava
a sogra com gemidos bem altos durante o amor, ou tocava em assuntos desagradáveis
"sem querer" como o da ex-criada muda que roubou o marido da sogra.
- E assim os dias se passavam, numa pequena guerra fria de nervos. Um dia porém,
a guerra se declarou entre elas. Nivalda estava na cozinha, fazendo o almoço,
quando a sogra chegou e começou a dar palpites na comida. Nivalda que
já estava irritada porque mais uma vez tinha ficado menstruada, explodiu
de repente:
- Não se meta sua vaca! - estourou.
- Na mesma hora a sogra retrucou, como quem esperava por aquele momento sedenta
de veneno:
- Eu me meto em tudo que quiser pois esta é minha casa!
- Você se mete em tudo porque não tem nada pra fazer sua megera!
- Você tem o que fazer mais não faz, não tem competência
pra ter um filho, deve ser seca por dentro!
- O sangue de Nivalda ferveu, ela foi pra cima da sogra mas nesse momento ouviu
o barulho do carro do marido chegando na garagem e parou, não podia bater
na mãe do marido, isso seria o fim do casamento. Nivalda deu as costas
para a sogra e foi para o seu quarto tremendo de raiva. Mais tarde o marido
que já sabia da briga pediu que Nivalda tivesse paciência com a
mãe que estava meio esclerosada. Nivalda que amava o marido mais que
tudo concordou, pois sabia que não tinha escolha, pelo menos enquanto
estivesse morando na casa da danada. Por um tempo fingiu ser surda, mas não
era, e ouvia a sogra esguichando seu veneno todos os dias.
- Uma certa noite, em que o marido ainda não tinha chegado do trabalho,
Nivalda costurava assistindo a novela quando a sogra chegou e se sentou no sofá
ao lado. Nivalda continuou muda, e a sogra mesmo percebendo que Nivalda não
estava afim de papo começou a narrar a novela, falou mal da passadeira,
do ex-marido, deu palpite na costura, enfim, não interessava o assunto
ou quem era o ouvinte, contanto que ela pudesse falar, falar, falar. Nivalda
que já não aguentava mais este falatório insano não
pensou duas vezes nesta hora. Se aproximou da sogra que continuava falando sem
perceber o que estava para acontecer, e segurou sua garganta com toda força
que tinha. A sogra arregalou os olhos com medo e tentou gritar mas não
teve tempo.
- Quando o marido chegou em casa, Nivalda estava em frente a televisão
costurando como de costume, mas no sofá ao lado sua mãe
- estava estranhamente calada. Ele chegou mais perto atônito e constatou
que a velha estava branca, como os olhos arregalados e a boca costurada. Nivalda
fez uma cara de "fazer o quê?" pro marido e tranquila continuou
costurando em silêncio.